Memória Libertária: Emídio Santana


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Emídio Santana discursando na manifestação  anarquista do 1º de maio de 1977, na Praça da Figueira, em Lisboa. (AHS). Foto de Carlos Vidigal.

Emídio Santana foi uma das figuras de referência do anarquismo em Portugal durante todo o século XX e um dos elementos de ligação entre o anarco-sindicalismo do princípio do século e os novos movimentos libertários que apareceram no pós 25 de Abril, muito influenciados pelo Maio francês de 1968.

Emídio Santana nasceu a 4 de Julho de 1906 e nesse mesmo dia, trinta e um anos depois, foi um dos autores do único atentado que visou Salazar, tendo o ditador saído ileso, apenas devido a um erro de posicionamento da bomba (colocada num local da rua Barbosa do Bocage, em Lisboa. onde Salazar costumava passar diariamente), que desviou a onda de choque e não surtiu o efeito desejado.

Muitos militantes anarquistas foram presos nos dias que se seguiram ao atentado, mas Emídio Santana só será detido alguns meses depois, em Outubro, em Inglaterra, sendo entregue às autoridades portuguesas. Passa 16 anos na prisão.

Também nesse ano de 1937, na noite de 20 para 21 de Janeiro, com a guerra civil em Espanha já a decorrer, os anarquistas portugueses efectuam uma série de atentados contra diversos alvos, nomeadamente contra o Rádio Clube, uma estação de rádio que fazia abertamente propaganda à sublevação fascista e contra várias instalações estatais.

Mas a militância de Emídio Santana começara logo aos 15 anos como aprendiz de carpinteiro de moldes, filiado no Sindicato dos Metalúrgicos da CGT e secretário das Juventudes Sindicalistas.

Em Dezembro de 1931 aparece como director do boletim “Solidariedade Mineira e Metalúrgica”, porta-voz dos Sindicatos Mineiros e Metalúrgicos.

As prisões sucedem-se já na altura. Emídio Santana conhece a sua  primeira prisão, de sete meses, logo em 1928, com a ilegalização da CGT na sequência das revoltas de 1927. Sucedem-se os ataques a instalações e jornais operários.

Pouco depois da constituição da Federação Anarquista da Região Portuguesa, Santana é de novo preso e deportado  para os Açores, de Fevereiro de 1932 a Agosto de 1934.

Em 1936, um ano antes do atentado a Salazar, vai a Espanha, onde participa, em representação da CGT, no Congresso da CNT.

Depois de sair da prisão, Emídio Santana continuou a ser um elemento activo e agregador do que restava do movimento anarquista e anarco-sindicalista, muito debilitado devido à repressão que se abateu sobre ele, especialmente nos primeiros anos da ditadura. Esteve ligado aos grupos que durante o fascismo mantiveram tipografias clandestinas onde era impresso material anarquista (nomeadamente edições clandestinas da Batalha) e teve um papel fundamental na reedição de obras e textos operários da I República (sobretudo devido à sua forte ligação com o historiador César de Oliveira), textos esses que influenciaram fortemente muitos jovens que desconheciam esse período da história – totalmente proscrito do ensino oficial. Manteve também contactos importantes com outros sectores da oposição ao Estado Novo, tendo participado, enquanto anarquista, em diversas iniciativas oposicionistas.

Depois do 25 de Abril, com a ajuda e o esforço do pequeno grupo de anarquistas que se tinha mantido coeso durante os últimos anos do fascismo, Emídio Santana foi um dos principais impulsionadores da reedição de “A Batalha”, enquanto jornal sindicalista revolucionário e anarco-sindicalista e da criação quer da Cooperativa Editora da Batalha, quer da Aliança Libertária e Anarco-Sindicalista, quer do Centro de Estudos Libertários.

Nos primeiros anos depois do 25 de Abril, Emídio Santana foi também dos rostos mais conhecidos do anarquismo em Portugal, tendo usado da palavra em diversos comícios realizados em várias zonas do país.

Morreu a 16 de Outubro de 1988, sem nunca ter deixado a militância anarco-sindicalista de que foi um dos grande paladinos durante quase todo o século XX, tendo passado cerca de 20 anos na prisão por coerência com os seus ideais.

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