Month: Outubro 2016

(nº 271) Jornal “A Batalha” com redacção reforçada


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Saiu o nº 271 do Jornal “A Batalha”, antigo órgão da Confederação Geral do Trabalho (CGT) agora numa versão renovada, de que já nos podemos aperceber neste número.

Nesta edição, a manchete vai para a Rede de Informação Alternativa (de que o Portal Anarquista faz parte) que ocupa as páginas centrais do jornal; os 80 anos da Revolução Espanhola; um artigo de Rui Eduardo Paes sobre “um novo hino anarquista”; a situação no Brasil; uma análise à situação que se vive na ZAD de Notre-Dame-des- Landes; um artigo de Gonçalves Correia, sobre a “Comuna da Luz”, publicado no jornal “A Questão Social”, de 1916, entre vários outros temas de interesse.

Recentemente a redacção de “A Batalha” foi reforçada com a entrada de novos elementos, dos quais se espera – em conjunto com os companheiros que até agora têm tido a responsabilidade de editarem regularmente este jornal de expressão anarquista – que consigam dar a este antigo quotidiano, agora bimestral, um novo fôlego, adequando-o às questões e aos problemas que hoje se colocam à expansão do movimento libertário.

Aos novos e aos antigos colaboradores de “A Batalha”, uma forte saudação libertária!

(Porto) Concentração em solidariedade com Maria de Lurdes


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Este sábado, no Porto!

Fotos de Mar Velez

sobre este caso: https://wordpress.com/post/colectivolibertarioevora.wordpress.com/17059

https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2016/10/23/algumas-fotos-da-vigilia-pela-liberdade-de-maria-de-lurdes-esta-sexta-feira-2110-em-lisboa/

https://www.facebook.com/groups/1126506747443601https://www.facebook.com/groups/1126506747443601

29 de Outubro de 1936: entra em funcionamento o campo de concentração do Tarrafal


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Precisamente há 80 anos, no dia 29 de Outubro de 1936, chegava ao Tarrafal, em Cabo Verde, a primeira leva de 152 presos, inaugurando assim este campo de concentração do fascismo português que iria ter duas fases: até 1954 para os anti-fascistas portugueses e entre 1961 e 1974 para os nacionalistas africanos.

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Carta do Brasil: “A situação aqui é crítica. Tenho medo até de um novo golpe militar.”


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Publicamos este texto de Francisco Castillo, que foi inserido na caixa de comentários na página do facebook do Portal Anarquista em que dávamos destaque à intervenção da estudante Ana Júlia, na  assembleia legislativa do Paraná. O texto sintetiza as razões de luta dos estudantes brasileiros e as suas apreensões face à resposta autoritária do governo e das autoridades.

*

Não só contra essa proposta de censura que nós estamos nos organizando. Nós também estamos lutando contra diversos abusos do governo de legitimidade duvidosa (apesar de eu achar que qualquer tipo de regime onde não haja democracia direta é ilegítimo) que quer fazer cumprir a todo custo e com medidas autoritárias uma agenda liberal que começa com uma emenda constitucional (a PEC 241) que corta por 20 anos investimentos em saúde, educação, programas sociais, previdência e em outras áreas vitais para a população brasileira. O mais revoltante que isso acontece ao mesmo tempo que todos os políticos estão aumentando os próprios salários (prática extremamente comum no Brasil) (os salários devem estar girando em torno de R$ 40.000 em media, o que da mais de 10.000 euros, e isso sem as dezenas de benefícios).

Alem dessa emenda constitucional, eles estão querendo censurar o direito de liberdade de expressão dos professores em sala de aula (como vcs ja sabem) e absurdos ainda maiores, como cortar sociologia e filosofia do currículo. Mas, como se não bastasse, este governo ainda promete fazer uma grande reforma trabalhista e previdenciária no próximo ano, que reduzira em muito os direitos dos trabalhadores e dos aposentados. Contratos de terciarização poderão prevalecer sobre a legislação trabalhista. Alem disso tudo, existe um plano a longo prazo da base aliada deste governo de terciarizar todos os serviços públicos e de privatizar a saúde e a educação do país, medida que é apoiada pela nossa desprezível direita que se embaseia na escola austríaca, nos ditadores militares que governaram o pais e no desprezível ditador chileno Pinochet.

Apesar de estarmos ocupando as escolas e lutando com todas as nossas forças, não estamos conseguindo mobilizar a população do pais em favor a nossa causa, já que ela se encontra alienada por uma midia neoliberal e enfurecida contra a demagogia e a corrupção do ultimo governo q se dizia de esquerda que acabou de cair devido a uma politicagem mafiosa executada no congresso.

Acho que estou aqui em um pedido de socorro para vocês, já que vejo que aí na europa vocês conseguem fazer uma oposição muito mais forte a esse tipo de coisa. Nós no Brasil já sofremos com as oligarquias nacionais e com o imperialismo internacional durante os últimos 200 anos. A situação aqui é crítica. Tenho medo até de um novo golpe militar.

Francisco Castillo

Cenas da vida conjugal (também a propósito do filme “uma nova amiga”)


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(Alegro ma non troppo). Tenho visto multiplicar-se por aqui a «teoria do homo rinocerontido». Esta teoria afirma que o homem deriva do rinoceronte pois é melhor estar só do que mal acompanhado. Não admira: o FB é uma tribuna para gente afectada e muito profissional, propagandistas partidários, de candidatos a qualquer coisa, eventualmente espaço para brincadeiras entre amigos, mas é sobretudo um lugar de fotos de cães, gatos e de máximas. Máximas que são guias para uma vida feliz, muitas vezes repassadas por gente mais ou menos só, mais ou menos frustrada e/ou mal acompanhada.

Mas ao contrário do que afirma a «teoria do homo rinocerontido», a maioria da espécie humana nasce e vive mal acompanhada: nasce quase sempre num país errado e numa família «nuclear», quando não «monoparental», com pais autoritários ou «bananas», mães frustradas, ambos esgotados pela flexibilização laboral ou por tarefas gestionárias, crianças que ainda bebés levam vidas estressantes a caminho da comuna-infantário na versão soft maoista.

Com sorte, as crianças têm avós por perto. Os felizardos crescem ainda com a noção de comunidade, crescem com a convicção que vivem numa sociedade que se importa com eles e que «valem alguma coisa» para além da posição que ocupam numa sociedade aferida pelo trabalho. Os místicos continuam a pensar na salvação pelo Estado-Nação. Os mais afectados, em versão existencialista, acham que os outros são «o inferno». São estereótipos evidentemente. Mas não é isso a que se refere a afirmação «mais vale só do que mal acompanhado». Refere-se aos afectos do casal, à vida infernal desenvolvida no gueto doméstico, que é objecto de excelente dramaturgia.

Ora, o homem não é um rinoceronte (Ceratotherium simum): não nasceu para viver sozinho, não se sente bem na «solitária» mesmo se tem a forma de apartamento-gaiola com tv, futebol, novelas e Internet. A «teoria do homo rinocerontido» é, na verdade, a teoria do «amor romântico» invertido.

O «amor romântico» foi amplamente cultivado nos últimos séculos e deu-nos óperas extraordinárias. No essencial, diz que o indivíduo deve buscar a «sua» felicidade na terra. E a felicidade consiste em encontrar a tal pessoa especial que nos faz feliz.

Esta revela-se frequentemente uma tarefa árdua, esgotante, frequentemente dolorosa, que tem a vantagem de, terminada a busca, o casal se aborrecer em privado. O indivíduo começa por consumir produtos de beleza, ginásios, discotecas e continua por aí fora pelo IKEA e pela WORTEN até ao empenhamento total… à banca.

No essencial, a «teoria do amor romântico» afirma que realização do indivíduo faz-se através do outro (objecto amoroso) e da “domus”, condição necessária para uma procriação «consciente».

Vem tudo isto a propósito duma fita que vi ontem: “uma nova amiga”. No essencial, retrata o amor «trans» no feminino. Um filme bem-intencionado, que pretende quebrar tabus (?), apaixonado pelo feminino na versão francesa de classe média-alta. Mas tudo acabou bem: com a formação de um novo casal com um novo rebento a caminho. Enfim, novas famílias. Mais um esterótipo. Tudo acaba bem desde que o código civil não seja abolido.

Que tédio! (Em baixo temos o supradito, espécie que, apesar da aparência, não tem sido capaz de resistir à economia de mercado por falta de flexibilidade e vida conjugal)

Paulo Guimarães (aqui)

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(Brasil) “Vocês são o Estado e têm as mãos sujas de sangue!”


Mais de mil escolas ocupadas no Brasil! A “escola sem partido” que a direita pretende impôr no Brasil é a escola sem política, sem opinião. A escola castrada e castradora, normalizadora e acrítica.Contra isto se levantam os estudantes brasileiros.

Ana Júlia, de 16 anos, do Colégio Estadual Manuel Alencar Guimarães, na Assembleia Legislativa do Paraná usou da palavra representando as cerca de mais de mil escolas e institutos federais ocupados no estado, na tarde desta quarta-feira.

“A nossa única bandeira é a educação. Somos um movimento apartidário, dos estudantes pelos estudantes” disse Ana Júlia, acrescentando que as mudanças no ensino pretendem “formar uma exército de não pensantes”. Dirigindo-se aos deputados disse: “vocês são o Estado e têm as mãos sujas de sangue”, numa alusão à morte, na tarde de segunda-feira, do estudante Lucas Eduardo Araújo Mota, assassinado por um colega.

aqui: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/27/politica/1477567372_486778.html

Sobre a PEC 241 – http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/politica/1476125574_221053.html

Miguel Sousa Tavares e o “seu a seu dono” quanto à autoria da frase “a propriedade é um roubo”


 

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Proudhon e as filhas retratados por um amigo, o pintor e futuro elemento da Comuna, Gustave Courbet, no ano de 1865

No passado dia 24 de Setembro, o antigo jornalista e actual cronista  e opinador em-tudo-quanto-é-sítio, Miguel Sousa Tavares, numa crónica no semanário “Expresso” intitulada “Várias Mentiras e um Imposto” mostrou o que toda a gente já descobriu – que é um ignorante na maior parte dos assuntos que comenta.

E provou-o, mais uma vez, ao atribuir a Engels uma frase mil vezes repetida que não é, reconhecidamente, do companheiro e financiador de Marx. Referiu-se o dito Miguelito, enquanto desenvolvia o seu raciocínio a refutar a política de impostos do governo, à “pura e simples ideologia fundada na célebre frase de Engels («Toda a propriedade é um roubo»)”, uma frase que pertence a Proudhon, o anarquista que tanta influência ainda hoje tem no movimento libertário internacional.

Para Sousa Tavares – e para quem queira aprender um pouco mais do que os lugares comuns transmitidos pela comunicação a que “temos direito” –  deixamos uma ligação para o livro de Proudhon “O que é a propriedade?”, onde fica explícito que toda a propriedade (sobretudo a fundiária) “é um roubo”.

“Se eu tivesse que responder à seguinte pergunta: O que é a escravatura? e respondesse sem hesitar: É o assassínio, o meu pensamento ficaria perfeitamente expresso. Não precisarei de fazer um grande discurso para mostrar que o poder de privar o homem do pensamento, da vontade e da personalidade, é um poder de vida e morte, e que fazer de um homem escravo equivale a assassiná-lo. Porquê, então, a essa outra pergunta: O que é a propriedade? não posso responder simplesmente: É o roubo, ficando com a certeza que me entendem, embora esta segunda proposição não seja mais que a primeira, transformada?

(…) Certo autor ensina que a propriedade é um direito civil, nascido da ocupação e sancionado pela lei; um outro sustenta que é um direito natural, tendo a sua origem no trabalho: e estas doutrinas, ainda que pareçam opostas, são encorajadas e aplaudidas. Eu pretendo que nem o trabalho, nem a ocupação, nem a lei, podem criar a propriedade; que ela é um efeito sem causa: é repreensível pensar assim?

Quanta objecção se levanta!

A propriedade é o roubo! Eis o clarim de 93! Eis o grande barulho das revoluções!…”

(Pierre-Joseph Proudhon, “O que é a propriedade?“. Paris, 1840)

(jjllmadrid) Em dia de greve de estudantes em Espanha: que a desobediência se espalhe!


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Para amanhã foi convocada pelos sectores estudantis ligados aos partidos e ao reformismo sindical uma greve estudantil em Espanha. Uma greve simbólica que serve a agenda partidária e que poucos resultados terá para o dia-a-dia dos estudantes, como referem as Juventudes Libertárias de Madrid que fazem um apelo à desobediência e a acções mais eficazes.

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Que a desobediência se espalhe

Morram as greves domesticadas (e a domesticação)

No reino da obediência tudo se repete, tudo se reproduz. Repetem-se o tédio e a rotina na sala de aula, no bairro ou no trabalho. E neste triste panorama, em que até as ferramentas de luta e ruptura da normalidade, tais como as greves, têm sido domesticadas, a obediência manda sem oposição.

Obediência é o Sindicato de Estudantes e as suas greves de um dia, que só servem para, face à imprensa, justificarem o seu papel traidor. Obediência enlatada é o que nos oferecem todas as organizações juvenis e estudantis (mas, sobretudo, senis) de carácter marxista, esperando poder ocupar o papel do Sindicato de Estudantes. Obediência é lutar pelas cadeias, querendo mudar as suas argolas, mas mantendo intacta a sua opressão: isso é o que significa lutar pela escola pública, pela educação do Estado, pela educação do empresariado e pelas suas necessidades.

Ataquemos a vida domesticada com que os empresários, os políticos (de qualquer partido) e os líderes estudantis nos brindam. Passemos por cima de partidos políticos e sindicatos. É hora de atacá-los e varrer a todos, não para estudar ou trabalharmos mais dignamente, mas para varrermos a opressão, a desigualdade e o tédio das nossas vidas. Acabemos com a escola, o trabalho e o mundo que dele precisa.

Estendamos a revolta dirigindo-a directamente contra o Estado e o Capital. Recuperemos a greve como um ponto de ruptura completa e ponto de encontro na luta dos explorados e exploradas, de forma a proclamarmos o fim da obediência.

Não às greves domesticadas, nem à domesticação!

Fim da obediência!

Juventudes Libertárias de Madrid

[1] https://juventudeslibertariasmadrid.files.wordpress.com/2016/10/que-cunda-la-desobediencia.pdf

tradução: agência de notícias anarquistas-ana (com alterações)

Nos 60 anos da Revolução Húngara: um sopro de liberdade esmagado pelos tanques soviéticos


Se a queda do muro de Berlim constituiu a 9 de Novembro de 1989, simbolicamente e na prática, o fim do bloco soviético e de mais de 70 anos de terror em nome do “socialismo” e do “comunismo” autoritários, como tinha sido antecipado por Bakunin (1), já há muitos anos que os regimes de tipo marxista-leninista, ditatoriais e de capitalismo de estado, eram contestados por largos estratos da população nos mais diversos países do chamado “Pacto de Varsóvia”.

Sem considerar os levantamentos protagonizados por grandes movimentos de trabalhadores logo no início da ditadura dita soviética, como Kronstadt ou a luta dos camponeses ucranianos, com Makhno, a revolução Húngara, em 1956, com a formação de conselhos operários (2) e o levantamento popular nalgumas das principais cidades do país, é um marco importante na história da dissidência e do combate pela liberdade desses povos.

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