Pedro de Matos Filipe, o primeiro preso a morrer no Tarrafal
Anarco-Sindicalista, estivador, foi a primeira vítima do Campo de Concentração do Tarrafal, falecendo aos 32 anos, um ano após a sua chegada. Vítima de biliose, sem qualquer assistência médica.
Pedro de Matos Filipe, filho de Margarida Rosa e de José de Matos Filipe, nasceu em Almada em 19 de Junho de 1905. Era carregador/estivador de porto e sindicalista. Presidia à assembleia geral da Associação “Terra e Mar”, de Almada. Residia, então, na Quinta da Regaleira, Cova da Piedade.
Participou no movimento de 18 de Janeiro de 1934, em Almada, tendo promovido a greve na fábrica Parry & Son.
Preso em 30 de Janeiro de 1934, acusado de posse de explosivos e bombas, que não chegou a utilizar, foi condenado pelo Tribunal Militar Especial a 12 anos de degredo e multa de 20.000$00.
Enviado, em 8 de Setembro de 1934, para a fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo.
Seguiu para o Tarrafal em 23 de Outubro de 1936, vindo a falecer em 20 de Setembro de 1937, de biliosa, sem qualquer assistência médica ou farmacêutica (1).
Segundo Acácio Tomás de Aquino (2), Pedro de Matos Filipe, que “era um dos rapazes mais fortes do Acampamento”, quando morreu “estava reduzido a pele e osso”. No último encontro com o amigo, este disse que estava “com uma diarreia de sangue há bastante tempo, e o médico nada me fez até à data!” [O Segredo das Prisões Atlânticas, A Regra do Jogo, 1978, p. 94].
O seu nome está assinalado numa rua da Cova da Piedade, Almada.
Notas:
(1) No mesmo dia, também morreu o marinheiro Francisco José Pereira, de 28 anos. Foram as duas primeiras vítimas do Campo de Concentração do Tarrafal.
(2) Acácio Tomás de Aquino (1899 — 1998) foi um militante destacado da Confederação Geral do Trabalho, anarco-sindicalista, organizador da greve geral de 18 de Janeiro de 1934 e então condenado a 12 anos de degredo em prisão. Com Pedro de Matos Filipe (e outros antifascistas), seguiu para Angra do Heroísmo a 8 de Setembro, sendo transferidos para o Tarrafal, a 23 de Outubro de 1936. Regressou a Portugal a 10 de Novembro de 1949. Todavia, só alcançou a liberdade total, a 22 de Novembro de 1952.
Biografia de João Esteves com colaboração de Helena Pato
Ficha da Policia / Registo Geral de Presos (RGP)
aqui: https://www.facebook.com/FascismoNuncaMais/posts/1008979245878121/
também aqui:
https://mindelosempre.blogspot.com/2016/07/2270-um-anarquista-o-campo-de-morte-do.html
http://www.estelnegre.org/documents/matos/matos.html
Placa toponímica na parte mais alta da rua
Placa toponímica na parte mais baixa da rua