Hoje decorreu uma manifestação em Paris que, para além de muitas centenas de milhar de manifestantes, juntou mais de 40 chefes de Estado e de governo a pretexto do massacre nas instalações do jornal satírico Charlie Hebdo. Uma manifestação aproveitada pelos integristas espalhados pelos vários centros de poder – responsáveis pelo racismo em grande parte do mundo e pela Europa se ter transformado numa prisão de arame farpado para todos que nela querem entrar, autores de leis celeradas e representantes da barbárie cada vez mais evidente daquilo que é hoje o capitalismo – para fazerem passar a sua mensagem de que é preciso reforçar as leis punitivas e securitárias. A hipocrisia em toda a sua plenitude – que os livre-pensadores, muitos de extracção libertária do Charlie Hebdo, não mereciam de modo algum. Por ali andou também Passos Coelho, responsável pelas políticas mais austeritárias e repressivas das últimas décadas em Portugal. Muitas foram as vozes que se fizeram ouvir sobre esta marcha de um mundo que urge combater. Na primeira linha estiveram muitas organizações e grupos anarquistas e libertários que não confundem a solidariedade e a luta contra os fanatismo com o apelo a regras cada vez mais coercivas com que os vários detentores do poder nos querem limitar a liberdade de expressão, reunião e opinião. A todos eles dizemos não. Como diremos não a todos os que, a coberto da emoção e do repúdio pela violência, pretendam “navegar a onda” criando terreno fértil para o aparecimento e para o desenvolvimento dos novos fascismos. Por isso este texto de Yannis Youlountas, publicado no seu blogue e retomado por companheiros anarquistas dos grupos R. Lochu (Vannes) et F. Ferrer (Lorient), da Federação Anarquista Francesa.
Afinal houve uma manifestação privada em Paris para quem tinha cartão Charlie Gold…
*
(contra todos os integrismos: da religião, da nação e do dinheiro)
NÃO, EU NÃO VOU MANIFESTAR-ME COM O PS E A UMP!(*)
NEM COM MERKEL, JUNKER, RAJOY, SAMARAS, CAMERON, DUSK, ORBAN, NETANYAOU !
SIM
Certamente
Estou-me a lixar para os integristas de todo o tipo,
E estou-me a lixar também para os pseudos-apoiantes fachos que não valem mais
MAS
Estou-me a lixar TAMBÉM para os Sarkollande e os Valsuppé que mataram Rémi Fraisse e vários das minhas irmãs e irmãos anónimos de todas as cores
Que fazem buscas aos Ciganos e que destroem as suas barracas e so seus bens pessoais
Estes tiranos de gravata e limousinas que utilizam esta semana a morte dos meus confrades de Charlie
Para justificarem as suas leis securitárias, que provocam desigualdade, destruidoras e repressivas ao serviço do capitalismo selvagem
Estes clones do PASOK e da Nova Democracia que puseram de joelhos milhões de pessoas martirizadas na Grécia
E que provocam com os seus companheiros do PSOE e do PP a expulsão e o suicídio de milhares de famílias desprotegidas em Espanha
Por isso
NÃO
NÂO, É NÃO!
Mesmo que seja em memória do meu amigo Tignous
Eu não me manifesto com esta gente
Que, para além das palavras, são todos na realidade inimigos da liberdade e da igualdade
E que são igualmente integristas assassinos
Integristas do Deus Dinheiro
NÃO
EU NÃO ME MANIFESTO COM O PS E COM A UMP!
.
Eu manifesto-me com os amantes da liberdade e da igualdade
Não com os seus inimigos
Não com os assassinos de Rémi Fraisse
Não com os que fazem as buscas aos Ciganos
Não com os carrascos dos Gregos e dos Espanhóis em luta
.
Estou-me a lixar para os integristas
Estou-me a lixar para a Frente Nacional
Mas estou-me também a lixar para o PS, em que Thierry Carcenac, o presidente do Conselho Geral do Tarn
Acaba de anunciar a sua candidatura às mesmas funções, com o apoio do seu partido, apesar da morte bem sonante de Rémi.
E estou-me a lixar para a UMP, que servirá sem vergonha de trampolim
Para dar o poder a Marine Le Pen em troca de alguns lugares
.
Não se transige com gente desta:
INTEGRISTAS DA RELIGIÃO, DA NAÇÃO OU DO DINHEIRO
Não nos manifestamos ao lado de uns contra os outros
Combatem-se todos
Porque eles servem-se uns dos outros
Para nos esmagar
Para nos impedirem de mudar o mundo
RECUSEMO-NOS A MANIFESTARMO-NOS COM ELES
Desembaracemo-nos deles
Por toda a parte.
(*) Union pour un mouvement populaire – UMP – partido político francês de centro-direita do antigo presidente Nicolas Sarkozy