
Três grandes sectores da economia privada em Portugal estão neste momento em luta, com greves efectivas ou programadas, em defesa dos postos de trabalho e dos direitos adquiridos. São lutas importantes para o movimento operário em Portugal, porque não se verificam no sector do Estado (onde, regra geral, os sindicatos oficiais têm as “costas quentes”) e porque envolvem novos sectores de trabalhadores, dispostos a enfrentarem os patrões e, às vezes, as hierarquias sindicais, para garantirem seja os postos de trabalho, seja melhores condições, para si, mas também para a sociedade em geral.
Mas vamos por partes:
– A greve dos trabalhadores dos CTT dos últimos dois dias era um imperativo. Privatizados pelo anterior governo, a patrões que apenas estão interessados na vertente bancária da empresa, o serviço dos CTT tem-se vindo a degradar continuamente, cada vez com mais filas nos postos de correio e menos celeridade na distribuição, com menos cobertura geográfica e agora – a cereja em cima do bolo – com a ameaça de 800 despedimentos. É pena que a greve tenha sido pouco mais que simbólica, com a maior parte das lojas a funcionar e com a distribuição de (algum) correio nalgumas zonas. Uma greve destas não pode ter a duração de dois dias. Para ser efectiva tem que se arrastar no tempo e causar verdadeira mossa. Caso contrário, pouco efeito terá. Mas os sindicatos oficiais, de compromisso com o “status quo”, pouco mais têm a propor do que acções simbólicas que não mexam como actual estado de coisas (os negócios com a “geringonça” assim o exigem).
– As grandes superfícies comerciais e de distribuição, nomeadamente os hipermercados, vivem uma situação diferente, com a imensa maioria dos trabalhadores imersos numa absoluta precariedade, com horários indefinidos, numa fase de autêntico capitalismo selvagem, sem rei nem roque, onde a exploração e a utilização abusiva de mão de obra contratada a salários mínimos é a norma. Qualquer luta aqui, ainda para mais nesta época de consumo desenfreado, é extremamente difícil e, de facto, tem que ser simbólica, sabendo-se que vai atingir apenas uma parcela muito pequena de trabalhadores e expondo os trabalhadores mais activos a toda a espécie de represálias por parte do patronato. É uma luta que deve ser apoiada a todos os níveis, porque pretende ser simbólica e exemplar, mostrando aos patrões do sector, verdadeiros especialistas na arte de explorar à margem de toda e qualquer legislação, que, mesmo em condições adversas, é possível lutar por melhorias laborais. E uma das formas de apoiarmos a luta destes trabalhadores é fazermos greve de consumo a este tipo de superfícies comerciais enquanto a greve durar.
– Diferente ainda é a situação dos trabalhadores da Auto Europa, com estatuto profissional definido e enquadrada contratualmente. Mas também por isso, a recusa dos novos horários de trabalho propostos pela administração não deixa de ser significativa. Com uma massa operária muito jovem, determinada, à margem dos partidos políticos e das centrais sindicais dominantes, decidiram em plenário recusar dois acordos feitos pela Comissão de Trabalhadores e afrontar a administração. O primeiro acordo foi celebrado por uma Comissão de Trabalhadores próxima do Bloco de Esquerda (é inaceitável esta partidarização dos locais de trabalho!) que, por esse facto, se demitiu. Foi eleita uma nova Comissão de Trabalhadores com uma composição próxima do PCP (mais uma vez na disputa entre as trutas quem se lixa é o mexilhão), que negociou um novo acordo de horários com a administração e que, de novo, foi recusado em plenário de trabalhadores. A greve já marcada para o início de Fevereiro tem, por isso, um duplo significado: é realizada por trabalhadores qualificados, no quadro duma multinacional, contra o acordo estabelecido entre o patronato e a comissão de trabalhadores, e decidida em plenário; por outro lado, não tem a ver apenas com prémios salariais, mas com tempo livre e a possibilidade de gozar fins de semana completos, sem a obrigatoriedade de trabalho aos sábados, mesmo que isso tenha alguma compensação salarial. Neste caso, a luta dos trabalhadores tem ainda que se confrontar com o facto desta ser uma empresa relevante na economia nacional (enfrentando os fantasmas sempre invocados de que “se fizerem muito barulho eles deslocalizam-se para outras paragens”, “”ganham bem e ainda não estão satisfeitos?”, “querem a ruína da economia”, “cantam de galo porque têm boas condições”. “quem dera os outros trabalhadores terem estas condições”, etc., etc….) e com as estruturas sindicais-partidárias que já começaram a contestar o direito dos trabalhadores decidirem em plenário as questões da empresa (facto raro nos centros de trabalho em Portugal) e querem que sejam os sindicatos unicamente a negociarem com o patronato. Como se, eles próprios, fossem donos da vontade dos trabalhadores…
Por tudo isto, a solidariedade de classe, anarcosindicalista, com quem luta (sobretudo quando afronta os poderes do patronato, das multinacionais, do Estado e das burocracias sindicais aliadas ao sistema) deve ser total!
Greve ao consumo nos hipermercados!
Solidariedade com os trabalhadores dos CTT e da Auto-Europa!
L.B. (enviado por email)
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