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(memória libertária) Placa alusiva ao anarcosindicalista Valentim Adolfo João na casa onde viveu na Mina de São Domingos


valentim adolfo joão

aqui: https://www.facebook.com/groups/Amigos.da.Mina.S.Domingos/

Valentim Adolfo João “nasceu em Aljustrel a 30 de Março de 1902. Com 3 anos de idade foi adoptado por familiares em virtude de doença dos pais. Pouco depois entrou na escola, completando o 2.° grau e ganhou, do director das Minas de S. Domingos, Wiliam Nevil, no acto do exame, um lindo relógio de prata. Em 1915 entrou a trabalhar no Laboratório Químico das Minas. Mas a guerra obrigou-o a interromper este trabalho, só retornando a ele a partir de 1918. A questão social latente levava às minas a necessidade do sindicato dos mineiros. E como Valentim fora peça importante na sua fundação, expulsaram-no do emprego em Abril de 1924. Só voltou ao Laboratório em 1931. A sua actividade efectiva começou em 1923 com a defesa dos interesses dos trabalhadores da região do Concelho de Mértola, da parte de Cambas, margem esquerda do Guadiana. Duas vezes a sua casa foi invadida pela polícia e teve seus os pertençes domésticos destruídos. Nos anos de 1924-1930, exerceu cargos directivos no Sindicato dos Operários da Indústria Mineira, das Minas de S. Domingos, em defesa dos direitos da classe. Por ter participado da greve das minas em 1932 teve que exilar-se durante 4 anos, em Espanha, perto da fronteira. Em Agosto de 1936 regressou clandestinamente a Portugal, vivendo entre os corticeiros do Barreiro até fins de 1937, passando então para Setúbal, sempre lutando por suas ideias. Participou do atentado a Salazar e, escapando à caçada policial, foi lutar em Espanha, em defesa dos seus ideais, até ao final da guerra civil. Retornou a Portugal e viveu na clandestinidade até ser preso, no dia 30 de Outubro de 1949, na estação do C.F. de Setúbal. A 2 de Fevereiro de 1950 deu entrada no Forte de Peniche, depois de ter passado algum tempo no Aljube. Quinze anos depois, em 29-4-1964 foi posto em Liberdade. Morreu em 29 de Janeiro de 1970, em Setúbal, e no seu funeral a P.I.D.E. ainda esteve presente para “ter a certeza” que o anarquista morrera mesmo!.” Depoimento prestado pelo seu filho Valentim Adolfo Fischer, em Setúbal, a E. Rodrigues

Valentim A. João foi delegado ao Comité Confederal da C.G.T. nos anos ’30, activo organizador da Federação Mineira e Metalúrgica e das acções de resistência em São Domingos (Mértola) às iniciativas dos governos da ditadura contra os trabalhadores (como o desconto dos 2% por exemplo). Foi organizador das caixas de solidariedade e das mutualidades mineiras para auxílio na doença e no desemprego. Refira-se também que o seu irmão Manuel Patrício (operário mineiro, “mais inclinado para o Partido Socialista”, testemunho oral prestado em 1984 a P.G.) manteve um papel activo no sindicato em Aljustrel a partir de 1923. Mesmo no exílio forçado após a greve de 1932, V. A. João não deixou de ser um actor influente junto dos homens que permaneceram nos sindicatos nacionalistas.

aqui: http://mosca-servidor.xdi.uevora.pt/arquivo/?p=collections/findingaid&id=166&q=&rootcontentid=444

Relacionado: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/02/02/valentim-adolfo-joao-nao-tenho-vagar-amor/

(Alentejo) Três meses depois da greve geral de 18 de novembro de 1918, “A Batalha” escreve que “as violências atribuídas aos rurais não podem ser comparadas com as violências praticadas pelos lavradores”


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No dia 23 de Fevereiro de 1919 – está quase a fazer cem anos! – é publicado o primeiro número do jornal “A Batalha”, diário, órgão da União Operária Nacional e, depois, da Confederação Geral do Trabalho. Logo nesse primeiro número há uma referência à greve geral de 18 de Novembro de 1918 no Alentejo.  Para o jornal sindicalista revolucionário as violências atribuídas aos rurais não podem ser comparadas com as violências praticadas pelos lavradores.

“No Alentejo

As violências atribuídas aos rurais – As violências praticadas pelos lavradores

Têm sido inúmeras as acusações formuladas, quer na imprensa quer fora dela, contra a organização rural do Alentejo, acusando-a, aquando do movimento de Novembro, de promover violências inúteis e afirmando que os trabalhadores saquearam várias propriedades, retirando de ali muitos valores, além de muitas outras violências, cuja enumeração seria fastidiosa. Conseguiu-se, assim, criar um ambiente de hostilidade contra os agrupamentos corporativos e contra o organizamos que os representava: a U.O.N. Prenderam-se algumas centenas de trabalhadores rurais e muitos deles foram deportados, sem julgamento, para África, não obstante não terem, na maioria, cadastro e ser a primeira vez que eram detidos. Alguns que se encontravam em Monsanto foram postos em liberdade, juntamente com os restantes presos políticos e por questões sociais, contra o que insurgiu um lavrador que, em carta publicada no Diário de Notícias, pedia ao titular da pasta do interior que ordenasse a sua recaptura, assim como não acedesse a repatriar os rurais tão iniquamente deportados, por, em seu entender, eles deverem ser considerados presos de delito comum em virtude das violências que dizia terem sido praticadas por eles.

Sempre duvidámos da veracidade dos relatos que sobre eles se fizeram e sobre a nossa mesa estão algumas cartas que confirmam este nosso modo de ver, pois, segundo se lê nelas, não só os rurais não cometeram os actos violentos de que são acusados, como a verdade é que se eles foram cometidos a sua autoria deve ser atribuída aos bandos armados que, capitaneados pelos lavradores e, um deles, por José Júlio da Costa, um dos assassinos de Sidónio Pais, exerceram toda a espécie de depredações em Vale de Santiago, Odemira e Panoias.

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(Nov. 1918- Nov. 2018) Cem anos da greve geral contra a guerra, o sidonismo e a carestia de vida que teve um dos seus epicentros em Vale de Santiago (Odemira)


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aqui

Em 1918, a União Operária Nacional convoca uma greve geral para o dia 18 de Novembro. A guerra, a carestia de vida e a escassez alimentar tornavam a vida dos trabalhadores num inferno. De forma a reagir contra esta situação de agravamento do dia-a-dia dos trabalhadores portugueses a central sindical, em que predominavam os sindicatos e associações de classe anarquistas e sindicalistas revolucionários, decide juntar as diversas reivindicações sectoriais e avançar para uma greve geral que, no entanto, resultou num fracasso, ainda que com resultados diferentes conforme as regiões do país.

As causas para este fracasso prendem-se essencialmente, segundo os historiadores, com o anúncio do armistício que pôs fim à I Guerra Mundial, assinado a 11 de Novembro, poucos dias antes do início da greve; à pneumónica, que grassava por todo o país; e à forte repressão que os sindicalistas da UON sofriam na pele por parte das leis celeradas e anti-operárias do governo de Sidónio Pais e que conduziu até ao assassinato de trabalhadores em Montemor-o-Novo e Alpiarça quando participavam em comícios de protesto.(1)

O movimento grevista teve, entre outros sectores de todo o país, especial impacto entre os rurais do Alentejo e os ferroviários de Sul e Sueste. Em Évora a greve durou 8 dias. Em Odemira e no Vale de Santiago a repressão foi especialmente dura, com deportações de rurais para a África. Foram fuzilados trabalhadores na Moita e em Portimão. (2)

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(memória libertária) Francisco António Ximenes, alentejano de Via Glória – Mértola


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Francisco António Ximenes, trabalhador rural, anarquista, membro do grupo anarquista “Via Anárquica”, de S. Bartolomeu de Via Glória – Mértola, aqui evocado pela antropóloga Paula Godinho:

“Pertenceu a uma geração em que o anarquismo cativava, nos campos do sul. O meu pai falava dele, como de Gonçalves Correia, com admiração, e o meu avô foi amigo de ambos. A PIDE perseguiu-o toda a vida, pois sabia-o capaz de levantar os ceifeiros e outros trabalhadores por melhor salário e redução de horário. Crimes terríveis, claro. Mas do que mais gostava o tio Ximenes era de falar de vegetarianismo, de milenarismos niveladores e de soltar pássaros que viviam em gaiolas. Perigosos, estes alentejanos.” (Paula Godinho)

(Mina de São Domingos) Foto de Valentim Adolfo João e irmãos


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(Foto retirada daqui com a seguinte legenda:
Não tenho vagar amor
Para te dar atenção ,
Tenho muito que fazer
Na minha Associação .
3 grandes mineiros que dariam a vida em prol dos direitos dos trabalhadores .
Antonio, Manuel e Valentim Adolfo Joao)

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“Realismo socialista” abjecto


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O “realismo socialista” deu nisto. Um presidente de Câmara da CDU que se deixa fotografar, numa propriedade gerida pela Câmara de Moura, a que preside, numa caçada a veados protagonizada por “clientes” belgas, um primo e um antigo presidente de Câmara e deputado do PSD (agora dirigente sportinguista…).

Há uns anos havia diferença entre quem lutava contra o fascismo e quem participava nas caçadas do Américo Tomás quando este vinha ao Alentejo. Hoje não. O “realismo” e o possibilitismo deu nisto:nesta mistura de águas em que um presidente de Câmara da CDU se comporta como qualquer presidente de Câmara do CDS. Ainda há alguns tempos o mesmo presidente de Câmara mandava pôr colchas no edifício da Câmara para a passagem da procissão.

Mas voltando a esta imagem, publicada pelo próprio presidente de Câmara, no seu blogue: porque é que ela me faz tanto lembrar a fotografia do rei de Espanha publicada há uns anos aquando duma caçada aos elefantes algures em África?

(através de Luis Bernardes)

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(José Estevão) “O anarquismo terá que ter futuro”


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José Estevão é um anarquista português, a viver há mais de quatro décadas na Holanda, país onde se refugiou como refractário à guerra colonial. Alentejano, natural da vila mineira de Aljustrel, tem uma actividade militante quotidiana em Amesterdão – actualmente tem estado muito activo no apoio aos refugiados –, mas visita regularmente Portugal, tendo participado no Encontro Libertário de Évora, realizado em Maio passado. Recentemente foi entrevistado por companheiros chilenos (da Federação Anarquista Local de Valdivia) , uma entrevista que traduzimos agora para português.

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(1918) A greve geral em Vale de Santiago e o assassinato de Sidónio Pais


 

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Bilhete-Postal de 1919, retratando o assassinato do Presidente Sidónio Pais na Estação Ferroviária de Lisboa-Rossio, no dia 14 de Dezembro de 1918

Passam hoje 98 anos sobre o assassinato de Sidónio Pais, presidente da 1ª República e um dos precursores do fascismo europeu. A sua morte está ligada à greve geral de Novembro de 1918, que teve um eco particular no concelho de Odemira, no Vale de Santiago, e que foi violentamente reprimida. Num e noutro caso, aparece como figura destacada José Júlio da Costa, o alentejano que matou Sidónio Pais, na Estação do Rossio, em Lisboa, com 25 anos de idade.

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