Month: Dezembro 2012

Com a crise e a austeridade acentua-se o roubo a quem trabalha


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A marca principal do capitalismo é a apropriação individual e privada, por parte dos patrões e das empresas, das mais-valias do trabalho gerado de forma colectiva. Ao longo do último século e meio, através das suas organizações de classe, muitas delas de inspiração anarquista e anarco-sindicalista, os trabalhadores conseguiram impor melhores condições de trabalho, de segurança, de salários e de protecção social. É aquilo a que, para enganar pacóvios, a classe possidente chama de “Estado Social”.  Mas, na verdade, nada disso tem a ver com o “Estado” e muito menos com qualquer “Estado Social” (em que os dois termos se contradizem). Tem antes a ver com a luta e com as conquistas de milhões de trabalhadores em todo o mundo que, ao longo de gerações, organizados e unidos, conseguiram obter melhores condições de trabalho e melhores salários, à revelia do chamado “capitalismo selvagem” que imperava no início do período industrial e que hoje ainda é preponderante em quase toda a Ásia, África e América Latina. Com melhores salários puderam pagar mais impostos para subsidiar sistemas como a saúde, o ensino, a protecção social (desemprego, reformas, etc.).

Na Europa e na América do Norte, onde os movimentos operários e sociais tiveram maior relevo e conseguiram obter maiores vantagens para os trabalhadores, os tempos hoje são, no entanto, de recuo. De recuo nos direitos sociais, nos salários, nos horários e nas condições de trabalho.

A “crise” está  dar um jeitão aos principais grupos económicos e empresariais que, mesmo num mercado em retracção, continuam a acumular lucros fabulosos. As maiores fortunas continuam a crescer e o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, em toda a Europa e América do Norte, não pára de aumentar.

Em Portugal, a estratégia de empobrecimento levada a cabo pelo actual Governo visa transformar os trabalhadores em mão de obra cada vez mais barata,  trabalhando mais horas e cada vez com menos direitos e menos acesso à saúde, à educação, à habitação.

A pretexto da “crise “acentua-se a transferência de riqueza e de direitos de quem trabalha para os bolsos dos capitalistas, dos banqueiros e dos empresários, numa autêntica contra-revolução revanchista, face à qual os sindicatos maioritários são complacentes. tentando que o descontentamento popular seja canalizado para a luta político-partidária (de que são fiéis serventuários) e não desenvolvendo um projecto autónomo de luta, de resistência e de confronto pela manutenção e  ampliação dos direitos dos trabalhadores.

Num altura em que fecham dezenas de empresas e em que milhares de trabalhadores estão a ser despedidos é urgente construir uma alternativa sindical revolucionária, anarco-sindicalista, que traga para o debate e para a prática quotidiana questões tão relevantes como a autogestão ou a acção directa. Que volte a colocar a revolução social na ordem do dia e que faça os novos/velhos arautos do capitalismo entenderem que o sistema capitalista não é, definitivamente, o fim da história e que outro mundo é possível.

A propósito do natal e da religião


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“Considere-se, por exemplo, a atitude do cão em presença do dono: não está nela, inteiramente, a do homem perante Deus?

Pretendeu-se, erroneamente, que o sentimento religioso só é próprio dos homens. Mas todos os elementos constituintes da religião se encontram no reino animal – sendo o principal desses elementos o medo.

O  “temor a Deus – dizem os teólogos – é o começo da sabedoria”.  Esse temor encontra-se extremamente desenvolvido em todos os animais, que possuem um instintivo terror perante a omnipotência que os produz.

Tal como os animais, os seres humanos encontram-se ainda submetidos pela ignorância a esse medo do omnipotente. Medo que a Igreja, apoiada pelo Estado, consagra e oficializa. Ao defender-se, a sociedade dominante fá-lo também propagando a ficção religiosa.  E de tal modo que esta ficção, exacerbada, se torna uma loucura normalizada. A religião dos crentes é assim um estado de loucura normalizado pelas leis materiais e ideológicas das classes dominantes. As maiores imbecilidades são consideradas oficialmente como as verdades mais profundas. Que exprime este estado de coisas senão que os humanos permanecem num estádio de rastejante escravidão intelectual e, por conseguinte, material?”

Bakunine  (do livro”Deus e o Estado”)

Solidariedade com Paula Montez: seja fascista ou democrática a polícia é sempre a guardiã do Estado


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“Esta semana recebi um telefonema no meu telemóvel de uma funcionária do DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal) para me convocar para prestar declarações por ter sido “denunciada” por actos supostamente praticados por mim na manifestação do dia da greve geral de 14 de Novembro em São Bento. Quis saber qual a denúncia que recaía sobre a minha pessoa e a senhora do outro lado da linha referiu, para meu grande espanto, que eu tinha sido denunciada por cometer “ofensas à integridade física da PSP”.
A primeira questão a saber é como conseguiram obter o número do meu telemóvel cujo contrato nem sequer está em meu nome. A segunda questão é saber como posso ter sido denunciada por um crime que não cometi e por actos que não pratiquei.

Ontem apresentei-me no DIAP acompanhada de um advogado. Foi-me lido o auto de denúncia e mostradas imagens captadas na manifestação. As imagens todas elas de má qualidade e inconclusivas, mostram-me de braço no ar com um objecto na mão que os “denunciantes” referiram ser pedras. Na verdade o objecto que tenho na mão é nada mais do que a minha máquina fotográfica que costumo elevar devido à minha estatura ser baixa para captar imagens, como sempre tenho feito em todas as manifestações e protestos onde vou. Nas legendas das várias imagens captadas aparecem aberrações do tipo: “acessório”, assinalando-se com um círculo, pendurada na mochila, uma máscara dos Anonymous; o meu barrete de lã colorido é indicado como sendo um capuz (lá vem o estigma dos “perigosos encapuçados”); até a cor da roupa, preta, aparece referida (!); além disso, na foto de qualidade duvidosa, onde se vê o meu braço erguido segurando o tal objecto (máquina fotográfica) pode-se ler na legenda que arremessei à polícia cerca de 20 pedras ou outros objectos…

Agora pergunto eu: se a PSP me identificou a arremessar 20 pedras e a colocar em causa a sua integridade física, por que não fui eu detida logo ali? Por que não fui de imediato impedida de mandar mais projécteis que pudessem atentar contra os agentes? Sim, como é possível ter sido vista a atirar coisas, contarem uma a uma as cerca de 20 pedras que eu não atirei, mas que alguém afirma ter-me visto atirar, e deixarem-me à solta para atirar mais?

Colocada perante estas “provas” e com base nesta absurda acusação fui constituída arguida com “termo de identidade e residência”, tendo agora que arranjar forma de me defender.
Como é evidente trata-se de uma perseguição por parte da PSP a pessoas que estiveram naquela manifestação. Faço notar que nem sequer fui das pessoas detidas para identificação, estou sim a ser vítima de uma orquestração por parte da PSP que visa lançar uma perseguição política a pessoas que eles supõem ser os mais activos na contestação, pessoas que costumam ir às manifestações, fotografar, passar informação nas redes sociais (o meu perfil de FaceBook lá continua bloqueado a funcionar a meio gás, sem a possibilidade de comentar vai para um mês).

Enfim, tal como antes já tinha previsto, no dia 14 de Novembro começou uma intencional e persecutória caça às bruxas e desde então não param de acontecer fenómenos sobrenaturais em democracia: identificam-se pessoas em imagens duvidosas, denunciam-se situações que não aconteceram, subvertem-se imagens dúbias e de qualidade duvidosa para servirem de prova a acusações infundadas, usam-se telemóveis pessoais para enviar convocatórias do DIAP e hoje aconteceu mais uma situação inédita: um telemóvel de um amigo com quem eu estava tocou; qual o nosso espanto era eu a ligar do meu telemóvel e a chamada apareceu registada no TM dele como sendo minha, mas o meu telemóvel estava ali mesmo à mão, bloqueado, sem registo de nenhuma chamada efectuada… isto para além dos estalidos em certas conversas telefónicas.

Todos os que me conhecem sabem que não sou pessoa para andar a atirar pedras à polícia, que sempre defendi a estratégia da não violência, da desobediência civil e da resistência pacífica. Que em todas as manifestações me movimento de um lado para o outro a captar imagens e que muitas vezes me vejo obrigada a erguer o braço para fotografar acima da minha estatura. Não há ninguém que me reconheça ou possa apontar como sendo violenta ou capaz de andar a arremessar objectos em manifestações, por muito que considere que a violência com que o sistema nos ataca nos nossos direitos e nas nossas liberdades – e agora também acometendo contra a integridade física de todos quantos estávamos naquela praça – possa gerar a revolta e a reacção das pessoas.
A situação não é nova, nem a sinistra estratégia: no dia 5 de Outubro o Ricardo Castelo Branco foi detido e alvo de idêntico processo de acusação, também através de imagens dúbias e da mentira de dois denunciantes (mal) amanhados pela PSP, acusado de atirar garrafas à polícia, mesmo com um braço engessado e outro braço segurando uma máquina fotográfica. Com coragem e determinação levou o caso às últimas consequências até por fim ser ilibado.

Por tudo isto decidi tornar pública esta absurda acusação e peço a todas e a todos vós que divulguem este caso. Pela minha parte vou fazê-lo por todos os meios ao meu dispor, incluindo a comunicação social. Hoje sou eu a visada mas qualquer um pode vir a ser o próximo a ser alvo de falsas denúncias e acusações. O que sempre mais me empolgou e indignou são as situações de repressão, perseguição e de injustiça. A verdade é mais forte e há de vencer todas as calúnias.

Peço a quem tiver imagens minhas na manifestação de 14 de Novembro (ou noutra manifestação qualquer) a tirar fotografias que as envie a fim de constituírem prova neste processo. Obrigada pela vossa solidariedade.

Paula Montez” (activista dos Indignados Lisboa)

Memória Libertária: Jaime Rebelo


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A 22 de Dezembro de 1900 nascia em Setúbal o anarcosindicalista e resistente antifascista Jaime Rebelo. Pescador e marítimo de profissão, ainda jovem aderiu à Confederação Geral do Trabalho (CGT), da qual foi um dos principais responsáveis em Setúbal. Viveu a maior parte da sua vida em Cacilhas. Como militante anarco-sindicalista foi um dos animadores, com Francisco Rodrigues Franco, da Associação de Classe dos Trabalhadores do Mar de Setúbal, mais conhecida por  “Casa dos Pescadores”, que foi encerrada na sequência do golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 e da qual conseguiu salvar documentação importante.

Em 1931, em consequência da chamada “Greve dos 92 dias” , foi preso e torturado pela polícia política. Durante os interrogatórios, cortou a língua para evitar falar e denunciar os companheiros. Há duas versões: uma, com os próprios dentes; outra, entre dois interrogatórios, com uma lâmina que trazia escondida no tacão dos sapatos. Sabendo deste facto, o escritor Jaime Cortesão dedica-lhe um dos seus poemas mais belos (ver mais abaixo) – o Romance do Homem da Boca Cerrada. Este poema circula clandestinamente durante toda a ditadura salazarista e foi publicado em 1937 no jornal comunista “Avante”, que procurava, nessa altura, forçar uma política de Frente Popular.

Uma vez em liberdade e vitima de perseguições constantes emigrou para Espanha. Ali filiou-se na CNT anarcosindicalista e durante a Revolução Espanhola fez parte das milícias confederais e comandou uma unidade que combateu na frente meridional. Com o triunfo fascista em Espanha, foi para França, voltando depois a Portugal onde continuou a lutar contra a ditadura do Estado Novo, ganhando a vida a partir de 1968 como revisor do jornal “A República”, ao lado do também anarquista Francisco Quintal.

Depois do 25 de Abril presidiu à primeira Assembleia Geral da restituída “Casa dos Pescadores” e participou na constituição da Cooperativa Editora de “A Batalha”, antigo jornal diário da CGT. Membro activo do Movimento Libertário Português (MLP) participou na criação do jornal “A Voz Anarquista”, editado pelo Centro de Cultura Libertária de Almada. Jaime Rebelo morreu a 7 de Janeiro de 1975. O historiador César de Oliveira dedicou-lhe um estudo “Jaime Rebelo: um homem para além do tempo”, publicado em Março de 1995 na revista História. No bairro de São Julião, em Setúbal, há uma avenida com o seu nome.

 Romance do Homem da Boca Cerrada

– Quem é esse homem sombrio
Duro rosto, claro olhar,
Que cerra os dentes e a boca
Como quem não quer falar?
– Esse é o Jaime Rebelo,
Pescador, homem do mar,
Se quisesse abrir a boca,
Tinha muito que contar.

Ora ouvireis, camaradas,
Uma história de pasmar.

Passava já de ano e dia
E outro vinha de passar,
E o Rebelo não cansava
De dar guerra ao Salazar.
De dia tinha o mar alto,
De noite, luta bravia,
Pois só ama a Liberdade,
Quem dá guerra à tirania.
Passava já de ano e dia…
Mas um dia, por traição,
Caiu nas mãos dos esbirros
E foi levado à prisão.

Algemas de aço nos pulsos,
Vá de insultos ao entrar,
Palavra puxa palavra,
Começaram de falar
– Quanto sabes, seja a bem,
Seja a mal, hás de contá-lo,
– Não sou traidor, nem perjuro;
Sou homem de fé: não falo!
– Fala: ou terás o degredo,
Ou morte a fio de espada.
– Mais vale morrer com honra,
Do que vida deshonrada!

– A ver se falas ou não,
Quando posto na tortura.
– Que importam duros tormentos,
Quando a vontade é mais dura?!

Geme o peso atado ao potro
Já tinha o corpo a sangrar,
Já tinha os membros torcidos
E os tormentos a apertar,
Então o Jaime Rebelo,
Louco de dor, a arquejar,
Juntou as últimas forças
Para não ter que falar.
– Antes que fale emudeça! –
Pôs-se a gritar com voz rouca,
E, cerce, duma dentada,
Cortou a língua na boca.

A turba vil dos esbirros
Ficou na frente, assombrada,
Já da boca não saia
Mais que espuma ensanguentada!

Salazar, cuidas que o Povo
Te suporta, quando cala?
Ninguém te condena mais
Que aquela boca sem fala!

Fantasma da sua dor,
Ainda hoje custa a vê-lo;
A angústia daquelas horas
Não deixa o Jaime Rebelo.
Pescador que se fez homem
Ao vento livre do Mar,
Traz sempre aquela visão
Na sombra dura do olhar,
Sempre de boca apertada,
Como quem não quer falar.

Jaime Cortesão

Natal é sempre que os supermercados quiserem


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Apesar da crise e da miséria que milhares de famílias atravessam,  este período de Natal continua a ser uma verdadeira Meca para o consumo mais desenfreado. Em nome da tradição natalícia, impôs-se à sociedade um mercantilismo de inutilidades, propagandeadas por todos os meios de comunicação social e por todas as formas de transmissão de mensagens, desde a publicidade nas caixas de correio aos grandes outdoors.

As grandes superfícies ostentam filas e filas de prateleiras de objectos geralmente inúteis ou facilmente prescindíveis mas que a voragem do consumo faz com que muitos os adquiram, numa espécie de psicologia de massas que a todos – pelo menos aos que podem – transforma em vorazes consumidores.

O Pai Natal cada vez se assemelha mais a Belmiro de Azevedo ou a Soares dos Santos exigindo que tenhamos sempre à mão o cartão de multibanco para o enfiarmos nos seus “sapatinhos”.

A crítica ao consumismo – mesmo em tempo de crise – e à qualidade dos produtos que adquirimos deve ser constante mas reforçada neste período natalício em que todos os meios de propaganda e publicidade estão virados contra nós enquanto consumidores.

T.M.

Campanha de solidariedade internacional com os libertários cubanos


cuba

Sempre houve uma tradição libertária no Caribe. O sentimento libertário sempre impregnou o povo cubano e é uma expressão revolucionária que existe desde as primeiras lutas do século XIX contra a escravatura e pela independência.

O movimento libertário tem mais de cem anos em Cuba, mas os historiadores e editores cubanos a soldo do Partido Comunista fizeram-no desaparecer da historiografia oficial.

Em 1959 foram proibidas as diversas organizações anarquistas que tinham lutado, na clandestinidade ou na guerrilha, pela Revolução ao lado dos castristas. Nessa altura, muitos libertários foram assassinados, presos ou tiveram que exilar-se.

Hoje o Movimento libertário cubano luta para poder existir publicamente. Um grupo de jovens agrupados no seio do “Taller Libertário Alfredo López” questiona a realidade cubana, a história do movimento libertário e as suas ideias.

Pese a repressão e a impossibilidade de expressar os seus pontos de vista nos meios de comunicação cubanos, por serem considerados subversivos, os libertários saem pouco a pouco da clandestinidade e a presença libertária afirma-se cada vez mais nas ruas e nos bairros.

A revolução gerou muita frustração e decepção, particularmente entre as novas gerações. Hoje existe em Cuba um profundo desejo de liberdade, de dignidade, de poder falar e agir.

Os vínculos sociais devem ser recriados para combater a burocracia generalizada e poder contribuir para uma “revolução na Revolução”.

O renascimento de um movimento libertário em Cuba e a existência de um Forum Social da Autogestão são os elementos chave para empreender um extenso trabalho de consciencialização. Mas para o desenvolvimento das correntes libertárias e das correntes críticas de tipo autogestionário, federalista e ecologista, são precisos meios materiais difíceis de encontrar na ilha. Daí a importância do apoio exterior, ainda que seja uma operação delicada, já que a ajuda internacional aos movimentos de oposição é considerada pelo governo como um financiamento do “Império” a favor da “contrarevolução”.

Toda a ajuda, através de livros, revistas, jornais, CD e DVD, relacionados com experiências de autogestão, economia verde, decrescimento ou sobre o pensamento libertário, será acolhida com grande interesse, já que os militantes antiautoritários cubanos estão há muito tempo sem terem acesso a esse tipo de informação nem aos meios que lhes poderiam permitir fazer uma análise livre capaz de afrontar os problemas económicos, sociais e políticos do século XXI.

A solidariedade política internacional é igualmente importante em caso de repressão e de obstrução por parte dos serviços do Ministério do Interior e dos serviços de Segurança do Estado contra os nossos companheiros devido às suas actividades.

Para o envio de material (livros, revistas, CD e DVD) é necessário contactar o GALSIC (Grupo de apoio aos libertários e aos sindicalistas independentes de Cuba)

cubalibertaria@gmail.com

Para apoiar os companheiro do Taller libertario Alfredo López, podeis fazer chegar a vossa ajuda ao Fundo de Apoio permanente que está a cargo da IFA (Internacional de Federações Anarquistas).

Société d’Entraide Libertaire (SEL)

c/o CESL, BP 121,25014 Besançon cedex

(cheques à ordem do SEL, mencionando Cuba no reverso)

IBAN : FR7610278085900002057210175

Fonte: Internacional de Federações Anarquistas (AQUI)

e.m.

Homenagem aos guerrilheiros antifranquistas no dia do funeral de Jesús de Cos Borbolla, o último guerrilheiro da Cantábria


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Foi hoje a enterrar um dos últimos guerrilheiros antifascistas que combateram na Cantábria, centro da actividade guerrilheira contra o regime de Franco depois da derrota republicana na Guerra Civil Espanhola . Jesús de Cos Borbolla, o Comandante “Pablo”, tinha 88 anos e foi o último da majestosa estirpe de guerrilheiros antifranquistas que as montanhas cantábricas pariram no pós guerra, referem os sites altenativos cantábricos. Jesús de Cos, que colaborava com diversos movimentos, entre os quais a Coordenadora Antifacista de Cantabria e a  CNT, integrando também movimentos como  “Cantabria No Se Vende” e o 15M, publicou em 2006 um livro intitulado ” “Ni bandidos, ni vencidos. Memorias de una gesta heroica. La guerrilla antifranquista en Cantabria”, em cujo prólogo, António Casares faz um elogio “Aos últimos heróis” (aqui).

Aqui fica também o nosso reconhecimento a estes homens e mulheres, que através da sua luta e  da sua coragem,  iluminam o caminho das gerações mais novas: é preciso reagir contra a opressão, seja onde for e em que época for – eis a mensagem destes “últimos heróis”

Aos últimos heróis
 
Mas houve alguns homens livres, bravos,
que não adoraram o templo do fascismo
e foram para a guerrilha para dar o exemplo:
preferiram morrer a serem escravos.
 
Socialistas de cunho verdadeiro
sonhadores de um mundo igualitário,
irmãos de Durruti o Libertário,
com a têmpera mais forte do que o aço.
 
Emboscados no norte dos sonhos
forjados na luta pela Ideia
escreveram a sua anónima odisseia
para que o mundo não tivesse donos.
 
São heróis sem estátuas nem ouropéis
homens com orgulho em serem homens
não é este o momento de dizer os seus nomes,
nem de lhes colocar efémeros louros.
 
As suas almas dão luz às estrelas
e o seu fulgor às constelações
e deixaram nos nossos corações
a memória inapagável dos seus passos.
 
(tradução livre)
 
e.m.

Florbela Espanca: pagã & anarquista


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Hoje assinalam-se os 118 anos do nascimento e os 82 anos da morte de Florbela Espanca, a grande mulher e poetisa alentejana (nasceu e morreu no mesmo dia: 8 de Dezembro).

“Sou pagã e anarquista, como não poderia deixar de ser uma pantera que se preza …” 

Volúpia 

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade…
A núvem que arrastou o vento norte…
— Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…

Florbela Espanca 

daqui: http://acincotons.blogspot.pt/2012/12/florbela-espanca-paga-anarquista.html

A ‘Renascença Portuguesa’ foi fruto do espírito libertário


vida portuguesa

Passa em 2012 o primeiro centenário da fundação da associação cívica Renascença Portuguesa, que durante vinte anos, até ao salazarismo, foi uma das mais activas agremiações culturais do espaço português. Para bem dizer a criação da sociedade teve lugar na parte final do ano de 1911 – os estatutos foram publicados na imprensa em Dezembro desse ano – mas a sua acção só abriu em Janeiro de 1912 com a publicação da segunda série da revista A Águia, a criação de quatro Universidades Populares (Porto, Coimbra, Póvoa do Varzim e Vila Real), numa das quais Cristiano de Carvalho leccionou um curso sobre a Comuna de Paris, e a edição dum quinzenário voltado para os problemas da actualidade, A Vida Portuguesa, dirigido por Jaime Cortesão, que foi o grande impulsionador da criação da sociedade e o padrinho que a baptizou. A associação deixou ainda uma importantíssima obra editorial, bastando para tanto apontar que foi com a sua chancela que apareceu em 1920 o primeiro volume deEnsaios de António Sérgio, que de resto dirigiu e animou na editora a “Biblioteca de Educação”, onde deu a lume valiosos trabalhos.

O núcleo promotor da nova associação, situado a norte do país, constituído por Álvaro Pinto, António Carneiro, Cristiano de Carvalho, Augusto Casimiro, Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes, todos ligados ao movimento operário nascente, promovera já um conjunto de valiosas iniciativas culturais e pedagógicas, onde vale destacar a publicação em 1907 da revista libertária Nova Silva, a criação de “Os Amigos do ABC”, uma associação vocacionada para a alfabetização operária, e a participação no jornal anarquista A Vida (1905-09), então dirigido por Manuel Joaquim de Sousa. A sociedade foi o resultado do diálogo, não isento porém de conflitos, deste grupo promotor com um outro, situado a sul, em Lisboa, onde pontificavam António Sérgio, Raul Proença e Câmara Reis, menos tocado pelo activismo libertário, mas ainda assim nas margens avançadas do pensamento social, e a que se juntou um pouco mais tarde, por via da vertente poética da revista A Águia, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Mário Beirão.

A Renascença Portuguesa durou vinte anos, nascendo e morrendo com a primeira república. Foi fruto do espírito libertário que se desenvolveu na sociedade portuguesa depois do Ultimatum de 1890 e só em liberdade tinha condições para singrar, concretizando o seu projecto social e educativo. O salazarismo asfixiou-a, como de resto sufocou todas as mais importantes iniciativas que resultaram do mesmo húmus donde ela tirou seiva e vigor. Saíram da Renascença Portuguesa algumas estrelas de primeira grandeza, como a revista Orpheu, que deu seguimento à vertente artística da revista A Águia, e a Seara Nova, que herdou e desenvolveu a sul, depois da década seguinte, em condições radicalmente adversas e quase sempre com os mesmos protagonistas, o espírito social, pedagógico e livre da Renascença Portuguesa.

O centenário da Renascença Portuguesa passou quase despercebido. Não damos notícia de nenhum evento que mereça ser assinalado. Em contraponto com este silêncio, abre hoje mesmo, para durar até sábado, um encontro académico de boa envergadura, com o título “Pensamento, Memória e Criação no Primeiro Centenário da Renascença Portuguesa (1912-2012)”, e que tem lugar na Faculdade de Letras do Porto, no Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa e na Casa das Artes de Amarante, resultado do esforço de vários docentes da Faculdade de Letras do Porto, que assim quiseram homenagear a mais significativa associação cultural de que a sua cidade tem memória.

 António Cândido Franco

29 de Novembro de 2012