(Ucrânia) Declaração da Organização Autónoma de Trabalhadores sobre a actual situação política


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Há uma semana (a 16 de Janeiro)  o Parlamento ucraniano aprovou uma série de leis destinadas a limitar a liberdade de expressão e o direito dos cidadãos a manifestarem-se. Um dos pontos aprovados foi a emenda ao Código Penal que proíbe o que chama de “extremismo”. Nesta emenda “incitar à discórdia social”  é considerado “extremismo” (aqui). Os confrontos de rua têm sido de extrema violência nos últimos dias, falando-se já numa dezena de mortos. A Organização Autónoma de Trabalhadores da Ucrânia, anarco-sindicalista, considera que  está em marcha um processo ditatorial, que pretende limitar os direitos dos cidadãos e restringir o direito aos protestos.

Declaração da Organização Autónoma de Trabalhadores da Ucrânia sobre a actual situação política naquele país

As leis que foram aprovadas no dia 16 de janeiro mostram que a facção da classe dominante, que agora controla o governo, está pronta para instalar uma ditadura da burguesia reaccionária, segundo o modelo dos regimes latino-americanos da década de 1970. As “leis da ditadura ” criminalizam qualquer protesto e limitam a liberdade de expressão; responsabilizam também o “extremismo”. Os porta-vozes parlamentares desta espécie de ditadores da burocracia corrupta e da burguesia monopolista são o Partido das Regiões e o chamado Partido “Comunista” da Ucrânia que desde há muito tempo se transformou numa força política ao serviço dos interesses do capital.

O sistema repressivo ucraniano apoia-se nos aparelhos policiais e gangues de rua constituídos por stormtroopers pró-governo. Às vezes, essas estruturas paramilitares são comandadas por policias reformados. Os esquadrões da morte também estão em acção. De acordo com informações confirmadas, duas pessoas foram sequestradas de um hospital e torturadas. Um deles morreu numa floresta. As forças especiais localizam com precisão quem querem atingir entre os manifestantes, e não apenas com armas não letais. Uma das pessoas mortas, de acordo com uma foto do corpo, foi baleada no coração. Segundo todas as indicações ele terá sido vítima de um franco-atirador. Na manhã do dia 23, o número de mortos era já entre 5 e 7 pessoas. E não sabemos ainda a real dimensão da violência.

A ideologia do regime no poder é uma mistura de nacionalismo à Putin , teorias da conspiração e a convicção que, como elite, têm o direito de dirigirem  a populaça ignorante. Os grupos de apoio à Berkut (a principal força policial anti-motim), nas redes sociais, estão cheios de artigos anti -semitas, que afirmam que os líderes da oposição são judeus e querem viciar as pessoas através da legalização de casamentos do mesmo sexo . Isso dificilmente difere da retórica de radicais direito ucranianos. O que em pouco difere da retórica dos radicais de direita ucranianos.

Ao longo dos últimos dias, não só a extrema-direita tem afrontado o governo, mas também pessoas com visões mais moderadas. E eles constituem a maioria dos manifestantes. Muitos deles são indiferentes ou têm uma predisposição negativa face ao nacionalismo. Muitos deles não apoiam a integração na UE. As pessoas saem para as ruas para protestar contra a violência policial. E uma parte significativa delas fá-lo sem entusiasmo ou mesmo com cepticismo relativamente aos confrontos na rua Grushevskogo (onde se têm dado os principais confrontos entre os manifestantes e a polícia NdT). Muitas vezes, ouve-se dizer que os radicais de direita são um “cavalo de Tróia” de Yanukovych e dos serviços especiais, destinados a desacreditar o protesto. Certamente haveria muito mais habitantes de Kiev a participarem nos protestos se houvesse uma forma de tirar das ruas esses idiotas úteis para o governo. A principal das suas reivindicações é que lhes dêem empregos nos Serviços de Segurança da Ucrânia após a ” revolução vitoriosa”.

É necessário que os anarquistas participem nas manifestações e nos piquetes em defesa dos direitos e liberdades usurpados pelas leis de 16 de Janeiro. Faz todo o sentido agir nos locais de trabalho ou de residência para ajudar a sabotar as decisões da ditadura. Não há muita razão para participarem  nas acções realizadas na rua Grushevskogo, que já desde o início não faziam nenhum sentido . Essas acções servem apenas para dar ao governo imagens para a televisão e para melhor identificar os elementos radicais, localizando os seus telemóveis e filmando-os .

Quer no caso de vitória da oposição , quer no caso de vitória do governo, vamos ter que travar uma longa e dura guerra contra qualquer um desses regimes. Isto deve ser compreendido. Precisamos reunir forças para começar a determinar a nossa própria agenda libertária e proletária na política ucraniana .

Nem deuses, nem mestres! Nem nações, nem fronteiras!

Organização Autónoma de Trabalhadores da Ucrânia

23/1/2014

traduzido daqui: http://avtonomia.net/2014/01/23/awu-statement-current-political-situation/

tradução: Portal Anarquista

relacionado: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2014/01/22/ucrania-a-classe-operaria-como-classe-nao-participa-de-modo-algum-nestes-acontecimentos/

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