A marca principal do capitalismo é a apropriação individual e privada, por parte dos patrões e das empresas, das mais-valias do trabalho gerado de forma colectiva. Ao longo do último século e meio, através das suas organizações de classe, muitas delas de inspiração anarquista e anarco-sindicalista, os trabalhadores conseguiram impor melhores condições de trabalho, de segurança, de salários e de protecção social. É aquilo a que, para enganar pacóvios, a classe possidente chama de “Estado Social”. Mas, na verdade, nada disso tem a ver com o “Estado” e muito menos com qualquer “Estado Social” (em que os dois termos se contradizem). Tem antes a ver com a luta e com as conquistas de milhões de trabalhadores em todo o mundo que, ao longo de gerações, organizados e unidos, conseguiram obter melhores condições de trabalho e melhores salários, à revelia do chamado “capitalismo selvagem” que imperava no início do período industrial e que hoje ainda é preponderante em quase toda a Ásia, África e América Latina. Com melhores salários puderam pagar mais impostos para subsidiar sistemas como a saúde, o ensino, a protecção social (desemprego, reformas, etc.).
Na Europa e na América do Norte, onde os movimentos operários e sociais tiveram maior relevo e conseguiram obter maiores vantagens para os trabalhadores, os tempos hoje são, no entanto, de recuo. De recuo nos direitos sociais, nos salários, nos horários e nas condições de trabalho.
A “crise” está dar um jeitão aos principais grupos económicos e empresariais que, mesmo num mercado em retracção, continuam a acumular lucros fabulosos. As maiores fortunas continuam a crescer e o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, em toda a Europa e América do Norte, não pára de aumentar.
Em Portugal, a estratégia de empobrecimento levada a cabo pelo actual Governo visa transformar os trabalhadores em mão de obra cada vez mais barata, trabalhando mais horas e cada vez com menos direitos e menos acesso à saúde, à educação, à habitação.
A pretexto da “crise “acentua-se a transferência de riqueza e de direitos de quem trabalha para os bolsos dos capitalistas, dos banqueiros e dos empresários, numa autêntica contra-revolução revanchista, face à qual os sindicatos maioritários são complacentes. tentando que o descontentamento popular seja canalizado para a luta político-partidária (de que são fiéis serventuários) e não desenvolvendo um projecto autónomo de luta, de resistência e de confronto pela manutenção e ampliação dos direitos dos trabalhadores.
Num altura em que fecham dezenas de empresas e em que milhares de trabalhadores estão a ser despedidos é urgente construir uma alternativa sindical revolucionária, anarco-sindicalista, que traga para o debate e para a prática quotidiana questões tão relevantes como a autogestão ou a acção directa. Que volte a colocar a revolução social na ordem do dia e que faça os novos/velhos arautos do capitalismo entenderem que o sistema capitalista não é, definitivamente, o fim da história e que outro mundo é possível.