António dos Santos Marcelino Mesquita (1912-1986) foi um dos principais elementos anarquistas envolvidos na greve geral de 18 de janeiro de 1934 no distrito de Leiria, conforme destaca o investigador Herminio Nunes, em artigo na edição 287 do jornal A Batalha.
Com apenas 21 anos encabeça algumas das principais acções dos insurrectos, como o derrube de “postes telegráficos e telefónicos para corte de comunicações”, sendo preso a 1 de Fevereiro pela Policia de Leiria. Foi condenado a 5 anos de desterro. Segue a 8 de Setembro de 1934 para Angra do Heroísmo com diversos outros implicados no 18 de Janeiro, seguindo para o Tarrafal em 23 de Outubro de 1936, na primeira leva de presos para o Campo de Concentração da Morte Lenta.
Ali esteve até 15 de Julho de 1940, tendo depois sido restituído à liberdade.
Aquando dos acontecimentos de 18 de Janeiro de 1934, Marcelino Mesquita é apresentado como “estudante”, tendo depois da sua libertação iniciado uma carreira como jornalista no jornal “República”, que congregava diversos elementos da oposição. (Ali trabalharam também, como revisores, os anarquistas Jaime Rebelo e Francisco Quintal, por alguns períodos).
Neste jornal, Marcelino Mesquita escreve, por exemplo, a 9 Julho de 1952, um artigo sobre Emílio Costa, o pedagogo libertário fortemente influenciado por Francisco Ferrer.
Pelo que se sabe terá abandonado a militância activa, mantendo-se, no entanto, sempre como libertário. A 18 de Janeiro de 1975 escreve um artigo para “A Batalha” sobre o 18 de Janeiro de 1934 em Leiria e, em Março de 1975, o jornal Voz Anarquista assinala a publicação da 2ª edição do livro “do nosso camarada e assinante” Marcelino Mesquita, “Os Mortos Acusam”, sobre a guerra do Vietname.
No corpo da notícia, publicada na primeira página do número 3 do jornal anarquista, pode-se ler-se que na sua prisão “no Campo de Concentração do Tarrafal infligiram-lhe graves sofrimentos físicos, mas não lhe abateram as qualidades morais e intelectuais que se mantêm, com a máxima dignidade ao serviço das mais lídimas causas da Liberdade, e da Justiça. Acompanhante intimerato da causa libertária, Mesquita colabora em todos os movimentos, dignos do nosso aplauso, como seja Liga dos Direitos do Homem e outros organismos de solidariedade e de bem-fazer”.
Ainda no decurso de 1975, durante o “caso República”, quando uma denominada comissão de trabalhadores pretende alterar a orientação do jornal, Marcelino Mesquita está ao lado da redação, participando no “Jornal do Caso República” e opondo-se ao controlo do jornal por parte de um sector identificado com o PCP e a extrema-esquerda.
Marcelino Mesquita é também um dos cinco antigos militantes da CGT, com responsabilidades no levantamento operário de 18 de Janeiro, que intervêm publicamente para repôr a verdade sobre esses acontecimentos (continuamente deturpados pela imprensa marxista e ligada ao PCP), através de um livro editado em 1978 pela Regra do Jogo, intitulado “O 18 de Janeiro de 1934 e alguns antecedentes”, com um depoimento colectivo de Acácio Tomaz de Aquino, Américo Martins, Custódio da Costa, José Francisco, Marcelino Mesquita, e Emídio Santana que o coligiu.
Mais tarde, a 18 de Dezembro de 2015, numa crónica no Jornal de Negócios, Baptista-Bastos, recordando uma entrevista com Alves Redol feita para o “República”, também se refere a Marcelino Mesquita como “anarquista”.
Marcelino Mesquita morre a 20 de Setembro de 1986, com 73 anos. Noticiando a sua morte, o “Diário de Lisboa” identifica-o como membro da Maçonaria (Grande Oriente Lusitano) e antigo presidente da direcção da Escola Oficina nº 1 de Lisboa, para além de antigo chefe de redacção e secretário-geral da Direcção do jornal “República” até à sua extinção, e membro da Liga dos Direitos do Homem.