Comunicado à imprensa internacional: Recordatória do movimento de greve geral revolucionária em 18 de Janeiro de 1934 contra o Estado Novo de Salazar


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18 de Janeiro de 1934 – momento decisivo da luta dos trabalhadores contra o Estado Novo

Há 90 anos atrás em Portugal, a ditadura dos militares estava a institucionalizar-se sobre a forma do Estado Novo, concebido por Salazar e ideólogos proto-fascistas. O operariado estava esgotado pela crise económica e o desemprego, e amordaçado pela censura, as prisões, as violências da polícia política e as deportações para o ultramar longínquo.

Em tais condições, a Confederação Geral do Trabalho (CGT, anarco-sindicalista, editora do diário A Batalha, 1919-1927), já na clandestinidade, tentou uma acção decisiva para salvar o sindicalismo livre através dos meios que lhe eram próprios: uma greve geral revolucionária, envolvendo trabalhadores de norte a sul do país. Apesar das dissensões
ideológicas prevalecentes, conseguiu-se um acordo mínimo envolvendo também a Comissão Inter-Sindical (de orientação comunista), a Federação dos Transportes (unitária), a Federação das Associações Operárias (socialista) e os Sindicatos Autónomos.

A insurreição falhou e a greve geral foi vencida. A repressão que se seguiu foi impiedosa e ajudou a consolidar um regime autoritário e fechado durante várias décadas. Mas vale a pena recordar os nomes de alguns dos envolvidos no núcleo central daquela organização: Mário Castelhano, José Francisco, Manuel Henriques Rijo, Acácio Tomás de Aquino, Custódio da Costa, Serafim Rodrigues; e, mais nas periferias, José Correia Pires, Pedro Matos Filipe, Manuel António Boto, António Gato Pinto, José Bernardo, Manuel Pessanha, José dos Reis Sequeira, Joaquim Pedro, Marcelino Mesquita, Arnaldo Simões Januário, José Caetano, Mário Ferreira e outros (E. Santana, O 18 de Janeiro de 1934 e alguns antecedentes, A Regra do Jogo, 1978) – quase todos eles deportados para o Campo de Concentração do Tarrafal (na ilha de Santiago, em Cabo Verde).

Neste ano de 2024 assinalamos os 50 anos do 25 de Abril de 1974 que tantas esperanças suscitou entre os portugueses e até no estrangeiro. Apesar de muitas decepções, entre os homens e mulheres livres, “cidadãos de pátria humana”, há sinais que persistem e que ligam o passado ao presente, apesar das enormes interrogações do futuro.

Dos anarquismos de então aos libertarismos de hoje, há proclamações que não se esquecem:
– “The emancipation of the working classes must be conquered by the working classes themselves” (1864)
– “L’Internationale sera le genre humain” (1871)
– “Pão e Liberdade” (1919)
– “Pensiero e Volontà” (1925)
– “Llevamos un mundo nuevo en nuestros corazones” (1936)
– “Il est inderdit d’interdire” (1968)
– “Fascismo nunca mais” (1974)
– “O Galo de Barcelos ao poder” (1975)

Subscrevem esta recordatória, a revista A Ideia e o jornal A Batalha.

Lisboa, Janeiro de 2024.

(Traduzido em castelhano, francês, italiano, inglês e alemão graças à simpatia de Jose António Rocamora, André Bandeira, Teresa Silva, Carla Ferreira de Castro e Miguel Cardoso)

Declaração da Internacional de Federações Anarquistas – Atenas, 5 de novembro de 2023


postado em pela IFA

A Comissão de Relações da Internacional das Federações Anarquistas reuniu-se em Atenas de 4 a 5 de novembro de 2023 para discutir e partilhar pensamentos e práticas das Federações associadas. Actualmente, estamos particularmente activos em actividades antimilitaristas, num período que se caracteriza pela intensificação das guerras, das quais as mais conhecidas, como os conflitos em Gaza, na Ucrânia ou no Sudão, não devem fazer esquecer a globalidade do problema.

A guerra nunca é uma solução, mas sim uma forma do capitalismo e do Estado reproduzirem formas de dominação, exploração, patriarcado e opressão. A guerra é a exacerbação da violência do poder e da hierarquia. Muitas pessoas dizem que se praticam crimes de guerra, nós dizemos que a guerra é sempre um crime. Todas as guerras são contra o povo e utilizam argumentos como o nacionalismo, que coloca os povos oprimidos uns contra os outros, tentando criar a ilusão de que existem interesses comuns a todas as classes de forma a minar os conflitos sociais através da propaganda de guerra.

Nós, anarquistas, opomo-nos a todas as fronteiras, estados, exércitos e ao próprio princípio da soberania territorial. Em contraponto, propomos as nossas ideias de solidariedade internacional, apoiando activamente todas as vítimas das guerras e todos os que recusam as guerras independentemente de que lado estejam: objetores, desertores, sabotadores e pessoas que fogem às guerras.

Apoiamos todas as acções antimilitaristas que estejam de acordo com os nossos princípios anarquistas, bem como todo os grupos, indivíduos e colectivos que resistem à guerra fazendo trabalho social, ajudando as pessoas, promovendo lutas sociais e que, apesar da guerra, continuam a divulgar posicionamentos anti-autoritários .

Além de fazerem a divulgação internacional das atividades antimilitaristas como um trabalho de contrainformação contra a propaganda de guerra através dos jornais, rádios e outros meios de comunicação, as nossas federações promovem atividades como:

Os ‘Dias Mundiais de Ação contra Qualquer Guerra e Militarismo’ de 17 a 25 de novembro de 2023 https://de.indymedia.org/node/306630

A quinzena antimilitarista do Público em Paris, de 5 a 26 de novembro de 2023 http://www.librairie-publico.info/?p=8835 

e a Assembleia Antimilitarista em Itália. https://umanitanova.org/event/milano-assemblea-antimilitarista-4/ 

para dar apenas alguns exemplos.

Não à guerra entre os povos, não à paz entre as classes.

Comissão de relações da Internacional das Federações Anarquistas – IFA, Atenas 5 de novembro de 2023

Entrevista com o grupo anarquista palestiniano FAUDA


 

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Há já algum tempo que, no Portal Anarquista, seguimos o grupo anarquista palestiniano Fauda (caos em português. A palavra tem o mesmo significado nas línguas árabe e hebraica) através das redes sociais, como o telegram. Fauda é um grupo que se reivindica do anarquismo militante ​​e tem aumentado o volume da sua informação, como é natural, desde os atentados do Hamas a 7 de Outubro, partilhando muitas noticias sobre o que se está a passar nos territórios palestinianos, mas também nas zonas de fronteira com o Líbano e com Israel. Defendem a causa palestiniana na sua complexidade. Agora foram entrevistados pela Federação Anarquista Black Rose, dos Estados Unidos. Publicamos a entrevista em português, com a ajuda do google tradutor.

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Comunicado da Federação Anarquista francesa sobre a situação na Palestina


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A Federação Anarquista Francófona denuncia e condena as agressões militares que vêm engolindo o Oriente Médio ou o Sudoeste Asiático desde 6 de outubro, relançando uma guerra que nunca parou há 75 anos nos territórios da Palestina.

A Federação Anarquista de Língua Francesa expressa a sua solidariedade para com as populações árabes e judaicas que estão a sofrer violência e guerra porque, mais uma vez, são as populações civis, sempre na primeira linha, que pagam com o seu sangue, as suas condições de vida e as suas liberdades pelos confrontos com as lógicas nacionalistas, capitalistas, militares e religiosas.

O Hamas, seus aliados na Jihad Islâmica e na FPLP, que chegou ao poder nas urnas em 2006 aproveitando a corrupção e o descrédito do Fatah de Yasser Arafat e o colapso da OLP, estão se aproveitando da raiva e da frustração da maioria palestina, transformando assim a luta contra a opressão colonialista em uma luta religiosa. Jihad, com seus excessos antissemitas. Ao mesmo tempo, a colonização e a violência contra os palestinos este ano atingiram um nível não visto em mais de 10 anos, multiplicando o roubo de terras, a destruição de casas, despejos, prisões, assassinatos e intensificando sua política de supremacismo étnico.

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Mulheres e homens judeus revolucionários choram pelas vitimas do massacre em Israel e na Palestina


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JJR *

No sábado, dia 7 de outubro, acordámos com o choque das imagens do ataque do Hamas, dos testemunhos aterradores, para alguns de nós com receio pelos nossos entes queridos que estão lá, e para todos nós pelo receio para com os judeus daqui (de França). A isto juntou-se uma avalanche de comentários e comunicados de imprensa. Uma parte das esquerdas políticas, decoloniais e anti-racistas destacou-se por apoiar explicitamente os assassinos anti-semitas, por vezes retomando palavra por palavra os comunicados do Hamas.

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Sobre a situação no Médio Oriente: uma análise numa perspetiva libertária


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O que está a acontecer no Médio Oriente é mais uma peça do terrível conflito que dura há várias décadas, desde a ocupação israelita da antiga Palestina. Cercados, vítimas dum apartheid violento que dura há gerações, expulsos das suas terras e casas, os palestinianos recusam-se a submeter às imposições israelitas e, ao longo, da história têm-no provado.

De um lado e do outro, têm-se também sucedido as maiores atrocidades, conduzindo a uma radicalização de posições. A mera ideia (conservadora) da criação de um estado palestiniano tem sido sempre recusada por Israel.

O ataque agora desencadeado pelo Hamas, a partir da faixa de Gaza, e a violenta resposta de Israel, integram-se neste contexto, mas os fins não podem justificar todos os meios.

O Hamas é um movimento integrista islâmico para quem todos os métodos de resistência são legítimos e a matança de civis, sem qualquer conexão com o aparelho repressivo do Estado israelita, é um deles, declarando que entre os ocupantes não há inocentes – e o massacre de mais de duas centenas de jovens que participavam num festival de música junto à fronteira é apenas um exemplo.

Mas a resposta desproporcionada de Israel, visando sobretudo a população e alvos civis na Faixa de Gaza, alvo de bombardeamentos constantes, cortando a eletricidade, a água e a entrada de bens alimentares, assume os mesmos contornos de violência indiscriminada.

Enquanto anarquistas defendemos o direito (e até o dever) dos povos subjugados e colonizados à revolta, mas não aceitamos que os meios utilizados se sobreponham aos fins que queremos alcançar: uma sociedade de iguais, sem exploração nem opressão. Daí, embora solidários com a luta do povo palestiniano, não podemos estar solidários com as ações e as organizações que propugnam a abolição do outro, esquecendo que apenas há uma raça humana e que as fronteiras, as religiões, as pátrias, os identitarismos nunca serviram como alavancas da liberdade.

Mais uma vez, como tantas vezes na história, a revolta dos oprimidos não pode ser sequestrada por organizações similares àquelas que se pretendem combater.

Como todos sabemos, quer o Hamas, quer o governo de Israel não são “flores que se cheirem”, por isso os apelos ao apoio a um ou a outro são apenas formas encapotadas de adiar a construção da paz.

Numa situação como esta todos os esforços devem ser feitos para que as armas se calem e que se impeça a chamada invasão terrestre anunciada por Israel, que culminará num banho de sangue da população palestiniana.

E, num outro plano, que todos os esforços, em termos populares e da cidadania, de um e outro lado da barricada, sejam para o estreitamento de laços e de redes de solidariedade que levem à derrota quer do Hamas, quer do Estado de Israel, agora representado pela sua ala política e militar mais radical, permitindo uma coexistência igualitária das várias comunidades presentes naquele território, para além dos estados, das fronteiras, das religiões e da origem étnica de cada uma.

‘Louise Michel’, ontem em Faro, no Teatro das Figuras.


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Estreou ontem (7/10), com uma única representação, em Faro, a performance “Louise Michel”, uma criação da dupla Ana Borralho e João Galante desenvolvida em conjunto com os alunos finalistas de Licenciatura de Teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa.

Durante 75 minutos, ao som do piano, o palco foi ocupado por 10 mulheres, nuas, desfraldando bandeiras negras, numa evocação de Louise Michel e da Comuna de Paris, enquanto eram passados excertos do texto do autor argentino Diego Garcia “Deviam ter ficado em casa, seus anormais”, em que se questiona, através de palavras cruas, o facto de muitas pessoas não pensarem pelas suas próprias cabeças, mas pelas cabeças dos outros, fazendo-os desviar do seu próprio caminho.

Apesar de, por vezes, se sentir dificuldade de ligação entre o evoluir dos corpos no palco e o texto reproduzido na tela de fundo, noutros momentos essa relação torna-se mais patente, fazendo sobressair – e sublinhando – temas como a opressão, o feminismo, a autenticidade, a resistência ou a liberdade.

Para os criadores desta performance, que resultou num espetáculo agradável mas, ao mesmo tempo, desafiador e perturbador, ao nível do texto e do enquadramento sonoro e visual, pretendeu-se também realçar “o papel feminino na formação de movimentos políticos e sociais, desafiando a sua representação tradicional na esfera pública”.

No final, já sem música – que tinha estado presente em todo o espetáculo – as 10 mulheres entoaram a letra da canção dos Radiohead “Exit music (for a film)”, tema incluído no álbum OK Computer, que sublinha a necessidade de “acordarmos do sono” em que sobrevivemos para construirmos a nossa própria vida em liberdade.

Wake from your sleep

The drying of your tears

Today, we escape, we escape

Pack and get dressed

Before your father hears us

Before all hell breaks loose

Breathe, keep breathing

Don’t lose your nerve

Breathe, keep breathing

I can’t do this alone

Sing us a song

A song to keep us warm

There’s such a chill, such a chill

And you can laugh

A spineless laugh

We hope your rules and wisdom choke you

Now we are one in everlasting peace

We hope that you choke, that you choke

We hope that you choke, that you choke

We hope that you choke, that you choque

“Louise Michel” voltará a estar em cena, durante o mês de Fevereiro, em Lisboa, na Culturgest.

COLÓQUIO “SINDICALISMO,TRABALHO E CIDADANIA – 90 anos depois do 18 de janeiro de 1934”


Com evocação do movimento do 18 de janeiro de 1934, a tentativa de greve geral revolucionária que procurou travar o Estado Novo, e no ano em que se celebram 50 anos depois da Revolução de Abril, sociólogos e historiadores de diversas instituições académicas portuguesas organizam um colóquio multidisciplinar para debater as mudanças no sindicalismo, no trabalho e na cidadania ao longo de todo este período.

Um passo decisivo para a edificação do Estado Novo, como prosseguimento da situação que vinha a ser imposta pelo Exército e outras forças conservadoras desde o golpe-de-Estado de 28 de Maio de 1926, foi a corporativização obrigatória dos sindicatos. Nestas circunstâncias, apesar das suas notórias divergências políticas e ideológicas, o movimento operário envolveu-se num combate frontal e decisivo contra o regime.

Em Os Sindicatos contra Salazar – A revolta do 18 de janeiro de 1934, publicado pela Imprensa de Ciências Sociais em 2000, Fátima Patriarca descreveu e analisou as circunstâncias, os factos e as consequências desta greve geral revolucionária. desencadeada por uma frente sindical envolvendo a Confederação Geral do Trabalho-CGT (de orientação sindicalista-revolucionária), a Comissão Intersindical (CIS, controlada pelos comunistas), a Federação das Associações Operárias (FAO, animada por socialistas), a Federação dos Transportes (unitária) e a Comissão das Organizações Sindicais Autónomas. Nesta ação, a coligação sindical propunha-se, não apenas preservar a liberdade de criação, organização e ação das associações sindicais dos trabalhadores assalariados, mas igualmente contestar as restrições à liberdade que a Ditadura, e concretamente o Estado Novo, queriam impor aos cidadãos portugueses. Aquele entendimento foi estendido também às formações político-partidárias existentes para, em caso de sucesso, colaborarem no objetivo de retorno às liberdades que haviam sido proclamadas pelo regime Republicano.

Por um novo Ateneu Libertário em Lisboa!


O espaço que o Centro de Cultura Libertária (CCL) ocupa e arrenda há quase 50 anos está novamente em perigo. A contínua pressão exercida pela gentrificação e pelo mercado imobiliário, que tantas pessoas e associações tem despejado e forçado a sair do centro das cidades, volta a atingir o CCL, desta vez com força definitiva: depois de anos de ameaças e processos de despejo a que resistimos, em Março de 2024 o CCL terá mesmo de deixar a sua histórica sede em Cacilhas.

Queremos um espaço novo que sirva não só o CCL como também a comunidade libertária portuguesa, um espaço protegido de novas ameaças de despejo, que nos pertença. Por isso, o colectivo do jornal centenário A Batalha e o colectivo da BOESG decidiram juntar os seus esforços ao CCL para a aquisição de um espaço conjunto que seja um novo Ateneu Libertário na zona de Lisboa. Um espaço que aloje a biblioteca, o arquivo e a livraria do CCL, e também os importantes acervos da BOESG e de A Batalha. Um espaço de difusão e proteção da cultura libertária que tenha por objetivo a recuperação e a protecção da memória, o encontro e o dinamismo das ideias anarquistas. Um espaço aberto a novos e velhos colectivos que dele queiram fazer uso.

Nos próximos meses multiplicaremos as iniciativas de angariação de fundos e apelamos à contribuição de todas as pessoas e colectivos solidários através de donativos, da realização de eventos e da divulgação da campanha. Sabemos que temos pela frente uma difícil tarefa, mas acreditamos que pela força do conjunto e pela solidariedade anarquista conseguiremos levar esta ideia a bom porto.

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