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Europeias: a abstenção cada vez conta mais e é um enorme trunfo para os descontentes


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É confrangedor ouvir algumas “análises” sobre a abstenção nas eleições europeias que ontem em Portugal quase chegou aos 70 por cento. A maioria dos analistas continua a considerar que 7 milhões de portugueses não foram votar porque se estão nas tintas, preferiram ir à praia ou que acham que isso da Europa não lhes diz respeito ou porque não são “democratas” nem respeitam a “democracia”. São análises duma arrogância a toda a prova, como se só eles, os ditos analistas, soubessem cumprir direitos e deveres e que os restantes 70 por cento se estivessem completamente borrifando para o seu futuro, ou o dos seus filhos, ou para as condições de vida adversas que todos os dias enfrentam.

Curiosamente, é exactamente porque estão atentos e preocupados, que a maioria dos não votantes decidiu não ir às urnas. É claro que as motivações para o não voto são muitas e múltiplas, tal como o são para o voto, mas, em termos gerais, uma abstenção desta ordem significa um profundo descontentamento sobre o sistema politico e social em Portugal, em que abundam os casos de completa fusão entre o mundo da politica, dos partidos e dos negócios, com sucessivos casos de corrupção e gestão fraudulenta a serem conhecidos, mas nunca suficientemente escalpelizados nem as suas consequências tiradas na totalidade.

A ideia que os portugueses em geral têm, e que os levou a absterem-se em massa, é que a classe política é totalmente corrupta, coloca os interesses pessoais e partidários por cima dos interesses colectivos; que os impostos, tão elevados como nos países mais desenvolvidos,  são-lhes sugados sem quaisquer contrapartidas: os serviços públicos estão pelas ruas da amargura; a saúde cada vez é mais só para os ricos; o ensino mediocrizou-se; pagamos a electricidade mais cara da Europa, tal como os combustíveis,  e os portugueses, em geral, cada vez têm menos acesso às contrapartidas públicas, reservadas a uma verdadeira casta que ocupa os lugares de topo da administração pública e privada ou então, apenas, a sectores profissionais com elevada capacidade reivindicativa.

Este sentimento de repulsa generalizado face a uma classe política apenas preocupada com os seus espaços partidários, que mantêm opacos, quais bunkers e casa fortes, onde tudo se joga em torno das redes de poder e de influência entre comparsas, leva a que os abstencionistas portugueses tenham dito, duma forma tão assertiva como a daqueles que foram votar, à sua maneira, que é preciso pôr um termo a tudo isto.

Claro que os partidos e a classe política, os analistas e os académicos, assobiam e passam ao lado. Seja com 20 ou 70 por cento de abstenção têm as suas benesses, regalias  e tachos assegurados. É o que, apesar dos choradinhos à abstenção e à necessidade de mudar as campanhas eleitorais (!) e a comunicação (!) – como se fosse esse o problema –, acontece: assobiam como se não fosse nada com eles, garantido que têm de novo o poder por mais uns pares de anos.

No entanto, a erosão que a falta de uma continuada legitimidade eleitoral vai cavando, o distanciamento cada vez maior entre grande parte da população e os seus “soi-disant” representantes, a falta de vasos comunicantes entre os que militam, se agitam e tratam da coisa pública como se fosse algo apenas seu, para usufruto do seu espaço partidário, e os que se recusam a entrar nesse barco onde se jogam influências, poderes e empregos a troco de favores e alinhamentos espúrios, faz com que os números, cada vez maiores, da abstenção tenham que ter consequências.

Um dessas consequências – embora grande parte do que será o futuro  ainda não seja visível ou compreensível – é que a insatisfação que reina entre a população, e manifestada na abstenção de quase 70 por cento, já não é canalizada pelos partidos políticos, nem pelos seus agendamentos mediáticos. Não é que tenha deixado de existir: procura sim outras formas de se materializar.

Outra consequência, que se anuncia, é o cada vez menor alinhamento entre o discurso partidário e os anseios populares. Distantes uns dos outros, autónomos entre si, o peso dos partidos vai diminuindo progressivamente na sociedade e abrindo janelas de auto-organização e espontaneidade que até agora têm aprisionado as lutas e as movimentações por uma vida diferente.

Para os que diziam que não votar não vale nada, não tem qualquer valor ou sentido político, a realidade demonstra o contrário. Po certo o dado mais saliente destas eleições, e que  é preciso reter, é, de facto, o da abstenção, e não o da pequena subida ou descida, deste ou daquele partido, num sistema de vasos comunicantes, onde cada vez circula menos energia, imaginação e criatividade.

(Comunicado) Sobre o ataque em Londres


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No dia 22 de Março teve lugar um ataque fora do parlamento em que quatro pessoas morreram e muitas outras ficaram feridas. Logo que isto aconteceu, Tommy Robinson, ex-lider do EDL(*) apareceu no local do ataque para falar dum choque de civilizações e de uma guerra contra todos os muçulmanos. As suas declarações acabaram com o anúncio de uma marcha em Londres convocada pelo grupo de extrema-direita Britain First.(**)

A verdade é que estes autodenominados “patriotas” estão encantados com o facto disto ter acontecido. Um fanático deu-lhes a oportunidade que desejavam de tentar provocar um conflito na sociedade com base nos sesu discursos raciais. Eles procuram reconstruir  os seus movimentos em queda à custa do sangue e das lágrimas derramadas pelas pessoas comuns, pretendem utilizar este ataque para justificar a sua própria marca de terror contra a população muçulmana deste país.

Mas não os vamos deixar.

O nosso grupo e a sua rede de apoio conhecem  esta ideologia reaccionária. Hoje os gritos da direita dirigem-se a nós, dizendo que este ataque foi provocado pela nossa tolerância face ao “extremismo islâmico” ou o nosso apoio aos direitos dos refugiados. Estas afirmações baseiam-se na suposição de que há um choque de civilizações neste país. Afirmam que a “cultura inglesa” e a “cultura muçulmana” não podem coexistir e que é inevitável uma guerra.

São mentiras

Os nossos companheiros do movimento antifascista e inclusivamente do nosso próprio grupo estão a lutar na linha da frente perto de Raqqa, a capital do ISIS. Os nossos companheiros lutam numa brigada internacional formada por todas as nacionalidades, religiões e géneros. Lutam juntamente com camaradas muçulmanos no YPG com o espírito do internacionalismo da classe trabalhadora e é desse espírito que hoje precisamos. A sua luta é uma luta contra as mesmas as forças da reacção que tentam dividir as nossas comunidades por motivos étnicos, é uma luta contra aqueles que gostariam de erradicar a minoria yazidi no Iraque, a mesma luta contra os que queimariam frequentadores da mesquita porque são muçulmanos.

Neste momento os fascistas apresentam-se com as mãos estendidas, dando as boas vindas, viradas para cima e abertas. É uma mão estendida que projecta uma sombra sobre a história moderna e que cresceu ao aldo das câmaras de gás de Auschwitz. Devemos recusar esta oferta com a maior rigidez e nojo e no seu lugar devemos cimentar os ideais do internacionalismo da classe trabalhadora. Se não enfrentarmos os fascistas nas ruas e não oferecermos uma alternativa à guerra de raças, seremos derrotados e as sombras do passado consumirão as nossas ruas.

Apelamos a todos os companheiros para que adoptem o lema “Não passarão!”. Destruamos a tentativa do Britain First de crescer à custa da morte dos londrinos. Apoiamos todos e cada um dos antifascistas que querem ver o fascismo derrotado por qualquer meio. Não passarão.

Todos os antifascistas são bem vindos a unirem-se a nós no dia 1 de Abril para se oporem ao Britain First e ao EDL.

London Antifascists

(*) English Defence League é um grupo de extrema-direita, anti-islâmico e que tem na sua história vários confrontos  directos, de rua, com movimentos anti-fascistas.

(**) Britain First é um partido de extrema-direita, fascista, assumidamente nacionalista, eurocéptico, anti-imigração, que fez campanha pelo Brexit. Advogam teses racistas e islamofóbicas e usam métodos ultraviolentos contra os adversários. Do ponto de vista eleitoral são praticamente irrelevantes, mas têm um peso considerável em certas franjas da sociedade inglesa.

aqui: https://londonantifascists.wordpress.com/2017/03/24/laf-statement-on-london-attack/

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Itália: 8 de Agosto. Revolta no CIE de Brindisi


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É assim que se vive no CIE – Centro de Identificação e Expulsão de Estrangeiros –  de Brindisi Restinco.

interno-cie-brindisi-1“Mobiliário” em cimento e ferro, comida de má qualidade, ausência de cuidados de saúde (assistência sanitária). Mas, acima de tudo, dignidade espezinhada, privação de liberdade, a espera de uma expulsão ou de escorregar de volta para o círculo infernal da clandestinidade.

É precisa instigação para se revoltar contra tudo isto?


Na tarde de segunda-feira, 8 de Agosto, enquanto que do lado de fora do CIE em Brindisi Restinco decorria uma concentração de solidariedade com os reclusos, desde o interior da estrutura muitos comunicaram as condições às quais são forçados a submeter-se. As janelas das celas dão para o relvado onde se estava a realizar a concentração, o que facilita a comunicação direta, verbal. Depois, os reclusos já em revolta atearam fogo a lençóis e colchões, em duas secções, gritando “Liberdade”.


Immagine 4-2-2Agora os dois dormitórios da secção A e um da secção B estão inutilizáveis; há alguns dias que os reclusos estão amontoados entre alguns corredores e um pátio, onde além disso são obrigados a dormir sem colchão nem lençóis, quer no chão, quer em cima das mesas da cantina. A secção C está ainda intacta e em regime de funcionamento.

Um rapaz de 22 anos da Costa do Marfim foi preso porque, gravado pelas câmaras de vigilância interna, foi considerado um dos responsáveis pelos incêndios.


Como já aconteceu em outros CIE, o fogo da revolta tornou inutilizável parte do centro de detenção, tornando menos eficaz a capacidade do Estado de encarcerar e deportar.


Alguns inimigos das fronteiras – Lecce

(traduzido de https://hurriya.noblogs.org/ )

(enviado por email para divulgação)

(Turquia) Comunicado da DAF sobre o golpe de 15 de Julho


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 “O Estado é o golpe, a revolução é a liberdade”

No entanto, não há dúvida de que aqueles que reforçaram o seu poder em resultado deste golpe “de 5 horas” são o actual governo e o chefe de Estado.

O golpe, que tem sido uma realidade inevitável da presença do Estado neste território desde o golpe militar de 1980, reapareceu 36 anos depois, durante a noite de 15 de Julho. Muitos edifícios do Estado foram bloqueados por algumas horas durante a mobilização militar com base em Istambul e Ancara. O golpe começou com aviões de combate a sobrevoarem Ancara e o bloqueio das pontes em Istambul por soldados, e continuou com a tomada como refém do Chefe das Forças Armadas, e o som de tiros de tanques nas ruas. Muitos edifícios estatais foram alvejados por F16 e por helicópteros, incluindo o edifício do parlamento e a sede dos Serviços Secretos; houve troca de tiros em muitos lugares entre soldados e policias. Na sequência dos acontecimentos, a transmissão do canal estatal de televisão foi cortada e a declaração de golpe assinada pelo “Conselho Nacional de Paz” foi lido. Quando o “golpe das  5 horas” terminou, tinham morrido mais de cem soldados, mais de oitenta policias e mais de oitenta manifestantes anti-golpe. 2839 militares, entre eles muitas altas patentes, foram presos.

Durante este período de 36 anos, o golpe, enquanto ferramenta de opressão política, violência e repressão, tem sido usado, mais do que uma vez, como uma ameaça pelo exército. Sem dúvida que, para nós, os oprimidos, este golpe significa tortura, repressão e massacre dos povos neste território durante todo este tempo. É evidente que uma estrutura que baseia o seu poder nos massacres que faz, irá continuar a fazer massacres em nome do “projecto unidade indivisível do país”. O recente golpe é o resultado da luta entre grupos que lutam pelo poder no interior do Estado. Mas é possível que a existência não conhecida de grupos de poder fora do Estado leve este confronto para um nível mais amplo. No entanto, não há dúvida de que aqueles que reforçaram o seu poder em resultado deste golpe de 5 horas são o actual governo e o chefe de Estado.

A noite, que começou com um golpe militar, foi transformada numa espécie de “feriado da democracia”, enquanto o poder do Estado ganhava o controlo da situação. O partido do governo, o AKP, ganhou a fama de ter “repelido um golpe de Estado”, devido à sua vitória contra o golpe de Estado, somando isso à legitimidade devido ao facto de “ser eleito”. Ao longo da noite, todos os canais de TV fizeram transmissões ao serviço desta vitória e fazendo propaganda da ilusão da democracia personificada em Tayyip Erdoğan. Esta propaganda também foi feita de forma contínua pelos media conhecidos por serem da oposição. Nesta luta pelo poder do Estado, os media não só tomaram o partido deTayyip Erdoğan, como desempenharam também o papel de levarem as pessoas para as ruas.

Tal como os meios de comunicação, os partidos de oposição, com assento parlamentar,  não “pouparam” o seu apoio ao AKP desde o início deste processo; cairam na armadilha do poder de Estado de “evitar que outros façam política”. A sua posição foi a de “tomarem partido com a democracia contra o golpe”, como uma máscara da sua ignorância política. Isto indica claramente que, a curto prazo, eles não vão corporizar outras políticas para além das políticas estatais. Escolhendo aqueles que “vão morrer quando Tayyip Erdoğan disser para morrer, atirar quando ele disser para atirar”, enchendo as praças, como “apoiantes da democracia”,  com slogans de “queremos a pena de morte”, dirigidos a todos os que se lhe opuserem. Não é isto um sinal de estagnação política destes partidos da oposição?

Com este golpe e a vitória contra o golpe, o AKP tem agora o ambiente que necessita para transformar ideologicamente a  sociedade. Os  “50% que com dificuldades se mantiveram em casa,  que eram apresentados como uma ameaça por Tayyip Erdoğan durante os protestos de Gezi, estavam agora nas ruas. A cultura fascista que é uma parte importante da transformação ideológica que  ganha espaço a partir do sistema legal para a vida social, foi despertada por aqueles que o Estado mobilizou para as ruas. Não só isso,  estavam mascarados como se fossem pessoas que tentavam manter o sistema democrático … Não é difícil adivinhar como estas “mobilizações democráticas”  se irão confrontar com muitas pessoas, das mais diversas maneiras em diferentes lugares. Já tivemos noticias de linchamentos de alguns que não quiseram  pôr-se ao lado do reforço do poder do Estado.

Esta luta de grupos pelo controlo do Estado, que exerce o seu poder num clima de crescente injustiça económica e política, não é senão a perpetuação da autoridade dos opressores sobre os oprimidos, com o objectivo de destruir a liberdade dos oprimidos. Não há dúvida de que nem a ditadura visível ou invisível, nem os militares nem as estruturas civis, nem o golpe, nem as eleições dos cargos políticos, que são o inimigo do povo, têm alguma coisa a ver com a vontade popular. Nós, que acreditamos  que uma vida livre não pode ser criada por golpes de Estado ou por meio de eleições, reconhecermos a existência do Estado como um golpe contra a liberdade e a nossa revolta continuará até que se crie um mundo livre. O Estado é o golpe, a revolução  é a liberdade. O que todos nós precisamos não é de ter esperança em qualquer luta travada pelos de cima (pelas autoridades), mas saber que a esperança é a revolução pela liberdade.

Devrimci Anarşist Faaliyet (DAF) – Acção Revolucionária Anarquista (Turquia)

17 de Julho de 2016

aqui: https://www.facebook.com/anarsistfaaliyetorg/

(opinião) O ANALFABETISMO POLÍTICO


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O analfabetismo político refugia-se numa atitude romântica de retorno ao passado, com soberania nacional, com moeda nacional, fronteiras nacionais bem guardadas e a repressão nacional qb para garantir uma existência feliz aos capitalistas nacionais. Há quem ache que ser roubado por alguém nacional conforta e que se for estrangeiro desconforta? O que é nacional é bom?

Vitor Lima (*)

O pior do analfabetismo é o analfabetismo político; o daqueles que sem perceberem nada da realidade, propõem barbaridades com um ar sério.

É verdade que a iliteracia é muito elevada em Portugal, mesmo nas camadas com mais canudos, ensopadas em comunicação social e que, com o stress habitual, não vão além de leituras em diagonal, em círculo, vogando alegres, como num carrossel.

É consensual que a configuração da UE é e sempre foi anti-democrática, replicando, nada mais nada menos, do que os regimes igualmente anti-democráticos dos estados-membros. Em ambas as instâncias há classes políticas ao serviço das multinacionais, do sistema financeiro e dos capitalistas locais, com as devidas contrapartidas, pessoais ou para o gang partidário; e que se acham com o divino direito de decidir tudo o que diz respeito à vida das pessoas, sem lhes prestar contas. Para além das promessas, inerentes ao folclore eleitoral, claro está.

A crise financeira e o modelo neoliberal em geral estão encalhados, como encalhada está a democracia na Europa… para ficar por aí. E nisso está a causa dos problemas que se vivem hoje – desemprego, dívida pública ou privada, desigualdades sociais e regionais, projetos escabrosos visando os sistemas de pensões, refugiados e imigrantes, punções fiscais esmagadoras, derivas nacionalistas fascizantes, etc, temperadas com promessas requentadas com molho de fé e que só enganam quem anda a dormir ou tem falta de neurónios.

Neste contexto, o analfabetismo político, refugia-se numa atitude romântica de retorno ao passado, com soberania nacional, com moeda nacional, fronteiras nacionais bem guardadas e a repressão nacional qb para garantir uma existência feliz aos capitalistas nacionais. Há quem ache que ser roubado por alguém nacional conforta e que se for estrangeiro desconforta? O que é nacional é bom?
O analfabeto político é um género de daltónico profundo – só vê a preto e branco. Com uma diferença; é que os verdadeiros daltónicos não serão todos estúpidos ou saudosos do fascismo.

Não dá para pensar em globalização e solidariedade entre os povos tal como acontece há séculos no âmbito dos estados-nação? Em decisões tomadas na base, com a abolição de classes políticas? Na destruição do sistema financeiro com anulação da dívida, uma vez que é impossível pagá-la, por mais que o Draghi despeje dinheiro nos bancos? Marcar como objetivo social a satisfação das necessidades coletivas e não o imbecil crescimento do PIB? Desmantelar as forças armadas e os pactos militares?

Think big! Para além do campanário da aldeia.

(*) https://www.facebook.com/vitor.lima.9678067?fref=nf

Guia de 10 pontos para a resistência pós Brexit à vitória da direita racista no referendo para a saída da União Europeia


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1.O voto no Brexit (Saída) para o Reino Unido deixar a União Europeia demonstra que, mesmo quando é fraca, a democracia parlamentar é incompatível com a crescente desigualdade neoliberal. No Reino Unido, como em outros locais, uma pequena minoria da população tem ficado, nas últimas décadas, com uma parte cada vez maior da riqueza total. Sobretudo, devido à austeridade, quase todos têm visto o seu quinhão da riqueza que produzem a diminuir drasticamente.

2. A campanha pelo Remain (Manutenção) foi liderada pela classe política do establishment neoliberal e apoiada por corporações neoliberais tais como a Ryanair. Mas, porque a raiva contra a crescente desigualdade foi desviada com sucesso, transformando em bodes expiatórios pessoas já marginalizadas, em particular os migrantes, a campanha para a saída foi igualmente liderada por fanáticos elitistas ricos cuja variante do neoliberalismo olha mais para as ex-colónias e para os EUA, do que para a Europa.

3. Os mercados estão agora a punir o eleitorado com a fuga de capitais. Mas a natureza colonialista e racista da campanha pela saída significa que em vez do capitalismo ser responsabilizado voltarão a ser os migrantes os bodes expiatórios. O impacto da permanente desigualdade – sobre os trabalhadores brancos – será atribuído ao facto dos ataques a migrantes não serem tão cruéis e implacáveis como «era necessário».

4. A alternativa pela qual devemos lutar não é fazer mais um referendo, mas a abolição de uma ordem mundial construída sobre a desigualdade e a ditadura do mercado.

5. No futuro imediato, a defesa dos migrantes, incluindo aqueles que ainda estão para chegar, é fundamental para nos opormos à viragem à direita pós-Brexit.

6. Se a esquerda oscilar na direcção de uma simples atitude economicista pós-Brexit então a natureza colonialista e racista desta votação será solidificada. Devemos discutir sobre os motivos que levam a uma cada vez mais dificil solidariedade de classe a nível mundial e não sobre o caminho traiçoeiro dos interesses estritos dos trabalhadores brancos que só pode servir o nacionalismo reaccionário inglês, baseado no racismo e no colonialismo.

7. As repercussões do voto na saída não se limitarão apenas às fronteiras do Reino Unido, mas será um impulso enorme para os movimentos colonialistas e racistas em toda a UE. Os líderes desses movimentos, como Marine Le Pen, já se regozijaram com o voto pela saída.

8. É vital compreender que esta situação não pode ser combatida com chavões liberais, porque é uma consequência da crescente desigualdade criada pelo liberalismo económico. A médio prazo, teremos que escolher ou uma transformação para uma democracia directa radical que crie igualdade económica ou um regresso às políticas autoritárias de controlo, necessárias para impor profundas divisões na riqueza.

9. As coisas parecem sombrias, mas elas já eram sombrias quando sabíamos que tínhamos que enfrentar as alterações climáticas ou a automatização sob o capitalismo. A ascensão do racismo de extrema-direita e colonialista não é um fenómeno natural, mas uma consequência de um sistema em que a crise é um produto fundamental do seu próprio funcionamento.

10. É preciso retirar o mundo da supremacia da elite branca patriarcal e capitalista que domina o planeta e que dominou ambos os lados do referendo da UE. A transformação de que precisamos, se não quisermos enfrentar uma escalada da pobreza, guerra e destruição climáticas, é uma transformação total que elimine o estado e o capitalismo para criar o comunismo libertário.

Workers Solidarity Movement (Irlanda)

(análise) Brexit: uma saída da União Europeia pelos piores motivos


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O líder da extrema-direita inglesa, Nigel Farage, um dos principais apoiantes e defensores da saída do Reino Unido da UE, não esconde a sua satisfação pelos resultados do referendo
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Sobre o resultado do referendo que, por uma unha negra, aprovou a saída do Reino Unido da União Europeia, os comentários, mesmo no campo libertário, são diversos. Há quem considere que esta foi uma vitória da extrema-direita mais conservadora e ultramontana, seja da Grã-Bretanha, seja do resto da Europa; outros, criticando a construção europeia, de cima para baixo e cada vez mais dos Estados e menos dos Povos, acham que esta saída pode acelerar alterações profundas na construção da Europa que vão levar ao seu fim.
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Os anarquistas, em principio, são federalistas, propõem-se o fim das fronteiras e estão contra o nacionalismo e o espírito patrioteiro. Uma Europa alargada, federal, sem fronteiras, de livre circulação, é um sonho que vem de trás (já Bakunin escreveu sobre isso). É claro que esta Europa que está a ser construída, com base nos estados e no poder dos mais fortes, centralizada, não é a Europa que pretendemos. Mas a saída do Reino Unido vai no sentido oposto ao que a maioria dos libertários defende, ou seja, vai no sentido da xenofobia, do retorno às fronteiras estatais e nacionais, do reforço dos estados centralizados e de economias onde os mais fortes são sempre os mais protegidos.
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A aliança entre a extrema-direita e a ala mais radical dos conservadores (a que se aliaram alguns teóricos da extrema-esquerda, que não perdem um momento para lembrarem o quão irrelevantes se tornaram) verificada agora no Reino Unido é o exemplo daquilo que não queremos: o retrocesso no projecto de uma Europa aberta, de livre circulação, federal e cada vez mais igualitária. Uma Europa que não é a aquela que existe, de facto, nos organismos e na actual construção da União Europeia. Mas que ainda existe menos nos projectos isolacionistas, patrioteiros e proteccionistas, de medo ao emigrante e às diferenças, como os que levaram ao resultado do referendo britânico.
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Se a União Europeia, como está, não é flor que se cheire, a saída, pelos motivos a que a extrema-direita britânica a defendeu (com os seus aliados de extrema-esquerda), é um verdadeiro lamaçal, ainda mais mal cheiroso.
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Luís Bernardes (via email)
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(refugiados) Sobre o “Pacto da Vergonha” assinado pela UE e pela Turquia


grécia

Sem ter cumprido o que prometera no acordo para acolher 800.000 mil refugiados, a Europa acorda o encerramento das suas fronteiras, não respeitando os Direitos Humanos. Um comunicado da Confederação Geral do Trabalho do Estado Espanhol sobre o pacto recentemente firmado entre a União Europeia e a Turquia.

No passado dia 19 de Março os chefes de Estado da EU, reunidos em sessão do Conselho Europeu (em que há governos de todas as cores), assinaram um acordo que ignora os mais elementares direitos e liberdades existentes em todos os tratados internacionais e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por mais que tenham querido dar o ar de uma negociação para melhorar os aspectos mais discutíveis do plano inicial, a verdade é que o texto assinado com a Turquia mantém o objectivo central de fechar as fronteiras europeias aos refugiados das guerras que assolam o Médio Oriente, especialmente a Síria.

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(atentados de Bruxelas) O terror tem muitas frentes


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Cimeira das Lajes, 16 de março de 2003. O contra-ataque do “Império” com os resultados que hoje se conhecem: o mundo está mais inseguro, embora mais desigual e mais policiado.
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Bruxelas: imagem de vítimas dos atentados desta manhã
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Imagem de Kobane, semi-destruída e alvo constante de ataques do Estado Islâmico
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A propósito dos atentados de Bruxelas, de Rojava, do Curdistão, da NATO, da Turquia, das potências ocidentais e do Estado Islâmico. O terror tem muitas frentes.
Quando se fala de atentados do Estado Islâmico geralmente esquece-se que quem tem estado na primeira linha de combate ao Daesh têm sido os militantes curdos que instalaram no norte da Síria o confederalismo democrático de raiz libertária. Libertaram já Kobane e extensas áreas do domínio do terror totalitário islâmico. São eles também que lutam activamente contra o Estado Islâmico das montanhas de Rojava às ruas de Istambul, onde são também perseguidos pelo regime turco de Erdogan, membro da NATO e agora aliado e pago pela União Europeia para instalar campos de refugiados no seu território, mesmo contra a vontade destes.
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Capturar
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De 18 a 24 de Março, os curdos celebram o ano novo. Este sábado em Kobane, os habitantes da cidade puseram centenas de velas nas campas das pessoas assassinadas pelo Daesh. Em Istambul, como vem sendo hábito a policia turca reprimiu as celebrações do ano novo curdo (Newroz). 120 pessoas foram presas. A luta ali contra o Estado Islâmico e contra o exército turco é uma luta de todos os dias, com atentados constantes e milhares de mortos. E a Europa faz que não vê nem ouve.
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Abaixo-assinado contra a perda de direitos e liberdades na Europa em nome da luta “contra o terrorismo”


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Foi hoje divulgado um manifesto em defesa das liberdades civis na Europa, assinado por diversas personalidades, entre as quais Noam Chomsky e aberto à assinatura de todos que assim o queiram fazer. Tendo como base os últimos acontecimentos em Espanha (a prisão dos dois marionetistas) e em França (o estado de excepção), o manifesto apela “à inviolabilidade efectiva dos direitos de liberdade de expressão, manifestação, associação e reunião” e que se ponha termo à deriva securitária que está em curso em muitos países europeus.

Apesar de não concordarmos com algumas passagens do manifesto – em especial a referência aos “nossos representantes políticos na Europa”, que mais do que a solução para os problemas europeus têm sido eles próprios “o problema”  e o facto do manifesto não apelar directamente aos povos e aos trabalhadores da Europa, mas sim aos governos e aos Estados para se oporem a esta deriva autoritária, gerada pelos próprios Estados e governos a que se apela – julgamos que este é um texto importante para denunciar a situação de perda de direitos e de liberdades a que estamos a viver hoje por toda a Europa, Portugal incluído.

O manifesto, que publicamos em seguida, traduzido para português, pode ser subscrito por qualquer pessoa em  www.porlaslibertadesciviles.org

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