Comemora-se este domingo o 47º aniversário do movimento insurreccional de cariz militar que pôs fim a 48 anos de fascismo.
Militares de carreira, convencidos de que a guerra colonial não tinha saída senão através de conversações e da independência das colónias, desencadearam o golpe militar que, desde logo, teve um imenso apoio popular e que desencadeou, nos dias e nos meses que se lhe seguiram, um verdadeiro movimento popular de desmantelamento das estruturas fascistas e de construção de espaços de afirmação autónomos de trabalhadores, moradores, estudantes, etc.
Foi o tempo de ocupação de fábricas, casas, terras, da autogestão colocada como forma possível e necessária de gestão das nossas vidas, sem estruturas intermediárias, fossem elas estatais ou meramente representativas. Durante vários meses o “sonho” esteve nas ruas e mobilizou milhões de portugueses por todo o país, transformando o que tinha sido um golpe militar num caudal de transformações sem paralelo na história recente em Portugal.
Para trás ficaram anos de repressão inaudita, com proibição de toda a actividade sindical e politica autónomas e a prisão – e em muitos casos, a morte – de quem se opunha ao regime repressor de Salazar e depois de Caetano.
O movimento anarquista e anarco-sindicalista, que nos primeiros anos do fascismo constituiu a primeira frente de batalha ao movimento autoritário imposto pelo golpe militar de 28 de maio de 1926, foi particularmente perseguido até à sua quase destruição, os seus militantes presos, deportados e mortos. A sua imprensa, as suas sedes e espaços sociais vandalizados, destruídos e finalmente ocupados pelo regime, que deles se apropriou.
Mas a resistência manteve-se sempre, até ao fim do regime fascista, pela voz e acção dos seus militantes mais determinados como foi o caso de Emidio Santana, António Machado, Moisés Silva Ramos, Francisco Quintal, Acácio Tomás Aquino e muitos outros. Outros ainda ficaram esquecidos pela história, embora os seus gestos de recusa e de luta tenham também sido determinantes para o fim do regime fascista.
Nesta madrugada do 47º aniversário do 25 de Abril de 1974 convém sobretudo recordar os nossos mortos, os mortos do campo libertário que, através da sua acção – quase sempre directa, organizada, mas sem mediadores – foram eles também peças essenciais na corrosão e destruição do regime autoritário e fascista que governou Portugal durante 48 anos.
Entre estes estão os que deram a vida no Tarrafal, vítimas das maiores violências por parte do Estado e da sua polícia.
Foi uma mão cheia de homens para quem a luta pela liberdade, pela solidariedade e pela autogestão das suas vidas sempre foi o principal lema e estandarte.
Ontem como hoje, também por eles, mantém-se acesa a luta por um outro mundo, um mundo novo, que vive intensamente nos nossos corações, como tão bem sintetizou Buenaventura Durruti.
Por tudo isso, também, enquanto anarquistas, comemoramos o 25 de abril de 1974, embora não nos identificando com o regime que as forças do dinheiro e do poder foram construíndo nos anos que se lhe seguiram e que torna hoje, como sempre, urgente a transformação social no sentido de uma sociedade libertária, autogestionária e de acção directa.
Por isso, também por isso, aqui estamos e dizemos presente!
Republicou isto em mosaicomourisco and commented:
Saudemos a Revolução dos Cravos e seu conteúdo libertário! Lembremos os anarquistas que lutaram e pereceram na luta contra o fascismo integralista desde os primeiros momentos, antes mesmo do golpe de 1926. à sua memória!