Guilhotina.info: “De nada vale ser um puritano conceptual e um inútil na prática”


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Há um ano atrás quatro projectos e canais informativos, na web e em papel, juntaram-se e criaram uma rede de partilha e troca de informações. Guilhotina.info, jornal Mapapt.indymedia e Portal Anarquista formam esta rede que, apesar de todas as dificuldades, pretende romper o gueto informativo em que a comunicação e a informação anti-autoritárias, de base assemblearia, sempre tem vivido em Portugal. Como base para um artigo a ser publicado na próxima edição do jornal “A Batalha” sobre a Rede de Informação Alternativa pedimos a cada um destes projectos a resposta a um pequeno questionário. Começamos agora a publicar as respostas recebidas. Depois do jornal MAPA e agora da Guilhotina.info, seguir-se-ão as da pt.Indymedia e Portal Anarquista.

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Quando, como e porquê surgiu a Guilhotina.info?

No Verão de 2013, a convite de activistas do 15M (Espanha), várias pessoas ligadas a projectos de comunicação portugueses, tais como Indignados Lisboa, Democracia Verdadeira Já e Ministério da Verdade, participam numa semana de partilha de conhecimentos e aprendizagens nos arredores de Madrid.

Lá descobrem alguns factos interessantes. Primeiro, que já se conheciam todos indirectamente via troca de conteúdos entre os diferentes projectos.

Segundo, que ninguém na Itália, Grécia, Espanha e Irlanda faz a mínima ideia do que se passa em Portugal. Quanto ao vice-versa, já sabíamos ser o caso.

Terceiro, que ainda tínhamos muito a aprender em termos do uso criativo da Internet para comunicação e coordenação, tendo em conta todos os projectos interessantes dos companheiros do Estado Espanhol.

Decidimos então que esta era a oportunidade perfeita para conjugarmos o nosso trabalho, as nossas preocupações em estabelecer pontes de comunicação internacionais (daí o bilinguismo) e tudo o que havíamos aprendido num só projecto. Nasce a Guilhotina.info.

Como veêm hoje a informação alternativa em Portugal?

Ainda pequena, frágil, inconstante…, mas se estiver nas mãos de um grupo de pessoas motivadas e ambiciosas, ainda que trabalhem conforme a sua disponibilidade, pode permitir criar verdadeiras alternativas de informação, capazes de fazerem estragos.

O espaço alternativo e assembleário constituiu-se em Portugal (e Espanha) nos últimos anos em torno dos movimentos de rua e de ocupação de espaços públicos. Houve manifestações aguerridas, que hoje parece não terem condições para se repetirem. Como veêm actualmente este movimento assembleário, de junção de lutas, e alternativo ao sistema representativo vigente?

É preciso ir para além do assemblearismo puramente pelo assemblearismo e parar de tentar recriar o 15M. O momento de 2010-2012, ligado à politização de uma geração que subitamente se viu privada de todas as certezas que lhes tinham sido prometidas pelo pacto social, já passou. Ao lançarem-se novas iniciativas que tomem a assembleia como modelo de organização (ao contrário de um fim em si) é preciso que estas estejam ligadas a lutas específicas (habitação, saúde, educação, etc.), em coordenação com espaços específicos (bairros, universidades, locais de trabalho), ou estarão condenadas a uma rápida dispersão derivada da desmoralização com a falta de resultados concretos, objectivos vagos e guerras internas que daí derivam. Este modelo sofre também com a guerra externa levada a cabo pelo aparelho repressivo, que já aprendeu a não dar tempo à ocupação do espaço público antes de passar ao ataque.

Perspectivas futuras para os movimentos anti-autoritários, horizontais e de acção directa em Portugal? E para a comunicação social alternativa?

Continua a grassar uma enorme falta de capacidade de aprendizagem e de auto-disciplina nos movimentos em Portugal. Fazer parte de um movimento anti-autoritário e horizontal não é uma desculpa para cada um fazer o que lhe dá na cabeça, achando que vai dar tudo ao mesmo – se aparece ou não nas reuniões, se cumpre as suas tarefas ou não, conforme o apetite do momento.

É preciso que quem aspira a estar presente nestes movimentos, primeiro que tudo, estude movimentos idênticos,que partilham ambições semelhantes  e que, ao mesmo tempo, conseguiram alcançar vitórias. Como se estruturam? Como cresceram? Quais as suas tácticas e estratégias? E por aí fora. De nada vale ser um puritano conceptual e um inútil na prática.

O que é que os vossos meios ganharam com a constituição da Rede de Informação Alternativa? Projectos futuros.

A rede de informação alternativa foi para nós um primeiro passo para abrir linhas de comunicação entre diferentes projectos que achámos interessantes e com os quais gostaríamos de colaborar. Já deu frutos na forma de partilha de conteúdos, rapidez de resposta na coordenação, assim como na organização de eventos, tal como o encontro em Coimbra no qual participaram também a La Directa, Periodico Diagonal e Radio Vallekas, oriundos do Estado Espanhol.

Conforme os diferentes projectos vão ganhando estabilidade e reforçando os seus meios e contactos, abrir-se-ão mais oportunidades para colaboração entre estes.

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