Contra a transformação do Forte de Peniche, espaço de deportação e luta antifascista, num hotel


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Militantes anarco-sindicalistas presos na Fortaleza de Peniche pela sua ação no movimento do 18 de janeiro de 1934. Texto datilografado de J. Francisco (?), fogueiro da Marinha Mercante,  em folha A4 que acompanha as fotos: “ Fortaleza de Peniche – 1936. Um dia de visita. Os presos que fazem parte desta foto, na sua maioria militantes cegetistas, cumprindo penas várias ou detidos sem culpa formada, após o 18 de janeiro de 1934, pertencem a todas as regiões de Portugal, desde o Algarve ao Norte do país e das mais variadas profissões: camponeses, conserveiros, construção civil, alfaiates, comércio, etc. Entre os que puderam ser identificados encontram-se: José Francisco, ao lado de sua mãe, que por unanimidade de todos resolveram que figurasse na foto, com os seus 83 anos de idade; Barnabé Fernandes, do Barreiro; José Quaresma, de Setúbal, Jorge Viancad R Raposo, da Juventude Libertária de Lisboa. António Inácio Martins, anarquista do Porto, José Bernardo, de Setúbal”.

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Militantes cegetistas presos em Peniche (1934.1935). Na sequência das prisões que acompanharam e sucederam ao movimento do 18 de Janeiro de 1934, foram presos muitos militantes confederais. Na imagem encontramos um grupo de militantes presos no forte de Peniche. Sentado ao centro, encontra-se “Manuel Joaquim de Sousa. À sua esquerda, José Francisco; à direita, António Inácio Martins. De pé, da esquerda para a direita: José António Machado, José Vaz Rodrigues e José Mestre Vargas Júnior, este morto na Guerra Civil de Espanha.” (No verso da fotografia)

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Grupo de presos políticos na fortaleza de Peniche (1934). Texto datilografado de J. Francisco: “ Fortaleza de Peniche – 1934. Ao centro: Manuel Joaquim de Sousa, que foi o primeiro Secretário Geral da C.G.T. Da esquerda para a direita, sentados: José Francisco, do Secretariado da C.G.T. em 1933; António Inácio Martins, regressado da deportação em Angola, mas detido em Peniche. De pé, e pela mesma ordem: José António Machado, da Juventude Libertária; José Vaz Rodrigues, falecido na Penitenciária de Coimbra, onde cumpria pena por estar envolvido no atentado a Salazar; José Mestre Valadas Ramos, militante rural alentejano, morto em combate na Guerra Civil de Espanha, participando nas Milícias da C.N.T.”

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Postal com a imagem do Forte enviado pelo corticeiro e militante anarco-sindicalista Reis Sequeira, de Silves, preso em Peniche, à família no Algarve, em 15/9/1936

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O Governo anunciou que pretende alienar, entre outros edifícios do Estado, a fortaleza de Peniche, eventualmente para a construção de uma unidade hoteleira. Pela Fortaleza de Peniche, uma das bárbaras prisões políticas do Portugal de Salazar, passaram centenas de antifascistas, entre os quais muitos anarquistas e anarco-sindicalistas. A memória destes homens e da sua luta devia ser preservada – e não destruída – e o local transformado num Museu ou num espaço de reflexão e combate contra a intolerância, as injustiças e as perseguições, quaisquer que sejam as suas justificações. Nunca num hotel.

(fotos e textos das fotos aqui: http://mosca-servidor.xdi.uevora.pt/projecto/index.php?option=com_jumi&fileid=9&p=digitallibrary&q=Peniche)

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