cultura
(2017) Revista ‘A Ideia’, nºs 81-83, já disponível na web
(Fotos & texto) Apresentação da revista de cultura libertária “A Ideia” na antiga prisão do Aljube
Com um público muito próximo daquilo que tem sido habitual nos últimos anos, decorreu no Museu do Aljube na tarde de sábado de 16 de Dezembro a apresentação do número triplo da revista A Ideia respeitante ao ano de 2017, cuja pasta central versa os acontecimentos político-sociais que tiveram lugar na Rússia há cem anos.
O volume publica textos clássicos de duas testemunhas presenciais dos eventos, Emma Goldman e Ida Mett, e ainda um vasto acervo de textos da imprensa operária portuguesa da época (jornal A Batalha, jornal Avante de Évora e revistas A Sementeira e Renovação), dando conta da recepção que os eventos então tiveram, logo a partir de Dezembro de 1917, no meio operário português. Apresenta-se ainda uma entrevista com Carlos Taibo, autor dum importante estudo sobre a Revolução Russa saído este ano, e outra com Ana da Palma, tradutora portuguesa do conhecido livro de John Reed, Dez dias que abalaram o mundo.
A apresentação do tema central da revista esteve a cargo de Mário Rui Pinto e de Paulo Eduardo Guimarães. O primeiro falou das manifestações libertárias na Rússia de há cem anos, com destaque para a gesta de Nestor Makno e para a sublevação de Cronstadt em Março de 1921, e da atenção internacional que o movimento tem dedicado este ano ao acontecimento um pouco por todo o mundo, enquanto o segundo centrou a sua atenção nas apreciações que o evento mereceu por parte da organização sindical portuguesa da época, com enfoque particular na Confederação Geral do Trabalho, fundada em Fevereiro de 1919.
O evento contou também com a apresentação dum livro antológico, Anarquismo moderno mas não pós-moderno (Colibri, 2017), colectânea de textos publicados na revista A Ideia na década de 80 e onde estão representados autores tão marcantes para a renovação do pensamento libertário na segunda metade do século XX como Colin Ward, Murray Bookchin, George Woodcock, Amedeo Bertolo, Nico Berti, Tomás Ibañez e Thom Holterman. A apresentação desta colectânea esteve a cargo de José Bragança de Miranda, tradutor e estudioso da obra e do pensamento de Max Stirner.
O encontro teve ainda no final a presença do Teatro Independente de Loures, activo desde 1968, que, com interpretação de Luís Paniágua e Pedro Pina, representou duas curtas peças (“A paragem de autocarro” e “O escadote”) do dramaturgo e poeta português Jaime Salazar Sampaio (1925-2010), um dos autores em destaque neste número triplo da revista A Ideia, a par das homenagens poético-pictóricas a Cruzeiro Seixas, Cesariny, Virgílio Martinho, Fernando Alves dos Santos, Luiz Pacheco, António Maria Lisboa, Baptista-Bastos e Maria Natália Duarte Silva.
[Fotografias e vídeos da responsabilidade de Luís de Barreiros Tavares]
(Lisboa) Cruzeiro Seixas na apresentação da revista de cultura libertária “A Ideia” relativa a 2016


Relevo ainda para a presença do pintor e poeta surrealista Cruzeiro Seixas que abriu e fechou a sessão. Embora esteja prestes a fazer 97 anos, e praticamente cego, este decano dos surrealistas portugueses (foi amigo e companheiro de António Maria Lisboa e de Mário Cesariny, entre outros) interveio no principio e no fim da sessão, tendo dito alguns poemas de Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro. Deste último declamou o poema QUASE:
Saudando este número da revista “A Ideia”, em que participou com material inédito, Cruzeiro Seixas disse ter já muita dificuldade em ler e desejou, como futuro, “um mundo de imaginação liberta em todos nós”.
Esta edição da revista “A Ideia”, com mais de 400 páginas, está disponível em papel e os pedidos podem ser feitos para Revista A IDEIA: Rua Celestino David n.º 13-C, 7005-389 Évora, Portugal, mas pode ser também consultada na web. aqui (1ª parte) e aqui (2ª parte)
(Lisboa) Edição de 2016 da revista ‘A Ideia’ vai ser apresentada no Museu do Aljube a 28 de Janeiro
A próxima edição da revista “A Ideia” já tem data de lançamento. Este novo número com mais de 400 páginas (é obra!) corresponde a quatro edições da revista, mais precisamente aos nºs 77/78/79/80.
A revista será apresentada no próximo dia 28 de Janeiro no Museu do Aljube em Lisboa e a sessão contará com várias intervenções subordinadas ao tema Prisões, a cargo de Hipólito dos Santos (ex-preso libertário do Aljube), Manuel Almeida Santos (Obra Vicentina de Apoio aos Reclusos e Amnistia Internacional) e Filipe Nunes e Margarida Lima (Jornal MAPA).
(AIT/SP) Comunicado de solidariedade com os dois marionetistas espanhóis
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Contra o terrorismo do Estado Espanhol!
Dia 5 de Fevereiro dois actores de teatro de marionetas foram detidos em Madrid, onde representavam uma peça da companhia “Títeres desde Abajo” nas festas de Carnaval da cidade. Após dias na prisão Raúl e Alfonso ficarão finalmente em liberdade, mas enfrentando acusações de “enaltecimento do terrorismo” e de “delito contra as liberdades individuais” por na sua obra satírica encenarem uma montagem policial e ser exibido um cartaz com o trocadilho de palavras “Gora Alka-Eta”. Irão ainda ficar sem passaporte e com a obrigação de apresentações diárias às autoridades.
Em Espanha prendem-se pessoas por participarem em manifestações, piquetes de greve ou por simplesmente se expressarem através de uma obra teatral. Não podemos aceitar esta violência, sabemos bem que terroristas são todos os Estados com as suas leis que condenam os pobres e favorecem sempre os ricos e poderosos.
Juntamo-nos à onda de solidariedade internacional e exigimos que termine de imediato todo este espectáculo repressivo.
Fim da perseguição aos marionetistas!
Pela liberdade de expressão!
Núcleo de Lisboa da AIT-SP
15-02-2016
Marionetistas detidos em Madrid: “Pretendíamos reflectir sobre algumas situações, na nossa opinião injustas e imorais, que estão a acontecer na nossa sociedade”
Este domingo realizou-se uma concentração solidária na Praça Santa Ana de Madrid, convocada pela União de Actores e Actrizes a favor da liberdade de expressão e dos marionetistas detidos – agora libertados com acusações – no bairro de Tetuán. Manifestaram-se grandes personalidades da arte e da cultura. Javier Bardem leu o comunicado que Alfonso e Raúl (os dois marionetistas detidos) redigiram na sexta-feira à noite, e que publicamos já a seguir.
Marionetistas espanhóis em liberdade, mas ainda com acusações judiciais
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A solidariedade e o apoio-mútuo fizeram com que os órgãos repressivos do Estado Espanhol fossem obrigados a fazer marcha atrás e a libertar os dois marionetistas presos na semana passada em Madrid, embora recaiam sobre eles ainda as acusações de “enaltecimento do terrorismo” e de “delito contra as liberdades individuais”.
Raúl García e Alfonso Lázaro ficarão também sem passaporte e com a obrigação de se apresentarem diariamente às autoridades.
A solidariedade com os dois marionetistas (um dos quais é filiado na CNT de Granada) tem extravasado as fronteiras do Estado Espanhol e, por todo o mundo – Portugal incluído -, muitas têm sido as vozes que se levantaram contra esta flagrante violação do direito à liberdade de expressão e de criação cometida pelo Estado espanhol e pelos juízes da Audiência Nacional que, ao abrigo da “Lei Mordaça”, pretendem silenciar todas as vozes discordantes.
(Comunicado da CNT) Pela liberdade imediata dos marionetistas presos em Madrid
Mas, senhora carmena, senhores da Audiência Nacional, não fiquem por aqui, não se limitem a deter e a acusar os artistas que hoje actuam na vossa cidade. Queimem as obras de Zola, destruam as páginas de (Jean) Grave, apaguem da face da terra a recordação das obras de Gorki, destruam os teatros que representam Brecht, peçam uma ordem internacional de busca e captura de Dario Fo, executem pelo garrote vil os seus editores, e não se esqueçam de perseguir os seus leitores. Iniciem a queima de livros e, nessa fogueira, invoquem o espírito do Generalissimo.
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Face à detenção dos integrantes de “Títeres desde Abajo”
Na sexta-feira, 5 de fevereiro, dois integrantes da companhia “Titeres desde Abajo” foram presos devido à sua última obra “La Bruja y Don Cristóbal”, sob a acusação de enaltecimento do terrorismo. Na actuação, que realizaram no dia 5 de Fevereiro em Madrid, parte da assistência sentiu-se incomodada com a obra e, longe de se limitarem a uma questão de estética ou de critérios, chamaram a polícia que procedeu à detenção dos integrantes de “Títeres desde Abajo”, que tinham tido que interromper a obra por acção dos descontentes. Imediatamente foram disparadas as armas do poder: não só eram artistas críticos, como também eram anarquistas. Num auto judicial, que podia passar aos anais do despropósito legal, a Audiência Nacional decide encarcerar as pessoas detidas “por enaltecimento do terrorismo”. O partido da senhora Manuela Carmena, alcaidesa de Madrid, não tarda em anunciar aos meios de comunicação, sem saber muito bem o que se passa, que “tomará medidas legais” contra os artistas que representam uma obra que reconhecem não ter visto. Num acto de hipocrisia monumental, pouco tempo depois, publicam um comunicado em que classificam de “irresponsáveis” os dois marionetistas, que já estão a caminho da cadeia depois de terem passado pelos juízes da Audiência Nacional, e onde anunciam que mantêm a sua denúncia por se terem cometido actos “ofensivos ou lesivos para a sensibilidade”, mas que – isso sim – esperam que mantenham as suas “garantias jurídicas”. Uma tentativa vergonhosa de nadar e ficar com a roupa, face a um acto repressivo que, sabem-no perfeitamente (leram o auto), não respeitou as mínimas garantias jurídicas e colaborando de forma consciente e directa na articulação da enésima montagem policial contra os movimentos sociais. Nem uma palavra a pedir a liberdade dos detidos. (mais…)