A 19 de abril de 2023, três anarquistas foram mortos em combate perto de Bakhmut: um americano chamado Cooper Andrews, um irlandês chamado Finbar Cafferkey e um russo chamado Dmitry Petrov, conhecido por nós, até então ,como Ilya Leshy. Nas nossas redes, durante anos, compartilhámos mensagens com todos estes camaradas.
Pode ler acerca das motivações de Cooper, pelas suas próprias palavras, aqui e consultar um elogio dos seus camaradas aqui . Pode aprender sobre o ativismo de toda a vida de Finbar aqui , ler uma entrevista com ele aqui , e ouvir uma música dele aqui . A seguir exploramos a vida de Dmitry Petrov, que também respondia pelos nomes de guerra Ilya Leshy e Fil Kuznetsov. Como pano de fundo, pode começar por ler as declarações dos seus camaradas da Organização de Combate Anarco-Comunista, do Comitê de Resistência e dos Coletivos de Solidariedade, bem como a declaração póstuma de Dmitry , todas disponíveis aqui .
Algumas semanas antes do início da guerra, Dmitry participou numa entrevista que incluímos na nossa cobertura do desenrolar da situação. No primeiro dia da invasão russa, em condições que devem ter sido desafiadoras, Dmitry reservou um tempo para falar conosco sobre como os anarquistas estavam a responder à situação. Ao longo da troca de várias mensagens no ano seguinte, ficámos impressionados com sua humildade, a seriedade com que abordava os seus esforços e o seu sincero desejo de crítica.1
O jornal “Público” divulgou há alguns dias uma entrevista do linguista e intelectual norte-americano Noam Chomsky sobre a Inteligência Artificial. Por nos parecer uma entrevista significativa e por Chomsky desde sempre se reivindicar do campo libertário e anti-autoritário (afirmando-se anarco-sindicalista) – e por sabermos que ele não cobrou nem um cêntimo por esta entrevista – decidimos torná-la publica, uma vez que no site no jornal ela está reservada aos assinantes. Já passaram alguns dias (ninguém vai comprar o jornal agora para ler a entrevista) e a mensagem que Chomsky transmite nesta entrevista é mais do que um serviço público: é um desfazer de mitos e de medos e um apelo contra a atomização e a desagregação dos núcleos de solidariedade e resistência humanos. Que continuam a ser duma importância crucial mesmo nestes tempos de “Inteligência Artificial” (que Chomsky recusa classificar como “Inteligência”).
O debate promovido na véspera do 25 de Abril, em Faro, pelo Comité Custódio Losa MD, sobre o socialismo selvagens, as ocupações e as lutas climáticas e como estas se relacionavam com datas como o maio de 68 em Paris e o 25 de Abril em Portugal, juntou cerca de 20 pessoas e teve alguns momento tensos de discussão.
O primeiro a falar foi um estudante de Faro que integra o movimento de Ocupação das Escolas/Greves climáticas que explicou alguns dos projetos imediatos entre os quais a preparação da ação contra a utilização do gás fóssil, responsável direto pelas alterações climáticas que vivemos marcada já para o terminal de Sines e que terá lugar a 13 de maio. Disse também que estava em preparação a ocupação de uma escola secundária na capital algarvia.
Usou depois a palavra, Jorge Valadas, colaborador do jornal MAPA e antigo exilado político em França, convidado pela organização e autor do livro “O Socialismo selvagem” (Antigona, 2021), que pegou por aí para dizer que as lutas do presente/ futuro serão sobre a água e a destruição dos recursos comuns. Falou da enorme manifestação de há um mês em França, em Sainte-Soline, contra a apropriação da água pelos grandes grupos da agro industria, numa zona húmida e de biodiversidade, onde estão a construir uma pequenas barragens drenando essas zonas húmidas e destruindo-as. Acrescentou para dizer que as lutas contra a destruição do planeta pela logica produtivista do capitalismo vão ser o centro da oposição com os defensores deste sistema. Elas estão a ser cada vez mais criminalizadas e reprimidas ferozmente. Para continuar a produzir lucro mantendo as condições de vida do humano eles estão prontos até a matar. Os jovens que se implicam corajosamente nas lutas devem disto estar conscientes. Mesmo se na região portuguesa tudo esteja ainda a começar é preciso estar lúcido e saber o que se quer.
Essa manifestação reuniu 30 mil pessoas e foi brutalmente reprimida pela polícia , com dezenas de feridos, entre os quais dois feridos muito graves, em risco de vida e outro em coma em situação crítica. A este propósito foi distribuído na sala um comunicado dos pais de Serge, um dos jovens que ficou mais gravemente ferido e que ainda está em coma.
Neste momento verificou-se alguma tensão, com um dos presente a cortar a palavra ao orador, acusando-o de ter um discurso extremista contra a polícia e saiu da sala.
Logo a seguir começa a falar uma outra pessoa, já mais velha a dizer que percebia perfeitamente a intervenção anterior e que tinha vindo a este debate por engano. Disse, no entanto, que tinha gostado da intervenção do estudante da greve climática, mas para estes terem cuidado com as ideias que ali estavam a ser defendidas. Que o protesto era legítimo, mas não as ocupações. O que mostra bem a necessidade deste tipo de debates, uma vez que a ocupação de escolas e espaços públicos, ou ações deste tipo, existem não para a destruição dos bens ocupados – como tanta vez os políticos e a policia querem fazer crer -, mas para darem visibilidade aos movimentos e causas que se defendem.
Falou-se também da luta para Salvar as Alagoas Brancas, em Lagoa, contra os interesses económicos do Capital e dos poderes públicos, de que são exemplo a Câmara Municipal, CCDRAlgarve e os ministérios envolvidos.
A luta contra o betão armado, a turistificação excessiva, a destruição do meio ambiente, as culturas que promovem o fim das reservas de água, como é o caso dos abacates ou dos campos de golfe espalhados pela região, foram também aflorados neste debate que constituiu mais um alerta contra as muitas atividades predadoras que há anos espoliam o Algarve dos seus melhores recursos – e contra as quais há que organizar a resistência e um combate sem tréguas.
Em 2017, uma trabalhadora da pastelaria La Suiza (em Gijón, Astúrias) recorreu ao nosso sindicato para aconselhamento e apoio numa situação de abuso e assédio patronal, com falta de pagamento de horas extraordinárias, impossibilidade de gozo de férias e excesso de trabalho durante a gravidez, o que resultou num risco de aborto com a consequente baixa médica. A par de todos estes abusos, a companheira denunciou o tratamento insuportável por parte da patroa, que incluía comentários e opiniões humilhantes sobre o seu corpo.
Já com o apoio da CNT Xixón, o sindicato começou por tentar fazer uma reunião com o empregador para tratar da situação e tentar resolver a situação através do diálogo, algo ao qual o patrão se recusou.
Perante esta situação, a CNT decidiu tornar público o conflito por meio de concentrações e das redes sociais. Como resultado desta campanha de informação, o empregador concordou em reunir-se com o sindicato, mas recusou-se a chegar a um acordo.
A CNT Xixón continuou com as concentrações no exterior da pastelaria e com campanhas de informação. Ou seja, as ferramentas sindicais de que dispomos serviram para defender os direitos da nossa companheira. Refira-se que todas estas ações decorrem sem intervenção policial. Apesar da normalidade das ações de protesto, as identificações policiais de diferentes companheiros da CNT Xixón começaram a ter lugar e, finalmente, foram feitas várias prisões abertos os respetivos processos.
O processo judicial posterior começou com uma tentativa de acusar trinta pessoas, alguns sindicalistas, mas também outras pessoas que foram apoiar esta trabalhador da pastelaria La Suiza. No final foram processadas oito pessoas.
A trabalhadora que tinha dado origem ao conflito também fez uma denúncia por assédio sexual, a qual foi arquivada tendo como justificação não haver provas suficientes.
Finalmente, o Tribunal Penal nº 1 de Gijón, em sentença proferida em junho de 2021, condenou os oito ativistas processados a um total de 25,3 anos de prisão: três anos e meio de prisão para 7 deles e 8 meses para outro, pelos crimes de coação e obstrução de justiça. Além disso, o acórdão estabelece uma indemnização à pastelaria La Suiza de 150.428 euros, declarando o sindicato CNT como tendo responsabilidade civil subsidiária.
Após o recurso interposto pela CNT, o TSJ das Astúrias ratificou a pena de prisão de seis dos oito sindicalistas condenados no caso ‘La Suiza’.
Com a via legal praticamente esgotada, as nossas companheiras estão cada vez mais perto de serem levadas para a prisão. Por isso apelamos às organizações sindicais, sociais, feministas, de base e políticas e, em geral, ao povo das Astúrias para que se mobilizem e acabem com este disparate.
Por todo o mundo se têm realizado ações de solidariedade para com Alfredo Cospito, em greve de fome desde o dia 20 de outubro. Algumas pacíficas, outras mais violentas, como foi o caso do incêndio em Genóva, a 31 de março, de alguns veículos da empresa de produção de eletricidade IREN.
Alfredo NÃO terminou a greve de fome!
As informações que circularam nos media nos últimos dias são falsas e caluniosas, como de costume: foi oferecido-lhe leite para beber, mas Alfredo recusou. Se decidir começar a comer novamente, irá seguir as instruções que o seu médico lhe deu já há algum tempo.
Até à audiência de 18 de abril, ele decidiu retomar os suplementos alimentares: potássio para estabilizar o coração, vitaminas para tentar limitar o problema neurológico nos membros inferiores e proteínas. Após esta audição do Tribunal Constitucional de Roma, que deverá pronunciar-se sobre a legitimidade jurídica da existência ou não de circunstâncias atenuantes em relação à sentença de 285 cp (“massacre com o fim de atentar contra a segurança do Estado”, que apenas prevê a prisão perpétua) decretada pelo Tribunal no julgamento do caso Scripta Manent, ele vai decidir o que fazer.
Está cansado e às vezes tem dificuldade em se concentrar, mas está lúcido e presente.
Na zona penitenciária de San Paolo, ele NÃO recebe correspondência, nem mesmo telegramas.
NÃO lhe podemos entregar livros, nem mesmo aqueles que ele comprou na prisão da Ópera após autorização.
No quarto onde está internado só tem luz artificial, não lhe é possível distinguir o dia da noite.
Por fim, os médicos do departamento de medicina penitenciária de San Paolo, que acompanham Alfredo, são sempre aconselhados para não falarem ou discutirem com o seu médico de confiança. Isso na realidade impede que ele seja acompanhado da melhor maneira possível.
VAMOS CONTINUAR A LUTA AO LADO DE ALFREDO!
ENVIEMOS-LHE A NOSSA RAIVA E O NOSSO AMOR, PARA QUE ELE SAIBA QUE QUEM LUTA NUNCA ESTÁ SÓ!
No passado dia 1 de Abril realizaram-se manifestações pela habitação em várias cidades portuguesas, integradas nos Housing Action Days 2023, uma semana de ações e manifestações por toda a Europa pelo direito à habitação, coordenados pela European Action Coalition for the Right to Housing and the City.
Dezenas de colectivos e movimentos desceram à rua, convocando dezenas de milhares de manifestantes que exigiram o direito à cidade e à habitação e denunciaram os grandes negócios que sempre marcaram o sector imobiliário.
Em Lisboa e no Porto houve uma forte presença libertária nessas manifestações, lado a lado com inúmeros colectivos de base.
Em Lisboa, no final da manifestação, a detenção pela PSP de duas activistas do Stop Despejos levou a alguns confrontos com as forças policiais que atuaram duma forma violenta e desproporcionada.
Ilya Leshiy (nome fictício) participa no conflito fazendo parte, desde há um ano, de várias formações ucranianas que lutam contra a agressão militar russa. O site anarquista russo DOXA conversou com ele sobre o quotidiano na frente, a difícil condição de voluntário, a sua participação num pelotão antiautoritário e os crimes levados a cabo pelo exército russo.
Que idade tens, de onde és e há quanto tempo estás na Ucrânia?
Tenho cerca de 30 anos, sou da região central da Rússia. Mudei-me para a Ucrânia há pouco menos de cinco anos. Evitei ao máximo sair do país, mas saí quando soube do interesse das forças de segurança na minha modesta pessoa.
Que atividades políticas tiveste na Rússia?
Pelas minhas convicções, sou um anarcocomunista: um defensor de uma sociedade baseada nos princípios de liberdade, igualdade, solidariedade e respeito pelo meio ambiente, através de estruturas elaboradas de autogestão. Cheguei a estas convicções há mais de 15 anos e por muito tempo participei no movimento anarquista na Rússia. Ano após ano, com pessoas com a mesma afinidade, tentámos introduzir organização, radicalismo e um elemento de pragmatismo saudável na atuação do anarquismo russo moderno.
Não precisarei os detalhes, mas posso dizer que eu e os meus companheiros acreditamos que uma estrutura organizativa é importante para uma luta bem-sucedida, e a ação direta, podendo incluir métodos de guerrilha, é uma das ferramentas mais importantes para enfrentar o regime e o estado.
O Movimento d@s trabalhador@as do sexo esteve ontem presente nas manifestações do 8 de março realizadas em Lisboa e no Porto
É um debate velho, também no movimento anarquista, e na esquerda em geral: deve-se considerar a prostituição como mais um trabalho, entre muitos outros existentes na sociedade e, como tal, objecto de melhorias, lutas e ganhos de natureza laboral?
É um debate que se tem actualizado nos últimos tempos com o aparecimento de colectivos de prostitutas e de movimentos de trabalhadores do sexo, em vários países, nomeadamente em Portugal e no Estado espanhol, aqui bem perto.
Estes movimentos reivindicam que a sua actividade, desde que resulte de uma escolha livre e autónoma, deve ser considerada trabalho e, como tal, ter todos os direitos inerentes a esse estatuto.
Do outro lado, o argumento é que a venda do corpo é degradante e que deve ser abolido e erradicado, criando melhores oportunidades para que as mulheres (ou homens ou trans) não tenham que recorrer a essa alternativa de subsistência.
Argumentos contra argumentos, a CNT espanhola, anarcosindicalista, recentemente, no seu XII Congresso, realizado em Dezembro, aprovou uma moção orientadora segundo a qual, foi definida, como uma das metas da Confederação, a erradicação da prostituição que, no entender da CNT, não pode ser considerada um trabalho que possa ser melhorado.
“Existem três formas de subsistência historicamente marcadas pela questão de género: o casamento, o trabalho doméstico e a prostituição. Todos as três têm as suas raízes no patriarcado, nas mulheres entendidas como propriedade privada dos homens, tendo evoluído de maneiras diferentes devido a outros fatores, como a classe ou a etnia. Como feministas, é para nós clara a necessidade de abolir o casamento como modo de vida; entendemos também que as tarefas domésticas devem ser divididas entre os géneros e que os cuidados a prestar devem ser realizado em boas condições laborais. Embora possa haver nuances e controvérsia, nem as opiniões sobre o casamento, nem sobre o trabalho doméstico e os cuidados a prestar suscitam tanto debate ou confronto como a prostituição.
Dissemos no início que há três formas de subsistência historicamente balizadas pelo género. Formas de subsistência em que a existência de salário nem sempre é clara, e que por isso não se sabe até que ponto podem ser ou não empregos. Em muitos casos, em vez de salário, ou como complemento, recebem, por exemplo, alimentação, alojamento, etc.
A prostituição é um modo de vida que, desde o sindicato, se pretende erradicar. Não pode ser considerado um trabalho que pode ser melhorado.
Como parte de uma estratégia feminista de classe da CNT, tomamos uma série de medidas sociais para facilitar essa transição:
– Como sindicato podemos exigir das instituições uma série de medidas sociais para acabar com esta situação. Por exemplo:
Exigir que as instituições dedicadas à reintegração de mulheres vítimas de tráfico deixem de ser assistenciais, patriarcais e moralistas. Essas instituições são financiadas com dinheiro público. Precisam de mais fundos e melhor gestão.
– É também essencial, tanto para quem saiu das redes de tráfico como para quem exerce a prostituição e dela pretende sair, fazer com que os empregos que lhes são oferecidos como alternativa tenham melhores condições, e que não sejam trabalhos sempre altamente feminizados. Um exemplo, é a alternativa que é proposta pelas instituições, nomeadamente os trabalhos assistenciais, como os cuidados domiciliários, cujas condições laborais são indignas. Promover melhores condições salariais nesses empregos e facilitar o acesso para as mulheres que querem sair da prostituição deve ser uma prioridade do sindicato. Exigimos do Ministério do Trabalho um plano de reinserção sócio-laboral à altura das necessidades, com facilidades, financiamento e oferta de trabalho digno.
Quanto às mulheres que trabalham por conta própria, entendemos que elas são uma minoria e, portanto, não são o maior problema. As mulheres trans em situações mais precárias também são, em muitos casos, associadas a essa forma de exploração. Partimos sempre do diálogo e da escuta, mas em nenhum caso podemos apoiar medidas que favoreçam proxenetas e exploradores:
– A prioridade é acabar com as condições que forçam muitas mulheres à prostituição e que também facilitam que outros as explorem ou escravizem. Neste último caso, é necessária a abolição da lei de imigração, essencial para acabar com a prostituição, visto que muitas mulheres aceitam entrar nas redes de tráfico para poderem migrar, apesar de não terem documentos e são obrigadas a viver da prostituição por não poderem aceder a outros trabalhos. Além disso, quer as mulheres pertençam a redes ou sejam autónomas, o facto de estarem em situação irregular serve de ameaça constante por parte das forças policiais.
– Exigimos também a revogação da lei mordaça que facilita a criminalização das prostitutas que trabalham na rua.
– Como anarcofeministas devemos contribuir para a não estigmatização das prostitutas, para acabarmos, na medida do possível, com o medo das denúncias originadas pelo estigma social. A luta contra o estigma começa ouvindo-nos uns aos outros.
– Pensamos também que, mesmo nas melhores condições de trabalho, esta não deve ser uma forma de vida no actual sistema patriarcal, já que são principalmente os homens que consomem outros corpos, na sua maioria, de mulheres e meninas – as que se lhes oferecem.
– Neste sentido, não aceitamos que os clientes das putas sejam simples consumidores de mais um serviço. O consumo da prostituição baseia-se no poder e na propriedade dos homens sobre as mulheres. O pagamento de um serviço sexual implica entender o corpo do outro como um bem de consumo, como uma pessoa a que não temos que atender, com quem podemos pôr os nossos desejos em prática sem ter em atenção os dos outros. Supõe uma afirmação da masculinidade hegemónica, em que o desejo dos homens está no topo das relações, independentemente de quem o exerça o fazer voluntariamente ou não. ”
Acaba de nascer na Catalunha o Bloco Anti Guerra, que junta antiautoritários de origem russa, bielorussa e ucraniana que vivem naquela região do Estado Espanhol. Consideram que parar a guerra é, antes do mais, parar Putin.
Nós, o Bloco Antiguerra Catalunha, somos um coletivo formado por antifascistas, anarcofeministas e ativistas antiautoritários de origem russa, bielorrussa e ucraniana, testemunhas diretas do que foi e é a política externa e interna da Rússia de Putin. Apesar da esquerda europeia ainda alimentar algumas dúvidas sobre o caráter totalitário do regime [russo], podemos desfazê-las com evidências concretas.
Quais são as razões pelas quais nos recusamos a considerar o atual rumo político do governo russo como “antifascista”? Nas últimas duas décadas, o regime de Putin contribuiu para a consolidação de ideologias de direita na Europa ao financiar intencionalmente partidos políticos conservadores e movimentos de extrema-direita. Há companheiros e companheiras nossas que foram sequestradas, torturadas e presas por mais de duas décadas, e esse processo repressivo só tem aumentado de intensidade. A propaganda pró-governamental combinada com o terror contra a população civil deu frutos: aqueles que fazem apelos para parar a guerra são privados de liberdade, com a cumplicidade passiva da maioria. Além disso, agora, tanto na Rússia como nos territórios ocupados pelas tropas russas, os direitos humanos básicos, incluindo a liberdade de expressão, foram destruídos. Qualquer um pode ser preso ou morto pelas suas opiniões políticas, por ser um ativista dos direitos civis ou por pertencer ou apoiar a comunidade LGBTIQ+
O atual regime governamental russo não parou de alimentar-se da guerra, continuando as políticas agressivas do Império Russo e da União Soviética. A ascensão de Putin ao poder e a instauração da ditadura neofascista, na qual a Federação Russa se transformou gradualmente, começou com a guerra na Chechénia e continuou com a ocupação de territórios pertencentes à Geórgia e com o apoio militar dos regimes tiranicos da Síria, africanos e das repúblicas pós-soviéticas. Hoje, uma guerra em grande escala está a ser travada em solo europeu: a máquina militar russa não vai parar na Ucrânia; do mesmo modo, a ampliação da NATO não é a causa, mas a consequência da política externa agressiva de Putin.
Enquanto as bombas caem sobre edificios residenciais e os cidadãos ucranianos são torturados e mortos pelos militares russos, a retórica baseada na “libertação” e na “desnazificação” da Ucrânia é apenas uma desculpa para justificar uma guerra de invasão.