
A Federação Anarquista esteve reunida no seu 75º Congresso, nos dias 3, 4 e 5 de Junho de 2017 em Laon e Merlieux (Aisne) para abordar a situação mundial e actualizar o seu projecto anarquista.
O capitalismo globalizado e os seus apoios estatistas e religiosos acentuam as pressões sobre a humanidade e o ambiente de forma a garantirem, através de modos de regulação e de produção cada vez mais brutais, o triunfo da lógica do lucro.
A tese da crise permanente do capitalismo que justifica as políticas de austeridade e de regressão social serve para camuflar a realidade: os ricos são cada vez mais ricos enquanto os pobres são cada vez mais numerosos e sobrevivem na miséria. Nisto, o capitalismo cumpre perfeitamente o seu papel.
A arrogância dos capitalistas encorajada por uma verdadeira colonização dos espíritos põe hoje em causa o pacto saído da segunda guerra mundial que instituiu a protecção social e o sistema de reformas pela repartição e pela redistribuição limitada das riquezas, a fim de afastar o espectro revolucionário e fazer crescer uma nova classe dita média e a sociedade industrial e de consumo massificadas.
O sistema capitalista procura sem cessar novas fontes de lucro incarnadas hoje pelo capitalismo verde, a digitalização e a robotização da economia e mesmo o fim do salariato ao individualizar a relação entre o trabalhador e o patrão pela uberização e pelo empreendedorismo.
O capitalismo pauperiza a classe média, cujo primeira utilidade era neutralizar o perigo revolucionário, o que torna a luta de classes mais clara e mais directa.
Em contrapartida, o aparelho repressivo do Estado e o poder das religiões sobre as consciências reforçam-se para imporem o medo e a resignação. O estado de emergência que era uma excepção tona-se a norma, a presença militar nas ruas, a vigilância generalizada e as restrições às liberdades públicas banalizam-se, a polícia militariza-se e radicaliza-se, torna-se facciosa e multiplica as violências e as provocações.
As eleições presidências passadas e as legislativas que aí vêm demonstram uma progressão das tendências soberanista e populista e, ao mesmo tempo, uma vontade evidente de eliminar a consciência de classe ao querer-se suprimir a clivagem esquerda-direita como sublinharam os dois finalistas da última corrida ao Eliseu. O poder colocou no cargo o candidato que era melhor para defender os interesses do patronato e da finança. A sua missão é um programa de demolição social na mesma linha dos presidentes e governos precedentes em marcha pelo desfazer do Código do Trabalho, uma fiscalidade anti-social, a supressão dos regimes especiais e o pôr em prática um sistema de reforma por pontos…
A Frente Nacional ultrapassa os 10 milhões de votos jogando com o medo do outro e erigindo em defensora de fachada dos ganhos sociais. No entanto, o Capital já não tem necessidade da FN para atingir os seus fins: o MEDEF apelou ao voto em Macron.
O projecto de Mélenchon é um impasse. O modelo do líder carismático, novo salvador supremo, messias dos tempos modernos, incarnação do “povo” desviou a questão social do terreno da luta de classes para o da luta pelos lugares. A impostura dos partidos Syriza e Podemos na Europa ou os regimes de Chavez e Maduro na Venezuela testemunham a sua submissão aos diktats capitalistas: o Poder continua maldito.
Se os anarquistas estão voluntariamente ausentes das urnas e do espectáculo mediático, continuam presentes e activos nas lutas e nas alternativas. O nosso anti-eleitoralismo está em linha com a rejeição crescente da classe política e com o interesse, também crescente, pelos mandatos imperativos, a rotação e a revogabilidade dos mandatos e o federalismo libertário.
O papel dos revolucionários é o de desenharem as perspectivas que permitam credibilizar e encarar a transformação social. Nisso o movimento anarquista não capitulou e resta fiel ao seu projecto revolucionário: o socialismo libertário sem fronteiras.
Para isso, a difusão das nossas ideias e das nossas práticas deve ser o nosso objectivo essencial, aprendendo com as diversas lutas e fazendo o que for necessário para questionarmos e reactualizarmos as nossas propostas e as nossas práticas.
Os tempos mais próximos necessitam a mobilização de todas as forças ligadas à emancipação. A Federação Anarquista reunida no seu 75º Congresso tomará o lugar que é o seu neste combate e apela aos indivíduos e aos grupos que partilham o nosso projecto comum para se lhe juntarem e a reforçarem.
Tradução: Portal Anarquista
aqui: https://www.federation-anarchiste.org/
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