efeméride

(Última Barricada) Ainda os 100 anos de ‘A Batalha’


[Evento Histórico – Centenário 🎂]
No dia 23 de fevereiro celebramos o centenário da publicação do primeiro número do jornal A Batalha  órgão da União Operária Nacional (UON) 🤝 e, posteriormente, órgão da Confederação Geral do Trabalho.

Um marco na história da classe trabalhadora portuguesa que não deve ser esquecido.

Longa vida a quem luta! 🚩🏴🚩🏴

Fontes:
Jacinto, Batista, “Surgindo Vem ao Longe a Nova Aurora”, 1977.
Pereira, Joana Dias, “Sindicalismo Revolucionário: A história de uma idéa”, 2009.
Sousa, Manuel Joaquim, “Últimos Tempos de Acção Sindical Livre e do Anarquismo Militante”, 1989.
Arquivo Municipal de Lisboa
Projecto MOSCA

Música:
Carlos Paredes – “Danças portuguesas nº 2”.

Autor: Colectivo Última Barricada

Hino de ” A Batalha”

Se estiverem interessados em ouvir o hino deste jornal, o camarada JG tratou de reescrever a música para formato digital (in Última Barricada)

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https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2018/01/22/recordando-o-hino-revolucionario-de-a-batalha/comment-page-1/

https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2019/02/22/a-batalha-100-anos-de-luta-por-um-mundo-novo-sem-explorados-nem-exploradores-sem-oprimidos-nem-opressores/#more-22902

Video sobre A Batalha e o anarcosindicalismo em Portugal (1886-1975):

https://archive.org/details/MemriaSubversivaAnarquismoESindicalismoEmPortugal1886-1975

Kronstadt, 1921: o princípio do fim da Revolução Russa


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No final de Fevereiro de 1921 eclodiu a revolta dos marinheiros de Kronstadt, cidade portuária onde estava baseada a frota russa do mar Báltico, situada na ilha de Kotler, no Golfo da Finlândia, perto de Petrogrado (Rússia). A revolta foi desencadeada contra o poder dos comissários bolcheviques e contra a falta de alimentos e de outros bens de primeira necessidade. A insustentável situação económica que a Rússia atravessava levou a  levantamentos nos campos (Rebelião de Tambov), assim como a greves nas fábricas das cidades.

No dia 26 de Fevereiro, face aos acontecimentos em Petrogrado, a tripulação dos barcos  Petropavlovsk e Sevastopol reuniram-se de emergência e aceitaram enviar uma delegação à cidade para investigar e informar sobre o movimento grevista. Quando a delegação regressou a 28 de fevereiro e informou sobre as greves, os marinheiros apoiaram os operários e repudiaram a repressão do governo comunista contra os grevistas.

Os marinheiros, que tinham sido os líderes da revolução russa, pronunciaram-se a favor de “Sovietes livres”, totalmente desligados da tutela política dos comissários comunistas, pelo direito à livre expressão e pela total liberdade de acção e de comércio. Desde Janeiro de 1921, 5.000 marinheiros tinham abandonado o Partido Comunista. As suas reivindicações por melhorias nas condições de vida misturaram-se com as fortes aspirações libertárias da maioria.

Depois de fracassarem as suas reivindicações, os marinheiros de Kronstadt levantaram-se contra o governo bolchevique em março de 1921 sendo violentamente reprimidos pelo Exército Vermelho a mando de León Trostky, que terá dito, referindo-se aos marinheiros insurrectos, para pararem os protestos ou “seriam caçados como coelhos”.

Como os marinheiros mantiveram as suas reivindicações, dois dias mais tarde, a 7 de Março, começou a invasão de Kronstadt pelo Exército Vermelho. Protegidos na fortaleza, os amotinados conseguiram defender-se e enviaram a seguinte mensagem a propósito do 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

“Da Kronstadt libertada para todas as operárias do mundo: nós, os de Kronstadt, sob o fogo das armas, sob o rugido das bombas que caem sobre nós (…) dirigimos as nossas saudações fraternas às trabalhadoras de todo o mundo. Saudações da Kronstadt vermelha rebelde, do império da liberdade. Que os nossos inimigos tentem destruir-nos. Somos fortes. Somos invencíveis!”

Uma parte dos amotinados foi executada, outra enviada para prisões afastadas, nas  ilhas Solofki, no Mar Branco, ao norte da atual Federação Russa, enquanto 8 mil insurrectos conseguiram fugir de Kronstadt pelas águas geladas do Mar Báltico.

Era o principio do fim da Revolução Russa que tanta solidariedade, entusiasmo e adesão tinha conquistado entre os trabalhadores e os operários de todo o mundo, mas cuja deriva autoritária rapidamente transformou a Rússia, de novo, num reino de terror e morte, governada por uma oligarquia fanática em que a ditadura do partido se impôs sobre o conjunto da sociedade.

Em 1921, a revolucionária anarquista de origem russa, Emma Goldman estava em Petrogrado e serviu mesmo de intermediária entre os insurrectos de Kronstadt e o governo bolchevique, datando também desta altura a sua ruptura com as autoridades bolcheviques e a sua “desilusão” com o rumo da revolução soviética, tendo abandonado a Rússia pouco depois.

relacionado: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2014/03/01/fev-marco-de-1921-a-revolta-dos-marinheiros-de-kronstadt-contra-o-terror-bolchevique/

Nos 100 anos da morte de Rosa Luxemburgo, a antítese do comunismo autoritário



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Hoje recordamos Rosa Luxemburgo, que foi violentada, humilhada e assassinada pelos freikorps (milícias civis de características paramilitares) a 15 de Janeiro de 1919. Socialista revolucionária polaca, Rosa Luxemburgo foi a antítese do comunismo totalitário.

CAPI VIDAL

Lendo os textos de Rosa Luxemburgo percebe-se até que ponto se opõem ao espírito totalitário que caracteriza o comunismo nascido na Revolução Russa de 1917. Uma crítica lúcida ao desenvolvimento do socialismo de Estado não pode limitar-se a Stalin, sem começar com Lenin e Trotsky . Rosa Luxemburgo nasceu na Polónia em 1871, no seio de uma família judia rica, e aos 18 anos teve que abandonar o país devido à sua atividade revolucionária. A partir de 1896, a Alemanha torna-se no centro da sua militância; em 1905 participou no levantamento revolucionário russo daquele ano, e por isso esteve presa numa fortaleza em Varsóvia. Ainda que tenha militado algum tempo no Partido Social-Democrata alemão,  em 1914 abandonou-o pela traição cometida à causa dos trabalhadores e fundou o ‘Grupo Internacional’, que se transformaria na Liga Espartaquista e, mais tarde, no final de 1918, no Partido Comunista da Alemanha.

Muitos viram nela uma figura integra e isenta do autoritarismo de Lenin e de outros marxistas. No entanto, nos seus textos, demonstra uma certa ortodoxia marxista que redundava em sectarismo, o qual a levava a não reconhecer outro socialismo que não fosse o do seu mestre. Naquela época, a revolução proletária é entendida como uma necessidade que depende das condições económicas, como formulou Marx no “Capital”; se mais tarde reivindica, de maneira mais lúcida, a luta sindical e a espontaneidade operária, nesse momento para ela estas são questões menores.

A experiência revolucionária de 1905 vai fazê-la mudar de opinião e escreve um ano mais tarde o folheto “Greve de massas, partido e sindicatos” em que reconhece que a sua opinião sobre a greve geral se tinha tornado obsoleta (lembremos que já Engels tentara ridicularizar , num panfleto contra Bakunin de 1873, a greve geral como um método revolucionário). Agora reivindica o que o sindicalismo revolucionário de influência anarquista já estava a fazer em França e nos países latinos, desde o final do século XIX. Luxemburgo, numa fase de maturação do seu pensamento,  atribui à  massa trabalhadora uma grande capacidade criativa e revolucionária, e implicitamente nega algumas ideias de Marx e Engels em questões de estratégia, e critica , de forma antecipada, a visão leninista da revolução como uma férrea disciplina organizada no partido.

Já em 1904, Luxemburgo criticava o ultra-centralismo de Lenin, que considerava animado por um espírito policial, acusando-o de introduzir esquemas conspirativos; expressa a sua repugnância pela centralização excessiva e pela hegemonia de uma elite profissional de revolucionários. Com a revolução bolchevique, denunciará fortemente o cesarismo imposto por Lenin e Trotsky às massas russas; os três pontos básicos que criticou foram a supressão da democracia, a reforma agrária e o problema das nacionalidades, naturalmente a partir de uma perspectiva revolucionária. Segundo o programa da Liga Espartaquista, : ” O carácter da sociedade socialista consiste no facto de que a massa operária deixa de ser uma massa dirigida e converte-se no próprio protagonista da vida politico-económica, que ela própria passa a dirigir em consciente e livre autodeterminação”.Segundo este Programa, o Estado é substituído, a todos os níveis, pelos órgãos dos trabalhadores. Frente ao centralismo e à hierarquia bolcheviques, Luxemburgo defende um socialismo descentralizado, proletário e radicalmente horizontal; os pontos em comum com o anarquismo são inegáveis, apesar de existirem ainda certos conceitos marxistas discutíveis. Outro aspecto louvável do Luxemburgo é a sua rejeição pelo terror revolucionário, o seu desprezo absoluto pelo crime como meio de alcançar objetivos revolucionários.

Rosa Luxemburgo é talvez a primeira figura revolucionária, dentro do campo marxista, que questionou a tese do mestre a partir de posições claramente socialistas e com intenções científicas; assim acontece na obra “A acumulação de capital”, escrita em 1912. A ortodoxia marxista recebeu com hostilidade o livro que refutava alguns dos argumentos apresentados no “Capital”. Dois anos depois de ter sido escrita a obra de Luxemburgo, eclode a Primeira Guerra Mundial eclodiu e confirmavam-se algumas das suas teses, a luta de interesses das grandes potências europeias pelas colónias e pelos mercados.

aqui: http://reflexionesdesdeanarres.blogspot.com/2013/07/rosa-luxemburgo-la-antitesis-del.html

📖Rosa Luxemburg y la espontaneidad revolucionaria [1971] Daniel Guérin [Ed. Libros de Anarres. 2004]

📖Rosa Lusembug o el precio de la libertad – [Jörn Schütrumpf, historiador y director de la Editorial Karl Dietz Berlin. Ecuador. 2011]

Descarregar estas obras (em castelhano): https://goo.gl/zFPUv2

(Faro) Almoço de homenagem à memória de Júlio Carrapato reuniu mais de duas dezenas de familiares e amigos


 

Um almoço evocativo da memória do anarquista Júlio Carrapato teve lugar esta quarta-feira, 19 de Julho, em Faro, no dia em que faria 70 anos, reunindo mais de duas dezenas de familiares, amigos e companheiros de ideal.

Júlio Carrapato, editor, tradutor, professor universitário e uma das referências do anarquismo em Portugal, morreu há um ano, deixando uma profunda saudade entre familiares e amigos.

Este almoço de homenagem ao Júlio foi organizado pela sua companheira e pelo filho de ambos, Daniel Carrapato, que lançou o repto para que todos os presentes escrevessem um pequeno (ou grande) texto sobre um episódio, uma conversa, um debate, um encontro relacionado com Júlio Carrapato, de forma a que daqui a um ano, num almoço deste género, se pudesse organizar um pequeno volume com essas prosas.

Este encontro serviu também para que alguns companheiros, que não se viam há muito, vindos de Lisboa, Almada ou Évora se pudessem reencontrar e partilhar memórias e realidades diversas num ambiente de salutar companheirismo.

Foi bonita a festa, pá!

 

(Lisboa) Exposição e Colóquio assinalam 200 anos do nascimento de Henry Thoreau


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Assinala-se este ano o bicentenário do nascimento de Henry David Thoreau, um dos percursores do pensamento libertário, da ecologia e do ambientalismo. ‘Walden’ e ‘A Desobediência Civil’ são dois dos seus livros mais conhecidos e com tradução em português. Para assinalar os 200 anos do seu nascimento vai-se realizar nos dias 10 e 26 de Abril na Biblioteca Nacional, em Lisboa, um conjunto de iniciativas que vão contar com a presença de investigadores como Júlio Henriques, António Cândido Franco, Paulo Guimarães, Jorge Leandro Rosa e Paulo Borges, entre outros. (programa aqui)

(mais…)

(Lisboa, Porto, Coimbra, Setúbal…) #8M Não Me Calo!


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#NiUnaMenos #VivasNosQueremos– Paralisação Internacional de Mulheres, concentração #8M Não Me Calo! | International Women’s Strike

Sob o mote “ Não me calo, nem trabalho – Basta!”, para amanhã, 8 de Março, está convocada uma paralisação internacional de Mulheres a nível mundial. Neste momento mulheres de mais de 49 países vão parar e sair á rua em protesto contra a violência machista, a opressão e exploração de que são alvo, e as desigualdades que afetam milhões de mulheres em todo o mundo.

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Em #Lisboa, Rossio, 18H

“Nós, mulheres, fazemos greve e saímos à rua em todo o mundo! Fomos milhões na Marcha Global Anti-Trump e no dia Internacional da Mulher seremos muito mais! Unimo-nos às companheiras dos mais de 30 países que já aderiram a International Women’s strike / Paro Internacional de Mujeres. Dia 8 saímos à rua!” Dizem as mulheres de diferentes colectivos feministas de Lisboa que conjuntamente foram a rede 8 de Março que afirmam querer “deixar de ser o resultado de uma educação machista, racista e competitiva. Para isso juntamos lutas comuns, afirmamos a solidariedade e agimos em conjunto para ampliar o campo do possível, tomando o futuro nas nossas mãos.” Evento de Lisboa | http://bit.ly/2mctiMc

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No #Porto, Tridade, 18 H

Dia 8 de Março de 2017, as mulheres mobilizam-se por todo o mundo. Unidas protestamos contra o avanço do conservadorismo.
É dia de marcha contra a misoginia, o machismo e todas as formas de violência de género, tais como a violação, a violência doméstica, o racismo, a transfobia e a lesbofobia.
O primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado em 1909 nos Estados Unidos, em memória do protesto das operárias da indústria do vestuário de Nova York contra as más condições de trabalho. Muita luta ocorreu desde então e o dia 8 de Março é celebrado como o dia internacional das mulheres, não para enaltecer a beleza e graça femininas, mas para se afirmar como um dia de luta das mulheres trabalhadoras pelo reconhecimento dos seus direitos à igualdade de condições sociais, que incluem trabalho, remuneração digna, e muito mais.
Por essas razões, o Festival Feminista do Porto apela a todas as pessoas, colectivos e associações que se revêem nestas lutas que se juntem à Arruada Feminista, para abanarmos as ruas do Porto em solidariedade com todas a vítimas e resistentes do patriarcado!
Aqui estamos para dar vivas a todas as invisíveis que carregam este mundo. Às mulheres. Às que lutam para ter comida na mesa. Às mães solteiras. Às negras. Às que sobreviveram à violência dos homens. Às que não sobreviveram. Às que são invadidas pelo racismo. Às mutiladas. Às presas. Às pessoas trans. Às putas. Às gordas. Às peludas. Às fufas. Às histéricas. Às que resistem e a todas aquelas que são vítimas do patriarcado.
Este 8 de Março de 2017, seguimos nas ruas pelos nossos direitos! Nem um passo atrás!
Saudações feministas, Festival Feminista do Porto”|
Evento no Porto:  https://www.facebook.com/events/1872243156385989/

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Em #Coimbra, Praça 8 de Maio, 15H,30

A Assembleia Feminista de Coimbra “apela à PARALISAÇÃO das mulheres enquanto acto de mobilização e reivindicação feminista. Neste 8 de Março, fazem greve e vamos paralisar todas as nossas actividades dentro e fora de casa, remuneradas e não remuneradas, como forma de luta e mobilização, porque sobre nós, mulheres – sobretudo as negras e as migrantes – recai um sem número de trabalhos e actividades invisibilizadas e desvalorizadas. Recusamos a precariedade imposta pelo sistema neo-liberal: dos nossos salários, perspectivas laborais e, acima de tudo, dos nossos tempos de vida e afetos. Apelamos a que todas as mulheres, a partir dos seus territórios e das suas práticas, se juntem a nós este 8 de Março – na insurgência contra este sistema patriarcal e capitalista que arruína as nossas vidas! A solidariedade é a nossa força! “| Evento em Coimbra | http://bit.ly/2mOW8G9

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Em #Setúbal, Largo da Fonte Nova, 17h,30

O “Projeto SIGA, através da iniciativa voluntária da Vanessa Amorim e do João Santos, adere à iniciativa internacional 8M – International Women’s Strike/ Paralisação Internacional das Mulheres Concentração 8M Não Me Calo! Em Setúbal queremos assinalar este dia, queremos sair à rua, mulheres e homens, reivindicando a igualdade. Não nos calamos! “ Evento em Setúbal | http://bit.ly/2mfKMtb

Mais informações | Assembleia Feminista Lisboa ; Assembleia Feminista de Coimbra ; 8M Portugal ; Rede 8 de Março; Festival Feminista do Porto

aqui (com acrescento do evento no Porto): Guilhotina.info

Zeca Afonso: ‘Sua canção abriu estradas/ cantou nos campos, cidades,/ nunca nos paços de el-rei’


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José Afonso (1929 – 1987) foi um cantor de intervenção que sempre suscitou admiração em diversos meios libertários. Sem nunca se ter assumido enquanto tal, os temas escolhidos e a textura da sua poesia, aliados ao facto de nunca ter estado partidariamente alinhado (a não ser temporariamente na LUAR, uma organização que agrupava um grande número de libertários) fizeram com que muitos anarquistas tivessem uma grande simpatia por Zeca Afonso (para além da qualidade da sua música e poesia), reforçada por afirmações deste quando referia ser o seu “próprio comité central” ou o que era necessário era “provocar desassossego”.

Canções como “Utopia”, “Vejam Bem”, “Menino do Bairro Negro”, “Os Vampiros”, “Como se Faz um Canalha”, ou “Os Índios da Meia Praia”, entre tantas outras, foram também hinos muitas vezes cantados e adoptados por libertários – embora o movimento anarquista organizado, nesses anos conturbados do pós 25 de Abril de 1974, tivesse pouca expressão pública e mal se conseguisse distinguir da profusão de seitas m-l que apareceram um pouco por todo o lado.

A solidariedade, a liberdade, a igualdade, a utopia foram palavras e conceitos usados habitualmente por José Afonso e que constituíram sempre palavras importantes no vocabulário anarquista, tornando a identificação das canções do Zeca com o ideário libertário uma constante.

Exemplo desta ligação entre o Zeca e muitos libertários foi o destaque dado pela revista anarquista Antítese, no nº 8 de Fevereiro de 1988 (um ano depois da sua morte), com uma evocação de José Afonso na capa e um poema no interior assinado por Rui (Rui Vaz de Carvalho o editor da revista?), a assinalar a relação fraterna com a obra e a figura do Zeca.

23-2-87
Morreu José Afonso.
Morreu de solidão
24-2-87

Colheu palavras nos prados,
bebeu água em suas fontes,
andou pela chuva dos montes
em busca de um arco-íris.

Do amarelo fez um sol
no meu caderno de infância,
vermelha  a rosa pintou
e espalhou a sua fragância,
do roxo nasceram lírios
nos campos da nossa dor.

Na terra onde nasceu
chamaram-lhe o trovador.

De jogral não se vestiu
nem tampouco usou gravata,
inventou meninos d’oiro
em cada bairro de lata.

Rio acima eis a fragata
de que foi timoneiro
rasgando as águas paradas,
as águas turvas da lei.

Sua canção abriu estradas,
cantou nos campos, cidades,
nunca nos paços de el-rei.

Das ondas duma seara
colheu ele a melodia
e seus versos foram rios
nos campos do Alentejo,
foram lágrimas de raiva
nos olhos da poesia.

Ervas daninhas cresceram
nas terras que ele plantou
e os ventos de toda a sorte
moveram os cataventos,

mas o que mais lhe custou
foi ver o seu povo rendido
às vozes do parlamento.

Viu muita vela enfunada
em busca de novas Índias,
viu poetas e cantores
correrem atrás da fama,

mas o que mais lhe custou
foi ver o povo sem chama
seguindo novos senhores.

E a lua em quarto minguante
descia sobre Azeitão
onde o trovador vivia
distante da sua terra,
em sua terra emigrante.

Rio acima eis a fragata
de que foi o timoneiro
rasgando as águas paradas,
as águas turvas da lei.

Sua canção abriu estradas
cantou nos campos, cidades,
nunca nos paços de el-rei.

Rui

relacionado: http://www.jornalmapa.pt/2017/02/11/panegirico-jose-afonso/

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Agostinho da Silva (13 de Fevereiro de 1906 – 3 de Abril de 1994)


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Passam hoje 111 anos do nascimento do Professor Agostinho da Silva (1906-1994), um dos autores mais interessantes das letras e da cultura escrita e falada em português.

Agostinho da Silva é certamente dos autores, juntamente com Pessoa e Teixeira de Pascoais, que mais falaram e se dedicaram a perscrutar o que é ser português. Mas, ao contrário de qualquer nacionalismo serôdio, o seu motivo de interesse é eminentemente de tipo universalista e humanista. Aliás, uma das suas frases mais conhecidas – « Só então Portugal, por já não ser, será» – revela todo a sua visão universalista que encontra em Portugal a consumação da Humanidade. Talvez não por acaso Agostinho da Silva é um biógrafo dedicado, um autor para quem a educação é um dos seus temas predilectos.

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(efeméride) Adelaide Cabete, a ‘Louise Michel’, nasceu há 150 anos


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Assinalam-se hoje os 150 anos do nascimento de Adelaide Cabete, alentejana, natural  de Elvas. Formada em medicina, foi colaboradora e dirigiu várias publicações dirigidas às mulheres. Republicana e filiada na maçonaria – que hoje celebra o seu nascimento – , onde adoptou o nome da anarquista francesa Louise Michel, o que prova que “era alguém muito próxima dos ideais anarquistas”, como sustenta a investigadora Isabel Lousada nesta entrevista. Adelaide Cabete foi também uma assídua colaboradora do jornal anarco-sindicalista “A Batalha”, orgão da CGT. 

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De seu nome completo Adelaide de Jesus Damas Brazão Cabete, nasceu em Elvas, freguesia de Alcáçova, a 25 de Janeiro de 1867, filha de Ezequiel Duarte Brazão e de Balbina dos Remédios Damas. Oriunda de uma família humilde, começou a trabalhar muito nova e casou com o sargento republicano Manuel Fernandes Cabete, que a incentivou a estudar.

Em 1889 prestou o exame de instrução primária e, em 1894, concluiu o curso liceal. No ano seguinte mudou-se para Lisboa, onde se matriculou no ano seguinte na Escola Médico-cirúrgica, instituição onde concluiu o curso em 1900 com a tese Protecção às Mulheres grávidas Pobres como meio de promover o Desenvolvimento físico das novas gerações (1900).

Republicana militante, participou activamente na propaganda que antecedeu a mudança de regime em 1910. Professora no Instituto Feminino de Odivelas e médica, procurou sempre defender a melhoria das condições de vida das crianças e das mulheres, com particular ênfase na luta contra a prostituição e o alcoolismo. Propagandista do feminismo fundou e presidiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e da Cruzada Nacional das Mulheres Portuguesas, à Liga Portuguesa Abolicionista, às Ligas de Bondade e dirigiu a revista Alma Feminina (1920 – 1929).

Na Universidade Popular Portuguesa organizou um curso de Higiene e Puericultura. Participou no Congresso Internacional de Ocupações Domésticas (Gand, 1913), no Congresso internacional Feminino de Roma (1923), no Congresso do Conselho Internacional das Mulheres (Washington, 1925), nos I e II Congressos Feminista e da Educação (1921 e 1928), nos Congressos Abolicionistas (1926 e 1929). Viveu em Angola entre 1929 e 1934, onde continuou a sua acção a favor da higiene e da assistência. Colaborou em numerosas publicações periódicas como: Educação, Educação Social. O Globo, A Mulher e a Criança, Pensamento, O Rebate.

Iniciada em 1 de Março de 1907, na Loja Humanidade, com o nome simbólico de «Louise Michel». Atingiu os graus 2 e 3º em 1 de Março de 1907, 4º em 28 de Julho de 1910, 5º, 6º e 7º em 16 de Janeiro de 1911. Grau 30º do REAA em 28 de Outubro de 1923. Conservou-se na Loja no período em que laborou sob os auspícios do Grande Oriente Lusitano Unido (até 1913 e depois de 1920 até 1923) e posteriormente, após a adesão da Loja Humanidade à Ordem Maçónica Mista Internacional O Direito Humano, em 1923. Foi eleita várias vezes Venerável da sua Loja e Grã-Mestra do Areópago Teixeira Simões (1926).

Morreu em Lisboa, na freguesia de São Sebastião da Pedreira, a 19 de Setembro de 1935.

(1918) A greve geral em Vale de Santiago e o assassinato de Sidónio Pais


 

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Bilhete-Postal de 1919, retratando o assassinato do Presidente Sidónio Pais na Estação Ferroviária de Lisboa-Rossio, no dia 14 de Dezembro de 1918

Passam hoje 98 anos sobre o assassinato de Sidónio Pais, presidente da 1ª República e um dos precursores do fascismo europeu. A sua morte está ligada à greve geral de Novembro de 1918, que teve um eco particular no concelho de Odemira, no Vale de Santiago, e que foi violentamente reprimida. Num e noutro caso, aparece como figura destacada José Júlio da Costa, o alentejano que matou Sidónio Pais, na Estação do Rossio, em Lisboa, com 25 anos de idade.

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