A FAU (sindicato anarquista alemão) tem uma longa história e fez parte, como a CGT portuguesa, da Associação Internacional de Trabalhadores. Hoje é um sindicato jovem, alternativo (integra com a CNT e outras organizações sindicais a CIT), que trabalha com imigrantes e que, apesar de distante do “oficialismo sindical” dos grandes sindicatos está presente nos mais variados sectores de actividade.
Militantes seus andaram pelo Algarve e deixaram vários autocolantes em diversos lados. Neste caso, num sinal de trânsito na Barragem da Bravura, no Algarve. Sempre que é possível – e mesmo quando as condições não são as melhores – os anarcosindicalistas não esperam por ordens de cima, das hierarquias dirigentes, que não existem no espaço sindical anarquista. Todos os dias, todas as horas, todos os locais são importantes para a propagação do Ideal e da luta por um mundo novo sem exploração nem opressão.
David Graeber foi o meu mentor e o meu amigo mais próximo nos últimos 20 anos. Participamos em dezenas de projetos políticos e escrevemos diversas coisas juntos. Ele foi, de longe, a pessoa mais brilhante que eu já conheci. Todos nós temos uma boa ideia ou outra, mas o David era sempre capaz de encontrar muitas, às vezes até na mesma frase. Eu não tenho dúvidas de que ele foi o pensador anarquista mais importante da minha geração.
Eu tenho ainda menos dúvidas de que ele foi um dos mais importantes antropólogos do nosso tempo. O seu primeiro livro, Toward an Anthropological Theory of Value (Para uma Teoria Antropológica do Valor), mudou a forma como nós teorizamos o valor. Inspirado pelo trabalho do seu falecido mentor, Terry Turner, e a sua contínua inspiração intelectual, o antropologista francês Marcel Mauss, este livro mostrou o caminho para lá dos debates substantivistas e ofereceu uma síntese entre Marx e Mauss. O seu livro-panfleto Fragments of An Anarchist Anthropology (Fragmentos de um Antropologia Anarquista) foi um trabalho pioneiro e criador de um género (genre-making) que estabeleceu a antropologia anarquista como um campo de investigação legítimo. Neste sentido, os seus livros Possibilities, Revolutions in Reverse (Possibilidades, Revoluções ao Contrário) e Direct Action: An Ethnography (Ação Direta: Uma Etnografia) forneceram ferramentas a jovens antropólogos para estudar os movimentos sociais “por dentro”. Como um colega uma vez comentou sobre o livro Possibilities, cada capítulo deste livro fenomenal podia ter sido uma inovadora monografia académica. Este livro e alguns outros dos seus principais trabalhos antropológicos foram publicados por uma editora anarquista em vez de por uma imprensa académica. É um paradoxo amargo que o melhor teórico antropólogo da sua geração nunca se tenha sentido bem em casa nos círculos antropológicos estabelecidos. Ele odiava profundamente conferências académicas. Não era apenas por causa da decisão vergonhosa de Yale de se ter livrado dele pelo seu ativismo político; o David era uma pessoa da classe trabalhadora que detestava, com cada pedaço do seu ser, qualquer indício de elitismo académico, networking ou conversa fiada. Com muito custo pessoal, ele rejeitou estes estranhos rituais sectários da vida académica. Ele era o amigo e colega mais generoso que alguém poderia esperar ter, e o mais formidável oponente do snobismo académico.
Centenas de pessoas convocadas por um grupo de cidadãos de Évora juntaram-se ao fim da tarde de sexta-feira na Praça do Giraldo para afirmarem os valores da liberdade, tolerância, cidadania e anti-racismo face à manifestação marcada para aquela mesma Praça, à mesma hora, pelo partido fascista Chega.
Ao apelo deste grupo de cidadãos associaram-se diversos colectivos libertários, anti-autoritários e antifascistas de todo o país trazendo para a principal praça da cidade de Évora uma manifestação de diversidade, tolerância e liberdade que superou em número e em alegria os apoiantes da extrema-direita.
A policia dividiu a praça, não permitindo qualquer contacto entre os dois grupos, ainda que as palavras de ordem dos apoiantes do Chega tenham sido praticamente abafadas pela ‘Grândola, Vila Morena’, a canção do 25 de Abril, cantada em uníssono pelo manifestantes reunidos em Assembleia no outro lado da praça e beneficiando da aparelhagem sonora instalada nas varandas da Sociedade Harmonia Eborense, que se associou plenamente aos protestos, que decorreram sem bandeiras partidárias ou outros símbolos, a não serem os do antifascismo e os da liberdade.
Esta concentração, aliás, mostrou o caminho a seguir relativamente ao partido Chega e a outros movimentos fascistas. É preciso que cada vez que estes movimentos se manifestem contra os valores da liberdade , da diferença, da cidadania, lhes façamos frente, onde quer que seja, fazendo valer o espirito assembleário, horizontal e sem “jogos escondidos” que os organizadores da concentração de Évora foram capazes de demonstrar.
Évora e o Alentejo estiveram, mais uma vez, de parabéns.
Um grupo de cidadãos convocou para a próxima sexta-feira, dia 18, uma concentração em Évora pela Liberdade.
Nesse dia, o partido xenófobo e fascista Chega convocou para Évora uma dita manifestação anti-racista, a anteceder uma reunião do partido marcada para um salão de festas nos arredores da cidade, onde é habitual as forças partidárias assinalarem os seus momentos políticos entre farta comezaina.
O que não é normal é um partido politico vir-se manifestar numa cidade onde não tem qualquer influência ou estrutura conhecida em nome de valores que não defende, nomeadamente o anti-racismo.
O grupo de cidadãos eborenses, gente sem partido, que convoca esta concentração pela liberdade sabe os riscos que corre e sabe que os fascistas do partido do Ventura vão procurar o confronto, ainda que seja apenas para fins mediáticos.
“Estamos cientes disso”, disse ao Portal Anarquista um dos organizadores da concentração, “mas não podíamos deixar que os fascistas do Chega desfilassem impunemente na nossa cidade”, acrescentando que “sabemos que se houver algum momento de confronto a polícia estará do lado deles e não do nosso. É a natureza das coisas”.
Por isso, a mensagem que querem passar é a de “se devem evitar confrontos e, pela positiva, reafirmarmos que as ruas de Évora são nossas, recriando uma Assembleia de Rua como as que aconteceram em Évora, há anos e durante meses”.
As Assembleias de Rua decorreram diariamente em Évora durante grande parte do ano de 2011 e tiveram expressão maior em manifestações como as do 15 de Outubro de 2011 e de15 de Setembro de 2012 (contra a Troika, na foto) e acções em defesa de Évora Património Mundial.
Juntaram dezenas de activistas de diferentes origens: anarquistas, sem partido, ligados a partidos, etc., mas nunca trazendo as suas bandeiras individuais para as lutas colectivas. Como esperamos que aconteça desta vez. As lutas colectivas não têm dono nem assinatura.
Este colectivo de cidadãos que ergue hoje este grito de BASTA! NÃO QUEREMOS FASCISTAS NA NOSSA CIDADE! é a continuidade deste movimento que a 15 de Setembro de 2012 juntou no centro da cidade milhares de antifascistas e de cidadãos inconformados com a pobreza e indignados com a miséria que a troika e o governo de Passos Coelho lançavam sobre as nossas vidas.
Naquela altura o Colectivo Libertário de Évora – que nasceu deste movimento – esteve presente em todas as iniciativas. Hoje, o Portal Anarquista não podia deixar de estar mais solidário!
David Graeber, antropólogo e autor anarquista de livros de grande sucesso sobre burocracia e economia, incluindo “Empregos de Merda” e “Uma teoria da dívida: os primeiros 5.000 anos”, morreu aos 59 anos.
Na quinta-feira, a esposa de Graeber, a artista e escritora Nika Dubrovsky, anunciou no Twitter que Graeber havia morrido no hospital em Veneza no dia anterior. A causa da morte ainda não é conhecida.Conhecido pelos seus escritos mordazes e incisivos sobre burocracia, política e capitalismo, Graeber foi uma figura importante no movimento Occupy Wall Street e professor de antropologia na London School of Economics (LSE), onde lecionava no momento de sua morte.
O seu último livro “The Dawn of Everything: a New History of Humanity”, escrito com David Wengrow, será publicado no outono de 2021.O historiador Rutger Bregman considerou Graeber de “um dos maiores pensadores do nosso tempo e um escritor fenomenal”, enquanto o colunista do Guardian Owen Jones classificou-o como “um gigante intelectual, cheio de humanidade, alguém cujo trabalho inspirou, encorajou e educou muitos outros”. O parlamentar trabalhista John McDonnell escreveu: “Eu considerava David um amigo e aliado muito valioso. A sua investigação iconoclasta e os seus escritos abriram-nos a todos novos pensamentos e abordagens inovadoras no campo do ativismo político. Todos nós sentiremos muita falta dele.” Tom Penn, editor de Graeber na Penguin Random House, disse que a editora estava “devastada” e considerou Graeber como “um verdadeiro radical, um pioneiro em tudo o que fez”.“O trabalho inspirador de David mudou e moldou a forma como as pessoas entendem o mundo. Nos seus livros, a sua curiosidade constante, colocando tudo em questão, a sua atitude provocatória, irónica e perspicaz, face à ideias recebidas transparecem sempre. O mesmo acontece, acima de tudo, com sua capacidade única de imaginar um mundo melhor, nascida de sua própria humanidade profunda e duradoura ”, disse Penn. “Sentimo-nos profundamente honrados em ter sido seus editores e todos sentiremos a sua falta: a sua bondade, o seu calor, a sua sabedoria, a sua amizade. A sua perda é incalculável, mas o seu legado é imenso. O seu trabalho e o seu espírito permanecerão ”.
Nascido em Nova York em 1961, filho de pais politicamente ativos – o seu pai lutou na guerra civil espanhola com as Brigadas Internacionais, enquanto a sua mãe era membro do Sindicato Internacional de Trabalhadores (IWW) têxtil – Graeber atraiu primeiro a atenção ainda na academia pelo seu hobby de adolescente que consistia em traduzir hieróglifos maias. Depois de estudar antropologia na Universidade Estadual de Nova York, em Purchase, e na Universidade de Chicago, ganhou uma prestigiosa bolsa da Fulbright e passou dois anos fazendo trabalho de campo antropológico em Madagascar.
Em 2005, Yale decidiu não renovar o seu contrato um ano antes de terminar, por razões políticas. Mas depois de mais de 4.500 colegas e alunos terem assinado petições apoiando-o, a Universidade decidiu oferecer-lhe um ano sabático remunerado, que ele aceitou e mudou-se para o Reino Unido para trabalhar na Goldsmiths antes de ingressar na LSE. “Acho que tive dois tipos de ataques contra mim”, disse ele ao Guardian em 2015. “Um, porque parecia estar a gostar muito do meu trabalho. Além disso, sou da classe errada: a minha origem é na classe trabalhadora.
“O seu livro “Debt: The First 5,000 Years”, de 2011, tornou-o famoso. Nele, Graeber explorou a violência que está por trás de todas as relações sociais baseadas no dinheiro e defendeu a eliminação das dívidas soberanas e de consumo. Embora dividisse os críticos, atraiu fortes vendas e elogios de todos, de Thomas Piketty a Russell Brand.Graeber publicou em 2013 “The Democracy Project: A History, a Crisis, a Movement”, sobre a sua participação no Occupy Wall Street, e depois “The Utopia of Rules: On Technology, Stupidity and the Secret Joys of Bureaucracy”, em 2015, que foi inspirado no seu esforço para resolver os assuntos da sua mãe antes que ela morresse.
Um artigo de 2013, On the Phenomenon of Bullshit Jobs, levou a Bullshit Jobs: A Theory, um livro de 2018 no qual defendia que a maioria dos empregos de colarinho branco não fazem sentido e que os avanços tecnológicos levaram as pessoas a trabalhar mais, e não menos.“Um grande número de pessoas, na Europa e na América do Norte em particular, passam toda a sua vida profissional realizando tarefas que consideram desnecessárias. O dano moral e espiritual que advém desta situação é profundo. É uma cicatriz na nossa alma coletiva. Ainda assim, praticamente ninguém fala sobre isso”, disse ele ao Guardian em 2015 – mesmo admitindo que o seu próprio trabalho poderia não ter sentido: “Não pode haver medida objetiva de valor social”,
Anarquista desde a adolescência, Graeber apoiou o movimento de libertação curdo e a “notável experiência democrática” que ele pôde constatar em Rojava, uma região autônoma da Síria. Envolveu-se fortemente no campo do ativismo e da política no final dos anos 90. Foi uma figura central no movimento Ocupar Wall Street em 2011 – embora negue que tenha criado o slogan “Nós somos os 99%”, que lhe era frequentemente atribuído.“Eu sugeri num primeiro momento que nos chamássemos de 99%. Em seguida, dois indignados espanhóis e um anarquista grego adicionaram o “nós” e, mais tarde, um veterano do movimento “comida-bombas não!” colocou o “somos” entre eles. E ainda dizem que não se pode criar nada que valha a pena sem um comité! Eu divulgaria os seus nomes, mas considerando a forma como os serviços secretos tem vindo a perseguir os primeiros organizadores do OWS (Occupy Wall Street) , talvez seja melhor não o fazer”, escreveu.