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Pode ser vista em Aljustrel até ao próximo domingo, dia 4 de dezembro, uma exposição evocativa da grande greve mineira de 1922, que durou cerca de três meses e que suscitou um grande apoio e solidariedade por parte do movimento operário protagonizado pela CGT anarco-sindicalista. A exposição, bem elaborada e que motivou elogios por parte de vários quadrantes políticos – já foi vista por cerca de dois mil visitantes – , evoca também, a partir desta greve, o movimento reivindicativo dos mineiros de Aljustrel até aos nossos dias:
No sábado passado, no âmbito da exposição, teve lugar um debate sobre “as lutas do mineiros, no passado, presente e futuro”, que juntou o investigador da Universidade de Évora, Paulo Guimarães, reconhecido como um dos especialistas neste período histórico (a sua tese de mestrado “Indústria e conflito no meio rural: os mineiros alentejanos (1858-1938)” aborda este tema) e que viveu 8 anos, na vila mineira, dando aulas, enquanto preparava a tese e Carvalho da Silva, antigo coordenador da CGTP-Intersindical Nacional.
Paulo Guimarães, antes do mais, considerou que a investigação em torno das formas organizativas e de luta do movimento mineiro alentejano tinha vindo desmentir alguns historiadores que consideravam este movimente como primitivo, mal organizado, próximo do banditismo rural, e daí tirarem a conclusão de que o anarquismo de que se reivindicavam tinha a ver com esse facto. Pelo contrário, disse Paulo Guimarães, os operários alentejanos, quer ao nível da organização, quer ao nível das reivindicações estavam a par do movimento organizado, de tipo sindical, existente em países muito mais desenvolvidos do que Portugal, nomeadamente com grandes semelhanças com a luta dos IWW na América do Norte.
Para este investigador o sindicalismo, ao mesmo tempo que pode ser transformador, pode ser também um instrumento integrador na sociedade, anestesiando a combatividade dos trabalhadores – o que muitas vezes acontece em nome de um proclamado estado social que “não existe”.
Paulo Guimarães disse também que o sindicalismo, para ser transformador, não pode ser apenas economicista, mas preocupar-se com questões como as alterações climáticas, o extractivismo, o produtivismo, a duração dos horários de trabalhos – para este investigador é incompreensível que tendo a luta pelas 8 horas de trabalho decorrido há 100 anos, apesar de todos os ganhos de produtividade, ainda seja esse o horário mais comunmente estabelecido.
Por seu turno, Carvalho da Silva, no tom académico que tem caracterizado nos últimos anos as suas intervenções, defendeu o papel determinante dos sindicatos na defesa do trabalho, que disse ser “ontem, hoje e amanhã o elemento central” das sociedades humanas. Lamentou que o seu estudo esteja a ser afastado das universidades, revelando que o último curso de doutoramento em trabalho e sindicalismo, em Coimbra, está em risco de acabar.
O antigo líder sindical da CGTP contestou ainda a importância dos acordos na concertação social, dizendo que o que interessa são as dinâmicas de luta existentes no mundo laboral e não os acordos que ali sejam conseguidos, uma vez que os próprios parceiros não dominam muitos dos mecanismos económicos, muitos deles de carácter internacional, determinantes para a concertação.
Disse ainda que o sindicalismo tem perdido força e que não atrai muitos jovens, considerando que os sindicatos são também um reflexo do que se passa na sociedade em que se têm visto as forças de esquerda reduzirem a sua presença.
Recusou, no entanto, falar de casos particulares, sobre a organização atual da CGTP, mesmo quando desafiado por um antigo dirigente sindical dos mineiros de Aljustrel, que criticou o facto do Sindicato Mineiro, enquanto sector da base, da produção, estar há muito afastado dos órgãos de topo da CGTP.