(Évora) Em tempo de crise: hortas urbanas são alternativa para muitas famílias


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A ideia da criação das hortas urbanas não é nova. Em muitas cidades da Europa é uma prática que já se mantém há longos anos e, mesmo no Alentejo, o hábito das pequenas hortas no tecido urbano nunca se perdeu, ou mantendo hortas antigas em funcionamento ou aproveitando terrenos sem ocupação, no espaço urbano, como aconteceu logo a seguir ao 25 de Abril junto ao Hospital de Beja. Já nesses tempos recuados, o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles, na sua vertente ecológica e paisagística, defendia a criação de hortas urbanas nas grandes e médias cidades.

Vários anos passados, este movimento tem crescido muito por todo o país e também em Évora. Umas vezes por iniciativa popular, outras por pressão dos munícipes junto das Câmaras e Juntas de Freguesia.

Em Évora depois de terem sido criados os primeiros 69  talhões, há um ano,  junto do Aqueduto, foram agora entregues mais 138 numa nova zona de hortas, junto ao Forte de Santo António, na periferia da cidade.

Está prevista a criação de novos espaços dedicados às hortas urbanas, um pouco por toda a cidade, embora o acesso a água sem custos para os utilizadores esteja a condicionar alguns dos projectos.

Novos e menos novos hortelãos consideram que esta é uma actividade que traz grandes vantagens, desde o ponto de vista ambiental, até ao económico.

“Vamos menos vezes ao supermercado comprar verduras e sabemos o que estamos a comer”, acentua um entusiasta do processo.

Apesar do ano ter estado chuvoso e de só agora começar verdadeiramente o trabalho nas hortas, há também quem destaque a “actividade física que ele proporciona e o contacto com a natureza”.

“Isto é fantástico. Às vezes vêm aí os miúdos das escolas e ficam encantados com isto”, diz o mesmo interlocutor, frisando, no entanto, alguns aspectos negativos.

“Há pessoas que vão para ali e defendem o seu bocado de terra como fosse algo de muito valioso. Têm um sentido de posse e de individualismo muito grande, o que é mau. Outros não: partilham o que sabem e o que têm, por todos, e cria-se uma grande camaradagem, sendo mais fácil aprendermos uns com os outros”.

Este sentido comunitário pode e deve ser desenvolvido, bem como o uso de técnicas não agressivas do meio ambiente, como seja, a redução no uso de fertilizantes e pesticidas químicos e a procura de sementes diversificadas, enriquecendo e desenvolvendo outras variedades que não apenas aquelas que, mais rentáveis, a economia de mercado, ávida de lucro,  promove.

Numa altura de crise económica, com muito desemprego, a possibilidade de se produzirem bens alimentares para autoconsumo não é também insignificante para muitos agregados familiares a quem, tantas vezes, falta o pão.

Para além destas hortas, postas à disposição dos interessados pelos poderes públicos, seria útil também a ocupação produtiva dos inúmeros espaços vazios das cidades, nomeadamente baldios, de forma cooperativa e, aí sim, comunitária.

Este é um processo que, no entanto, está em desenvolvimento e cada vez com mais capacidade de atracção para jovens e menos jovens, tal como o sistema de trocas, os espaços de entreajuda ou os muitos grupos, de todo o género, que caminham para um funcionamento em rede.

Muitas vezes estas iniciativas destinam-se a “humanizar” os aspectos mais negativos do capitalismo, mas noutros casos podem ser o gérmen de novas formas de relacionamento e de produção e passos importantes na construção de uma sociedade menos egoísta e mais solidária.

a.

aqui: http://issuu.com/a.directa/docs/accaodirecta6/1

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