
Terminamos hoje a publicação das respostas solicitadas junto dos órgãos que integram a Rede de Informação Alternativa. Há um ano atrás quatro projectos e canais informativos, na web e em papel, juntaram-se e criaram uma rede de partilha e troca de informações. Guilhotina.info, jornal Mapa, pt.indymedia e Portal Anarquista formam esta rede que, apesar de todas as dificuldades, pretende romper o gueto informativo em que a comunicação e a informação anti-autoritárias, de base assemblearia, sempre tem vivido em Portugal. Como base para um artigo a ser publicado na próxima edição do jornal “A Batalha” sobre a Rede de Informação Alternativa pedimos a cada um destes projectos a resposta a um pequeno questionário. Depois do jornal MAPA, da Guilhotina.info e do pt.Indymedia, publicam-se agora as respostas do Portal Anarquista.
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Quando, como e porquê surgiu o Portal Anarquista?
O Portal Anarquista, com visibilidade na web (blog com perto de 700 mil visitas, e página no facebook com mais de 6 mil gostos), apareceu durante o ano de 2013, depois da extinção do Colectivo Libertário de Évora, constituído um ano antes. Aproveitando a experiência jornalística de alguns dos seus elementos, o Portal Anarquista assume-se como um espaço informativo e de memória libertária, pretendendo constituir-se como um elo de ligação entre os vários núcleos libertários actuando em Portugal e no Brasil, ao mesmo tempo que procura recuperar a história e a memória do movimento libertário nos países que usam o português como língua oficial.
De facto, notámos que apenas uma parte muito pequena de materiais anarquistas, referentes ao movimento em Portugal, estava na web e decidimos intervir nesse sentido, publicando e disponibilizando todos os materiais, a que fomos tendo acesso, na internet. Ao mesmo tempo procuramos traduzir para português os posicionamentos das diversas estruturas internacionais ligadas ao movimento libertário, bem como os artigos e as publicações dos mais diversos autores – conhecidos ou não – de cariz anti-autoritário.
O Portal Anarquista dá também destaque à agenda libertária e anti-autoritária, servindo igualmente de veículo informativo em cima dos acontecimentos, sempre que necessário (nomeadamente através do facebook e do twitter).
Como vêem hoje a informação alternativa em Portugal?
A informação alternativa ainda tem características muito residuais em Portugal, ao contrário do que acontece no Estado Espanhol, França ou Itália. No entanto, a difusão da internet e das várias redes sociais tem possibilitado a criação de espaços informativos sobre os movimentos sociais, com informação actualizada e em primeira mão, permitindo uma alternativa aos órgãos de comunicação do sistema. É preciso, agora, consolidar esses projectos, dar-lhes maior visibilidade e pô-los em rede, articulando-os, de forma a que se crie um real espaço informativo alternativo, ao serviço dos movimentos sociais de base, autogestionários e horizontais – os únicos que têm possibilidade de transformar a sociedade.
O espaço alternativo e assembleário constituiu-se em Portugal (e Espanha) nos últimos anos em torno dos movimentos de rua e de ocupação de espaços públicos. Houve manifestações aguerridas, que hoje parece não ter condições para se repetirem. Como vêm actualmente este movimento assembleário, de junção de lutas, e alternativo ao sistema representativo vigente?
A luta social em Portugal tem conhecido uma pausa relativa nos últimos tempos sobretudo devido à constituição da maioria Costa, Catarina & Jerónimo. A tutela dos sindicatos e de alguns movimentos sociais pela esquerda tradicional tem ainda muito peso, pelo que a participação do PCP e do BE no apoio ao governo do PS tem retirado algum ímpeto à contestação social. No entanto, a constatação que vai sendo feita pelos trabalhadores mais conscientes de que esta solução governativa representa mais do mesmo e que não constitui qualquer alternativa para a construção de uma sociedade diferente, sem exploração nem opressão, torna-se cada vez mais evidente. Também o agravamento da situação económica e financeira do país e as repetidas notícias da corrupção e do nepotismo que tem envolvido grande parte da classe política e empresarial (uma e outra são a mesma coisa) têm permitido uma maior consciencialização por parte de muitos trabalhadores de que o jogo político não é alternativa ao actual estado de coisas. Espera-se – e nós lutamos por isso – que esta desilusão sobre o sistema político vigente faça surgir formas organizativas de índole anarco-sindicalista e mobilize os trabalhadores mais activos e determinados para o campo libertário.
Perspectivas futuras para os movimentos anti-autoritários, horizontais e de acção directa em Portugal? E para a comunicação social alternativa?
Penso que são positivas. Findo o modelo soviético de exploração e opressão, acabadas também que estão as ilusões sobre o modelo do capitalismo neoliberal e esgotado que está o sistema democrático tradicional, assente no jogo eleitoral e parlamentar, os projectos de base, de índole social, autogestionários, federalistas e de acção directa tornam a estar na ordem do dia, reforçando o peso das correntes libertárias e anti-autoritárias nos mais diversos sectores sociais.
Para que tal aconteça são necessários também órgãos e canais informativos alternativos, que criem pontes e solidariedades. Um e outro movimento, o social e o da criação de redes de informação, caminham par a par e alimentam-se mutuamente. Um não pode existir sem o outro.
O que é que os vossos meios ganharam com a constituição da Rede de Informação Alternativa? Projectos futuros.
A Rede de Informação Alternativa tem sido muito importante na divulgação de iniciativas e tomadas de posição diversas, ampliando o universo de activistas que conseguimos alcançar. É um esforço comum que, numa área onde é sempre difícil consolidar projectos conjuntos, mostra a necessidade de avançarmos ainda mais neste sentido e de congregarmos esforços para que a nossa mensagem passe e chegue a mais gente.
Entre os projectos futuros, que temos entre mãos, está a edição de um jornal digital, com actualização diária, que colija e disponibilize a informação alternativa dispersa na rede e noutros colectivos editoriais, de raiz libertária, que têm vindo a surgir.
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